Texto porRachel Hidalgo

Por que as cidades são o novo fator do desenvolvimento humano?

Uma celebração das cidades. Esse foi o clima do primeiro grande evento do AutentiCIDADEs.

O encontro, que aconteceu no dia 31 de outubro no Juicyhub, não apenas marcou o Dia Mundial das Cidades como também reuniu nomes que já passaram pelo videocast, produtores/as de conteúdo, jornalistas, arquitetos/as,  políticos/as e pessoas interessadas em imaginar as cidades que queremos para o futuro.

Teve gravação ao vivo, com plateia e microfone aberto para participações do público como último episódio da temporada.

E muito mais coisa rolou neste dia especial. Uma delas foi a presença do Antonio Napole, professor do Máster em Liderança e Gestão Pública do Singularidades-CLP, diretor da Kaiser Associates Latim America. Ouvir esse cara é uma oportunidade única. E, por isso, vamos contar algumas das coisas mais significativas que ouvimos neste dia.

Primeiro evento do AutentiCIDADES: Antonio Napole participa do Dia Mundial das Cidades no Juicyhub.

Foto: Yara Tomei

As cidades na vidas pessoas

A fala de Napole foi impulsionada pela frase “As cidades são o novo fator de desenvolvimento humano”. A Ludmilla Rossi relembrou esse tópico logo no início do episódio.

O professor explicou que, quando a gente pensa em governo federal ou estadual, acabam sendo coisas “virtuais” para nós. Algo que só vemos na televisão, que não podemos “tocar”.

Mas a cidade, não.

“A cidade está o tempo todo na sua frente. A rua boa ou ruim, o trânsito, o clima… Se é uma cidade que recebe bem você ou não. É na cidade que a gente se entrega, é na cidade que a gente dorme. Então, quer queira ou não, é na cidade que a vida acontece”, disse Napole. 

Quando discutimos sobre política, de fato, ela precisa ser traduzida nesse ambiente. Na nossa rua, nos lugares onde convivemos, nas comunidades.

O professor afirma que as cidades, assim como os países, estão perdendo as suas fronteiras.

“Hoje em dia, você não sabe muito bem onde acaba um município e começa outro, a logística e as estradas, elas unem as cidades. Em Santos, quantas cidades do mundo estão conectadas com essa cidade e a gente não tem noção?”.

Se pensarmos na maioria das cidades portuárias, quantos e quantas tripulantes descem, passam um tempo, embarcam de novo e vão embora? Seja pelo transporte, pela navegação marítima e outros meios. Essas pessoas acabam, de uma forma ou de outra, integrando os nossos ecossistemas, a nossa rede.

Para Napole, a cidade é como um pedaço de uma rede com as suas conexões. Portanto, as fronteiras acabam diluídas e as cidades viram o palco para as conexões que a gente tem nesse espaço. Se a cidade não tem muito acesso, ela se isola. Se tem muito acesso, vira uma zona de passagem.

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Os limites de uma cidade são os limites do nosso alcance

Outro ponto de vista do professor: ele comentou sobre São Paulo, quando o costume é pensar as distâncias mais por meio do tempo do que da própria distância física.

Por exemplo, até onde eu posso chegar em 30 minutos?

Quanto tempo levo para chegar até determinado lugar onde quero ir? Para ele, então, os limites da cidade são os limites do nosso alcance.

A cidade é o que, naturalmente, podemos tocar – diferentemente daquilo que vemos e sentimos de forma mais virtualizada. Por esse motivo, quando pensamos em futuro, planejamento, política, amizade, bairros… quando pensamos no ciclo da vida, ela precisa ser pensada no nosso próprio bairro.

“Quantas pessoas, ao acordar e sair para o trabalho, você encontra no caminho com mais frequência?”. Foi uma das perguntas que ele jogou para a plateia e espectadores/as da nossa transmissão ao vivo. Segundo o professor, as cidades tem um sincronismo próprio, um ritmo, é nela que a gente se faz como pessoa. É nesse grupo menor que a gente existe. Os/as nossos/as vizinhos/as, os conflitos, as histórias… que cidade não tem aquela personagem famosa? Tudo acontece nas cidades, afinal, somos tribais. Não somos tão “mega” como a globalização e o advento da internet fez a gente pensar ser.

Mundo digital e mundo físico

Outro ponto debatido durante a transmissão foram as redes sociais e a ilusão de que criamos novas cidades estonteantes, sem limitações. E isso pode ter diferentes interpretações. Mas, na prática, se nas redes sociais podemos ter milhares de seguidores/as, quantas dessas pessoas estão em nosso mundo real, de fato?

“Se você esquecer tudo, esquece a agenda, e tenta pensar nas pessoas para quem você pode pedir ajuda hoje a noite, eu posso dormir na sua casa porque eu estou com um problema? Não vai passar de cem pessoas, e essas cem pessoas costumam estar ao nosso alcance, no alcance da cidade”. 

Para o professor, as redes sociais e o mundo digital podem ser muito sedutores. Entretanto, as relações nesse universo são muito fracas. Você entra, faz amizade com uma série de pessoas e pode ser cancelado/as com a mesma velocidade. As redes podem ser descartadas, são frágeis e não são permanentes. Ele lembra:

“Isso aumenta a solidão. Então, a gente tenta se embebedar com mais relações para compensar esse vazio. Sai na rua, vai conversar com alguém, almoça com alguém, o contato físico tem um potência emocional gigantesca, as conexões são muito mais fortes e duradouras no mundo real”.

SincroniCIDADE

Napole apontou para um exemplo que, atualmente, faz parte da rotina de muitas pessoas: trabalhar em casa ou de modo híbrido. Para além de destacar todos os benefícios que isso também pode trazer, para o professor, também provoca uma estranheza, pois vamos perdendo algo fundamental que é a sincronicidade.

“Teve um tempo em que a gente tinha um ciclo, toma café da manhã, sai de casa, chega no trabalho, retorna, tem a hora da janta, a hora de ligar televisão, ver todo mundo junto, a hora que a cidade silencia, que fica sem luz, hora do descansar, isso traz pra nós uma certa calma porque a gente começa a se sentir parte de uma rotina, que pode ser chata, mas ao mesmo tempo nos dá um senso de pertencimento”.

O que o professor coloca tem sentido quando pensamos que, no mundo digital, não tem dia ou noite. Não tem perto ou longe. Assim, a sensação de desconexão é algo que muda muito do nosso comportamento, do nosso dia a dia.

Ele questionou: qual é a primeira coisa que fazemos ao acordar? Olhar o celular. Antes de ir ao banheiro, antes de beber água, antes de qualquer outra coisa, ao abrir os olhos, grande parte das pessoas prefere checar as suas mensagens. Prefere saber o que tem no dia do seu avatar, na internet. Nós confundimos, e misturamos, a nossa vida com a vida do nosso avatar. E se pararmos para pensar, a verdade é que passamos a maior parte do tempo no mundo físico, porém as nossas relações estão no mundo digital, quando é no mundo físico que, de fato, criamos sentimentos, criamos os afetos. Para Napole, é por isso que as cidades precisam ser ocupadas, “um espaço onde a gente pode existir fisicamente”.

AutentiCIDADES: videocast tem primeira temporada quase completa

A principal motivação do videocast é debater as cidades e o protagonismo das pessoas nos territórios. É por esse motivo que, na primeira temporada, os nossos hosts Adriano Liziero e Ludmilla Rossi, conversaram sobre temas como jornalismo local, mobilidade urbana, educaçãomoradia, preservação da história… Sempre contextualizando as temáticas na vida das pessoas nas cidades. Afinal, o “direito às cidades” é o propósito desse projeto que tem o apoio fundamental da Intel.

Com a apresentação da empreendedora Ludmilla Rossi e do geógrafo e documentarista Adriano Liziero, já lançamos 9 episódios e mais um extra – todos disponíveis no canal do You Tube.  Nos próximos dias 6 e 13, lançamos os dois últimos programas da série, então ainda temos muito o que falar!

Se você também se interessa pelo tema, siga o perfil do AutentiCIDADES no Instagram para não perder nenhuma novidade. E se quer saber, na íntegra, tudo o que o professor Napole falou sobre cidades, assim como todas as outras pessoas importantíssimas que marcaram presença no episódio ao vivo, a transmissão também está disponível no canal.