Texto porVictória Silva
Jornalista, Santos

Elas no audiovisual: as santistas que fazem cinema pro Brasil ver

O cinema é um amor dos santistas já faz tempo.

A sétima arte chegou por aqui em junho de 1897, apenas dois anos depois de surgir na França. E, desde então, a cidade e o cinema nunca mais se separaram. Como nos clássicos roteiros, uma história de amor tão longa não poderia ter outro fim senão filhos, não é mesmo?

E, quando o assunto é cinema, não faltam talentos nascidos por aqui. Da crítica à produção, tem santistas em todos os setores do audiovisual.

Mas hoje nós vamos falar só sobre a mulherada que está mandando bem nesse assunto.

www.juicysantos.com.br - mulheres no audiovisual - mulher com roupa vintage e câmera vintage em fundo verde

Elas no audiovisual

Antes de mais nada, vamos explicar o motivo de falar sobre essas minas.

Um estudo divulgado pela Ancine (Agência Nacional do Cinema), mostra que, até 2015, as mulheres somavam 40% da força de trabalho do cinema brasileiro. Assim como em outros setores, recebiam em média 13% menos que os homens.

Ainda de acordo com essa pesquisa, apenas 20,3% dos filmes lançados em 2016 tiveram uma direção feminina e metade deles eram documentários. Ou seja, filmes de menor orçamento.

“Eu já trabalhei em vários setores do audiovisual. Às vezes a equipe é predominantemente masculina. Se você está na direção, é necessário provar pros caras que você sabe o que está fazendo, sabe o que quer… Tem uma questão de convencimento dos caras, antes de mais nada. São dois trabalhos”, comenta Raquel Pellegrini, professora e profissional atuante no audiovisual em Santos.

Em sua experiência, Raquel diz que ver o crescimento do número de mulheres no set. Mas o machismo segue firme.

Um festival feito por elas, mas não só para elas

A partir dessa mesma percepção nasceu, em 2016, a Mostra das Minas. Um festival de cinema que tem como objetivo dar luz às mulheres que estão mandando bem no audiovisual. Desde então o evento teve 15 edições e exibiu inúmeros filmes com direção de mulheres – tanto de Santos quanto de outras regiões do Brasil.

“No início, estávamos dentro do Encontro Audiovisual Caiçara. Éramos três mulheres a frente do evento e surgiu a ideia de deixar um dia para os nossos filmes. Nesse dia, tivemos uma roda de conversa sobre mulheres no audiovisual e nasceu a ideia de fazer um festival”, explica Yasmin Alvarez, uma das organizadoras.

Segundo ela, em cada ano, o festival teve um modelo diferente. Sendo que, por exemplo, no primeiro, as edições eram mensais. E, em 2019, o rolê aconteceu apenas uma vez. Em 2020, por conta da pandemia, as exibições foram online. Mas há esperança de fazer um encontro pessoalmente, assim que o coronavírus permitir.

Em comum, todas as edições do evento tiveram diversas mulheres interessadas em expor seus trabalhos.

“Eu não cheguei a mandar nenhum trabalho, pois não tenho nada finalizado ainda, mas é um objetivo pessoal expor na mostra um dia”, comenta Joyce Souza, estudante de audiovisual.

Ao mesmo tempo, o evento carrega o estigma de que, por serem filmes de mulheres, eles automaticamente seriam sobre feminismo ou apenas para outras minas. Algo que Yasmin relata com tristeza e que mostra, mais uma vez, a necessidade de convencimento que Raquel diz presenciar todos os dias.

Estamos lá, mas não somos muitas

Enquanto os filmes da Mostra das Minas têm equipes em maior parte de mulheres, na indústria, as coisas ainda não são tão equiparadas. Quem olha a ficha técnica de uma superprodução repara que algumas funções seguem sendo dos homens e que outras têm mulheres, porém nem sempre muitas.

Se você colocar sua TV na Netflix e for assistir, por exemplo, Samantha! ou Sintonia, vai encontrar uma mina no tima de roteiro. Estamos falando da Luiza Fazio, santista e vem arrasando nos roteiros de produções para a Netflix e Amazon.

www.juicysantos.com.br - samantha netflix luiza fazio

“Geralmente, as salas de roteiro têm mais homens do que mulheres. Mas isso está mudando, vejo uma preocupação das produtoras em ter mulheres na equipe. Às vezes, os próprios canais fazem essa exigência”, comenta.

Em seus trabalhos, Luiza nunca sentiu um tratamento diferente por seu mulher. Mas diz ter sido privilegiada de estar em equipes nas quais teve voz e conseguiu compartilhar e emplacar ideias. Segundo ela, nem todas as profissionais relatam a mesma vivência.

Thilla Bonano trabalha com produção e viveu a mesma coisa.

A santista, formada em cinema e audiovisual na São Judas, conta que iniciou a carreira na cidade. Atuou como voluntária do Curta Santos e de todos os eventos divulgados pelos professores. Mais tarde, migrou para São Paulo e continua por lá até o momento.

Assim como Luiza, ela trabalhou em séries da Netflix, em programas de culinária e na edição israelense do Power Couple.

“Tive o privilégio de ter sido dirigida por mulheres em alguns projetos, mas o cargo de direção ainda é majoritariamente ocupado por homens. Isso também acontecem com setores que envolvem mais mão de obra pesada – como maquinaria, contrarregra e elétrica, por exemplo”, comenta.

Ludmilla Rossi, cofundadora do Juicy Santos, também mergulhou de cabeça em projetos de audiovisual desde o início dos anos 2000. Dirigiu clipe premiado do Charlie Brown Júnior, fundou a produtora Mokoto, roteirizou e produziu diversos filmes de ficção e documentários, como Pink, sobre a boate Pink Panther.

Em 2016, olhou para dentro do universo feminino com o delicado Papéis de Adélia, que você assiste na íntegra abaixo:

Conhece mais minas incríveis que estão fazendo cinema e audiovisual em Santos? Indique pra gente nos comentários!