5 fatores urbanos que atrapalham a vida de um deficiente visual
(para ler ouvindo Música Urbana, do Capital Inicial)
Bater a cara no poste, pisar no cocô dos dogs ou ficar esperando 10 minutos para atravessar a rua é uma realidade que grande parte dos cegos que transitam sozinhos por aí enfrentam quase todos os dias. E eu me incluo nela.
Afinal, não temos os superpoderes do Demolidor, aquele personagem dos quadrinhos e da série da Netflix que anda com a máscara preta e a bengala vermelha pelas ruas de Nova Iorque.
Cada cidade tem seus problemas de acessibilidade, mas nesse artigo eu vou falar sobre as principais questões que aparecem em nossa frente e não “vemos. ”
De um lado, há o cego que passa por maus bocados. Do outro, há você que, possivelmente, não tem convivência conosco, mas tem a curiosidade de entender o que acontece em nosso cotidiano. Aposto que depois de ler, sua visão mudará da água para o vinho.
Como funciona o processo de mobilidade para pessoas com deficiência visual?
Vamos destrinchar a jornada de uma pessoa com deficiência visual para andar pelas ruas sozinha.
Tudo começa com a permissão dos pais super protetores que permitem a saída do casulo, mas chorando em posição fetal – ou isso ocorre de forma mais rebelde e imposta como aconteceu comigo.
Depois, em alguns casos existem aqueles que fazem aulas de OM, (orientação e mobilidade) e alguns que vão sem medo. Desses dois jeitos, não existe uma preparação para o que está por vir.
Independente da forma que essa parte da vida tenha início, existem fatores que nos apavoram nos becos e vielas.
Vou mostrar 5 fatores urbanos que atrapalham a vida de um deficiente visual a seguir:
1. Os cachorros não têm culpa
Claro que não dá para saber se quem fez cocô ali naquele cantinho da calçada no qual rodamos a bengala foi algum pet de rua ou o seu cãozinho, mas tem várias pessoas que não levam a sacolinha para catar as fezes e nós literalmente ficamos na merda. Já briguei com uma amiga por isso, inclusive.
2. Olha o ônibus!
Quando você resolver ajudar um cego a pegar um ônibus e precisar sair se o seu transporte chegar primeiro, avise, pois saberemos que iremos ter de pedir auxílio a outra pessoa.
3. Não deduza nada
Esses dias, me sentei no banco do ônibus ao lado de uma senhora, e ela me perguntou se eu iria para o Lar das Moças Cegas, então educadamente respondi que não. Moral: não é porque somos cegos que precisamos estar a todo momento em uma instituição para pessoas com deficiência. O que me levou a entender melhor esse questionamento foi o fato de ela ser uma “senhora”.
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4. As famosas botoeiras
Aqui em Santos especificamente há algumas destas belezinhas pela cidade, porém a distância entre elas é enorme, muitas não funcionam e alguns indivíduos não têm bom senso, portanto passam no sinal vermelho. Eu não confio.
5. Buracos em obras
A sinalização nesse tipo de lugar é muito importante para não ocorrerem acidentes graves, como foi o caso da professora de uma escola em São Vicente que estava andando na rua, caiu no buraco da Sabesp, e não ganhou a causa.
Como dá pra perceber, há algumas atitudes que você tem como mudar, e outras questões são parte de ações maiores do poder público e do empresariado local para melhorar a acessibilidade urbana para deficientes visuais.
Estou de olho, hein?
Por Mariana Romano Rocha, jornalista, youtuber e deficiente visual