Texto porFlávia Saad
Santos (SP)

Santos é uma cidade boa para criar os filhos?

Perto da praia, com um custo de vida mais razoável do que a capital e uma estrutura de educação, saúde e lazer que está entre as melhores do país. Na teoria, a cidade tem tudo que pais e mães querem proporcionar às suas crias. Mas será que Santos é uma cidade boa para criar os filhos? Esta pesquisa de 2024 diz que não.

E mais: Santos está entre as piores cidades do Brasil quando se fala em um ambiente ideal para famílias em crescimento. O município ocupa o 663º lugar na lista

O Ranking Melhores Cidades do Brasil para ter Filhos, da Mapfry (startup de geomarketing que realiza estudos populacionais usando dados do IBGE), aponta que, mesmo com a proximidade com a natureza e outras comodidades, como o tamanho da cidade, Santos ocupa uma má posição no ranking que tem uma metodologia parecida com o IDH (Índice de Desenvolvimento Humano).

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Mas como se chegou a essa conclusão?

João Caetano, CEO da Mapfry e professor de geomarketing nos MBAs da USP e da ESPM, explica:

“Usamos dados do IBGE que indicam o desempenho da educação local e outros serviços públicos como coleta de lixo, tratamento de esgoto e número de cômodos por moradia”.

E essas são algumas das conclusões do levantamento em relação a Santos – que estão bastante alinhadas com o que registramos e reportamos aqui nos conteúdos do Juicy Santos e nos nossos podcasts:

  • O crescimento populacional é um problema na região. Isso porque a proporção de nascimentos é baixa em relação à população total;
  • Por não ter tanta geração de oportunidades de trabalho – e não ser um local barato para se viver – quem se muda para a cidade provavelmente não vai com o foco de desenvolvimento familiar;
  • A especulação imobiliária local está associada às pessoas na fase de não mais ter filhos (idosos) se mudando para a região;
  • A Baixada Santista tem boa média de renda – Santos, a mais rica, tem 75% das famílias nas classes A, B e C. Itanhaém, com menor renda, tem 48% (o que é um bom indicador, mesmo assim). Porém, como a pesquisa associou dados de renda ao desenvolvimento escolar, e a proporção de crianças na cidade é baixa, o indicador de renda não ajudou a região a subir no ranking.

Uma cidade boa para as mães é boa para todos

O bem-estar feminino está associado às “ilhas de fecundidade”. A flexibilidade geográfica tem feito com que as famílias possam planejar o nascimento de filhos em locais que ofereçam bem-estar e acesso a serviços básicos de qualidade.

E o que isso quer dizer? Que o trabalho remoto proporciona carreiras ativas em qualquer lugar. Santos e região, por não oferecerem diversidade no mercado de trabalho, acabam gerando uma “fuga” de famílias em idade fértil.

“Já vimos no exterior que políticas públicas em que o governo dá berços e fraldas a casais não incentivam a natalidade. Mas onde a família se desenvolve, surge o espaço para crianças. O trabalho remoto é um fator importante no cenário atual para que casais possam escolher viver em cidades com maior qualidade de vida, possibilitando o aumento na natalidade”, afirma Caetano.

As melhores cidades no topo do ranking têm um perfil de “interior”, são de porte médio e estão nos arredores das grandes cidades.

Ou seja, Santos se qualificaria – não fosse o fato de que está há décadas mandando seus talentos embora. Além disso, está bem claro, com a mobilização de movimentos como o Fórum Maternidade e Infância na região, que a criação e manutenção de políticas públicas é que vai tornar o território mais fértil – em todos os sentidos.

Um bom exemplo no Brasil é Nova Lima (MG), primeiro lugar no ranking. Lá, existe o maior equilíbrio entre custo de vida e oportunidade de ganhos, criando um ambiente favorável para o nascimento de crianças. De acordo com o pesquisador, no próximo Censo, é provável que cidades desse perfil crescam (mesmo que em um ritmo menor que em décadas passadas).

“O objetivo da análise não é promover uma visão etarista da sociedade. No entanto, crianças são um indicador de crescimento econômico em nossa pesquisa. Nosso objetivo é mapear em quais locais do Brasil há maior otimismo, observando quais devem crescer mais nos próximos anos”, diz Caetano.

Acesse o ranking Melhores Cidades do Brasil para ter Filhos aqui

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