Pãozin de Cará e as ilustrações das saudades de Santos
Sentir saudades de casa é um sentimento comum para todo mudno que sai de seu lugar de origem.
E assim funciona para quem sobe a serra ou cruza o oceano. Dá saudade do povo, das ruas, da comida… Esse é o caso de Raphael Morone, designer santista que vive há 3 anos em Belo Horizonte e decidiu externizar as saudades em forma de ilustrações.
Há um ano ele desenha a saudade para fazer as pessoas entenderem o sentimento numa página no Facebook que é nostalgia desde o nome: Pãozin de Cará.
O trabalho se revela quase uma viagem entre os universos de Santos e Belo Horizonte. Tudo leve, colorido e com um toque bairrista que só um talento santista tem. Como estamos falando do sentimento do Raphael, as publicações não tem cobranças ou prazos. Acontecem quando ele sente e isso torna a arte ainda mais incrível.
“Com minha mudança para BH, me vi muitas vezes sozinho, tentando me adaptar e me entender num lugar totalmente diferente. E, para isso, recorri a Santos, como se a cidade fosse uma espécie de referência geográfica para quem poucas vezes saiu de sua primeira morada”, explica.
Reparar nas palmeiras imperiais de mineira Avenida Brasil e lembrar da Ana Costa, por exemplo, foi uma das primeiras nostalgias. Não demorou para vir a ideia de pensar nos dois territórios a partir da memória e da fantasia, usar o desenho, a prosa e a poesia como linguagens.
Pão de cará: sim, por favor!
O nome do projeto, obviamente, nasceu dos pães que só a Baixada Santista tem.
Em qual outra cidade existem um pão cujo nome é de um ingrediente que não está massa há décadas? Segundo o artista, essa curiosidade encaixa bem com esse lugar que o projeto navega. O diminutivo pãozin é uma referência mineira pra ligar esses dois lugares.
“É quase como um diário, um livro de artista, onde em cada página surge uma coisa diferente da outra. A ideia vem, na maioria das vezes, com a desautomatização do meu olhar a partir do lugar que eu estou, seja o bairro (aqui e aí), um boteco ou mesmo uma memória que me arrebata. A fantasia surge espontaneamente, a partir desse processo”.
A maior parte dos desenhos é feito com pastel oleoso, canetas marcadoras e nanquim.
Quanto perguntado sobre a maior saudade que tem da cidade, Morone descreve o bairro onde cresceu quase como em uma poesia e é possível imaginar a ilustração que ela daria. A viagem antes de dormir, olhando as estrelas e ouvindo o som das buzinas dos navios.
Para lembrar você, leitor do Juicy: enquanto ainda estava em Santos, Morone fez algumas ilustrações incríveis de cartazes de Santos com o seu Coletivo Action.