Texto porFlávia Saad
Santos (SP)

Como a Baixada Santista trata as suas mães?

Qual é a conexão entre a Nova Iorque dos anos 1960 e a Baixada Santista de 2023? Pouca coisa, provavelmente. Mas, se pudermos criar um paralelo entre os dois lugares, nenhum deles coloca as mulheres e as crianças no centro do planejamento urbano e de políticas públicas de bem-estar. Quando se trata da disponibilidade de espaços adequados e políticas públicas voltadas para mães e famílias, a Baixada Santista enfrenta desafios enormes.

E o que NY tem a ver com isso?

Quando falamos de ativismo e resistência, é essencial lembrar de mulheres que deixaram sua marca na história ao defenderem suas comunidades e bairros contra projetos devastadores. E uma dessas mulheres foi Jane Jacobs. Mãe de 3 filhos e urbanista, ela enfrentou uma batalha épica contra a iniciativa Lower Manhattan Expressway, idealizado por Robert Moses, na década de 1960, em Nova York.

Naquela época, a cidade estava prestes a passar por uma drástica transformação com o ambicioso plano de Moses, que ameaçava destruir o entorno do bairro de Jane Jacobs.

www.juicysantos.com.br - como a baixada santista trata suas mãesJá ouviu falar de Jane Jacobs?

Com seu espírito combativo e uma visão progressista para a urbanização, Jane sabia que precisava se posicionar contra essa intervenção modernista que colocaria em risco não apenas sua vizinhança, mas também o futuro de seus filhos e da sua comunidade.Foi se unindo a outras mulheres (e aliados) que Jane batalhou para salvar seu bairro e preservar a cultura local. Sua voz se tornou o símbolo de uma comunidade que não apenas se opunha a um projeto destrutivo, mas também reivindicava o direito de sonhar uma cidade mais inclusiva e empática.

Mães protagonistas nas políticas públicas

O movimento liderado por Jane Jacobs ecoou por toda a cidade e pelo mundo.

Por isso, dá para olhar com muito orgulho para uma semente que está sendo plantada aqui mesmo, na Baixada Santista, inspirada nos mesmos desejos de Jane, o Fórum Maternidade Infância da Baixada Santista.

Conversamos com as mães e mulheres membros do Fórum pra entender quais são os princiais desafios para elas nas 9 cidades da região.

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Vale lembrar que, embora as mães e mulheres sejam as principais “clientes” das políticas públicas desenvolvidas em todas as esferas – municipal, estadual e federal -, suas vozes e demandas muitas vezes sequer são ouvidas nessa elaboração.

Entre os desafios principais aqui na região, o Fórum mapeou os seguintes:

  • Escassez de creches e instituições de cuidado infantil

Um dos problemas mais prementes enfrentados pelas mães na região é a falta de creches e instituições de cuidado infantil. De acordo com dados do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), a taxa de cobertura de creches na região da Baixada Santista é inferior à média nacional. Isso resulta em longas listas de espera e dificuldades para as mães conciliarem suas responsabilidades familiares e profissionais.

  •  Ausência de espaços públicos adaptados para crianças

A escassez de espaços públicos adequados para crianças na região também é uma preocupação. Parques, praças e áreas de lazer frequentemente carecem de estruturas e equipamentos que atendam às necessidades das crianças pequenas, limitando suas opções de recreação e desenvolvimento saudável. Essa falta de infraestrutura impacta negativamente a qualidade de vida das famílias e restringe as oportunidades de interação social.

  • Falta de suporte à maternidade e amamentação

A região da Baixada Santista também carece de políticas públicas efetivas queapoiem a maternidade e a amamentação. A ausência de salas de amamentação em espaços públicos, como shoppings e centros de saúde, dificulta a amamentação exclusiva nos primeiros meses de vida do bebê. Além disso, a falta de programas de educação e suporte para mães lactantes contribui para altas taxas de desmame precoce.

  • Carência de políticas de conciliação trabalho-família

A inexistência ou a escassez de programas de licença-maternidade estendida, creches corporativas e horários de trabalho flexíveis dificultam que as mães conciliem suas responsabilidades profissionais e familiares de forma equilibrada. Essa falta de suporte afeta a participação das mulheres no mercado de trabalho e contribui para as desigualdades de gênero.

  • Necessidade de investimento e parcerias

Diante dessas deficiências, é fundamental que as autoridades locais invistam em infraestrutura e estabeleçam parcerias com instituições e organizações para criar soluções eficazes. A construção de mais creches, a adaptação de espaços públicos para crianças, a implementação de políticas de apoio à amamentação e a criação de programas de conciliação trabalho-família são medidas essenciais.

Resumindo: isso não é só sobre uma questão de arquitetura, urbanismo e bem-estar, e sim de arquitetura social.

A ilustração abaixo mostra bem a diferença entre a cidade pensada, planejada e executada para homens e aquela em que a mãe precisa viver diariamente:

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Faça sua voz ser ouvida

Para começar a mudar essa realidade e fazer a voz das mães e mulheres ser ouvida, vai acontecer a primeira edição do Fórum Maternidade e Infância da Baixada
Santista no dia 19 de agosto (sábado).

Totalmente gratuito, o evento tem como objetivo debater a escassez de espaços e políticas públicas para mães e crianças na região da Baixada Santista. Das 9h30 às 16h30, o  Teatro Rosinha Mastrangelo (Av. Senador Pinheiro Machado, 48, Vila Mathias, Santos) receberá dinâmicas e três mesas-redondas com os seguntes eixos:

  • maternidade e carreira
  • maternidade atípica
  • mães no processo eleitoral

A intenção é a construção de uma agenda de necessidades das mães e das crianças e adolescentes para ser entregue aos representantes das câmaras municipais da região e Assembleia Legislativa do estado de São Paulo. Esse compromisso público e político será o agente transformador das nossas cidades e do futuro dos nossos filhos.

Segundo Carolina Ferreira, coordenadora do Fórum, o encontro é uma iniciativa independente e apartidária, com o objetivo de colocar as mães como protagonistas na criação de políticas públicas na Baixada Santista.

“Com a participação de mulheres e mães que conhecem muito bem seus desafios diários, vamos iniciar a criação de um documento com as principais necessidades dessas mães da região, e entregar aos legisladores das nove câmaras municipais da região e Assembleia Legislativa de São Paulo”, explica.

Veja a programação completa do Fórum Maternidade e Infância da Baixada Santista e faça sua inscrição

E, se quiser saber mais sobre a história de Jane Jacobs, recomendamos este texto: Jane Jacobs, uma mãe urbanista.