Texto porVictória Silva
Jornalista, Santos

Empatia em tempos de coronavírus: histórias para se inspirar

Quando acorda todas as manhãs, Carlos Eduardo Barros vai até a sala e liga a TV.

Só então ele volta ao banheiro para tomar banho, veste o uniforme e vai passar seu café na cozinha. O ritual de uma vida foi interrompido nas últimas semanas. Não por conta do home office, já que ele segue trabalhando normalmente apesar do isolamento social. Ele tem evitado os noticiários. 

De acordo com o porteiro, quanto maior o número de informações maior era seu medo de sair de casa.

“Eu entendendo que as notícias têm que ser dadas e continuou consumindo informação de veículos nos quais confio. Mas faço isso menos. Agora vejo jornal só uma vez por dia, na hora do almoço”, explica.

Essa mudança de hábito fui intuitiva. Mas é o que muitos psicólogos indicam a quem quer manter a saúde mental em dia nesses tempos. Aliás, não ficar vendo os números do coronavírus o tempo todo e, ao mesmo tempo, consumir notícias positivas.

E por acaso existem boas notícias em tempos de coronavírus?

Essa foi a pergunta que Carlos se fez quando ouviu essa dica. E talvez você também esteja se questionando – com o número de casos crescendo exponencialmente em Santos e pesquisas dizendo que aqui o risco de disseminação do vírus é maior, como ser positivo?

www.juicysantos.com.br - histórias de empatia em meio à pandemia do covid-19

Histórias de empatia em tempos de coronavírus também estão se multiplicando aqui na região. Ou seja, é possível consumir notícias que, no lugar do desespero, trazem uma pontinha de esperança.

O mercadinho e a empatia em tempos de coronavírus

De início, Carlos teve dificuldade de lembrar de uma notícia positiva que tivesse o impactado nos últimos dias. Então lembrou da história do mercadinho perto de onde trabalha.

“Eu não vi no jornal da hora do almoço e nem nas páginas do Facebook, mas acho que poderia ser uma notícia boa viu?”, comenta.

O mercado em questão é o Frescô, em Praia Grande. Em resumo, logo quando a quarentena começou na região, uma mesa solidária foi montada no estabelecimento. Por lá, a regra é simples: quem pode, faz doação de alimentos e quem está numa situação de vulnerabilidade, retira. Se você não é cliente do mercado, pode levar itens de casa ou então comprados em outro lugar.

A ideia é compartilhar alimentos, não aumentar as vendas

Talvez em uma das idas do Carlos ao mercado ele tenha esbarrado com Luciana Macedo.

A moradora de Praia Grande faz bolos e os distribui entre os funcionários do prédio onde mora e também compartilha com os coletores de lixo, no hospital da cidade e em outros endereços próximos.

Segundo ela, os agradecimentos são abraços que sabe que receberá muito em breve.

O que fazer quando o distanciamento é impo$$ível

Além de diminuir o consumo de notícias, Carlos também está usando máscara e luvas enquanto trabalha e anda com uma garrafinha de álcool gel na mochila. Ele tem medo de sair na rua, mas diz que teria tanto pânico quanto de ficar em casa caso fosse demitido. As contas, segundo ele, não perdoam.

Há casos, como o dele, nos quais ficar em casa não é uma possibilidade. Porém, existem pessoas que não têm escolha de trabalhar ou a possibilidade de continuar a rotina em casa.

Na última semana, o Governo Federal liberou um auxílio emergencial de R$ 600 para essas pessoas. Antes disso, o RecurS.O.S Solidários já estava pensando em como ajudar esses casos. O projeto, nascido aqui em Santos, tem o objetivo de arrecadar fundos para profissionais liberais e pessoas em situação de vulnerabilidade em Santos e região. Em resumo, funciona assim:

  • Quem precisa de ajuda se cadastra online;
  • Quem conhece alguém também pode indicar através do mesmo cadastro;
  • E então uma triagem é feita para entender a necessidade de cada um;

E, em paralelo, aqueles que podem fazem doações periódicas (de acordo com suas possibilidades) em uma vaquinha online. Todo o valor é destinado aos cadastrados. De acordo com Gabriel Miceli, advogado e responsável pelo projeto, as arrecadações vão continuar até que a situação se normalize.

O ‘tio’ da pipoca tem a ajuda do RecurS.O.S Solidários. E o pessoal dos cortiços de Santos também recebe ajuda, nesse caso do Cortiços Contra o Corona. Basicamente, o pessoal monta kits com itens de higiene pessoal – como sabonete, escova de dentes e absorvente – e cestas básicas e distribui entre os moradores dessa região da cidade.

Assim como o RecurS.O.S Solidários, o projeto precisa de ajuda para acontecer. Dá para doar itens de necessidade básica ou então de dinheiro (em qualquer quantia).

Pela vida do nosso povo

Além disso, quatro entidades da região – Instituto Elos, Procomum, Fórum da Cidadania e Arte no Dique – se uniram no Baixada Santista pela Vida.

Com uma meta de arrecadar R$ 330.000 para grupos de risco e vulnerabilidade social, o fundo tem opções de doações que vão de R$ 55 até R$ 300 – esta última quantia pode apoiar uma família ou um trabalhador informal por um mês inteiro.

Quando o isolamento é enlouquecedor

Carlos sentiu que assistir os jornais estava o fazendo mal e parou automaticamente. Segundo ele, o medo diminuiu e agora está num nível ‘bom’.

“Eu ainda tenho medo. Mas agora é o medo que me lembrar de usar máscara, de não visitar a minha mãe e de lavar meu uniforme assim que chego em casa. Acho que o medo que todos deveriam ter”, explica.

Para quem não conseguiu se controlar sozinho, tem terapia gratuita acontecendo via Skype. Vários psicólogos e terapeutas do Brasil estão oferecendo seus serviços gratuitamente em alguns horários do dia.

Ana Maria Rocha, da Casa Florescer, está nessa lista. A profissional de São Vicente vem atendendo de segunda a sexta-feira, das 9 às 11 horas e também das das 13 horas às 17 horas. Os interessados devem agendar o horário no WhatsApp.

Para além da ajuda psicológica, existem casos de quem está fazendo home office com as crianças em casa.

Enlouquecedor, né?

Nesse sentido, Camila Genaro, contadora de histórias aqui de Santos, tem uma maneira de aliviar as mamães e papais – mesmo que momentaneamente. Todos os dias, às 15 horas, ela faz lives com contação de histórias.

Consuma boas notícias em tempos de coronavírus

Para ajudar pessoas como Carlos, que amam estar informadas mas não aguentam mais ver gráficos, o The Good News Coronavirus é uma boa válvula de escape. O site reúne várias notícias lindas desse momento difícil que estamos passando no Brasil e no mundo.

Tem, por exemplo, a história do Vizinho Amigo.

A iniciativa convida todos ao pensamento coletivo ao se oferecer para ajudar vizinhos que pertencem ao grupo de risco com as compras ou outras necessidades. E também a história da Ashley Lawrence, americana que percebeu que o uso de máscaras dificultava a leitura labial de pessoas com  surdez e problemas de comunicação e desenvolveu uma máscara transparente para solucionar esse problema.

Neste sentido, aliás, um grupo de estudantes de Santos está produzindo máscaras de proteção do tipo escudo para profissionais dos hospitais e unidades de Pronto-Atendimento (UPA) da cidade, sabia?

A confecção das máscaras, que acontece na Esamc, tem coordenação dos professores Allan Degásperi, Alessandro Lopes e Renato de Marchi e ajuda dos alunos de Engenharia e Arquitetura – que atuam de forma remota. Inicialmente, serão serão produzidas 600 máscaras. Mas, de acordo com a divulgação, o grupo fará uma análise da capacidade de produção x demanda necessários para o projeto seguir adiante enquanto necessário.

“Às vezes a notícia boa está bem na nossa frente, né? Eu não tinha parado para pensar nisso”, comenta Carlos, que promete ficar atento às histórias de empatia em tempos de coronavírus a partir de agora.

Protegendo Sorrisos

Da mesma forma, a dentista Rose Marques não tem poupado esforços na confecção de máscaras para quem está na linha de frente do combate ao COVID-19. Ela adaptou um modelo de máscara de acetato a partir de um design que conheceu na Alemanha.

Junto com sua rede de voluntários incansáveis, Rose faz a arrecadação de fundos para a matéria-prima e a distribuição nos serviços de saúde da região. Até agora, o grupo doou mais de 12 mil viseiras de acrílico na cidade.

Para ajudar na compra de insumos para as máscaras da cirurgiã, você pode fazer sua doação neste link.

No Juicy Santos, nós também estamos de olho em todas elas e, sempre que encontramos algo, contamos aqui no site ou no nosso Instagram.

Se você souber de uma história inspiradora que aconteceu nas últimas semanas, conta pra gente nos comentários 🙂