Texto porVictória Silva
Jornalista, Santos

Só eu estou em casa: é radicalismo seguir em isolamento após 6 meses?

Assim que a frente fria do final de agosto deu uma trégua, as praias de Santos e região ficaram lotadas.

No feriado prolongado de 7 de setembro não foi diferente.

Domingo à noite, o trânsito da Baixada sentido São Paulo parou por quilômetros.

Algo parecido com o que acontece no Carnaval ou no Réveillon. Acontece que ainda estamos no meio da maior pandemia do século. E apesar de o isolamento social já estar sendo afrouxado, aglomerações seguem não sendo indicadas pelas autoridades ou a Organização Mundial de Saúde.

Prevendo um tumulto ainda maior no feriado prolongado, de 7 de setembro, os prefeitos das nove cidades da região se reuniram para busca soluções no início da semana passada. Acabaram por solicitar a ajuda do Governo do Estado de São Paulo. Ainda assim, as praias tiveram movimento intenso.

De acordo com a DERSA, cerca de 1 milhão de turistas desceram para a praia neste feriadão. O que fez algumas pessoas se questionarem:

Será que só eu estou em casa?

Há quem acredite que sim.

Outros preferem teorizar que as praias estão cheias de paulistanos e que os santistas estão em casa. De acordo com do Sistema de Monitoramento Inteligente do Governo de São Paulo, Itanhaém é a cidade da região que mais tem respeitado o isolamento social – com uma média de 46% de isolamento.

A cidade, aliás, ocupa a sexta posição do ranking estadual. Que segue com São Vicente na 11ª posição e Praia Grande em 15ª. Então aparece o Guarujá, na 21ª posição e Cubatão em 25º lugar.

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E Santos, está cumprindo as diretrizes de isolamento?

É a 66ª cidade no que diz respeito ao isolamento social e, de acordo com o sistema, cerca de 38% dos munícipes têm ficado em casa.

Nos finais de semana, essa média tem uma queda considerável em algumas cidades. No domingo, 30 de agosto, por exemplo, Praia Grande foi para a 21ª posição e Guarujá apareceu em 54ª colação. Santos, por outro lado, subiu para a 60ª cidade a respeitar o isolamento. Por aqui, a queda maior acontece nas sextas-feiras. Para ilustrar, em 28 de agosto, a cidade foi a 74ª da lista e teve apenas 36% de isolamento.

De acordo com a divulgação, os números são viabilizados por meio dos dados de GPS de celulares das operadoras Vivo, Claro, Oi e TIM.

“Não vou mentir, eu tenho ido caminhar na praia. Mas faço isso apenas durante a semana e em horários menos convencionais”, comenta a aposentada Nice de Souza.

De acordo com ela, nos dias de semana, a praia ainda tem certo movimento. Mesmo assim, ela se sente mais segura de tomar um sol e “ver gente”. Já nos finais de semana, a movimentação é descrita por ela como assustadora. Por isso, a opção é ficar em casa.

Michele de Souza, sua neta, não concorda com saídas da senhora. Mais do que isso, não sai de casa desde de março – a não ser para ir ao mercado ou a farmácia. Atividades que organiza para serem feitas no mesmo dia e apenas duas vezes por mês.

“No fim de semana, eu vi vários amigos indo à praia, não para caminhar, e sim para colocar o bronzeado em dia. Com cooler de cerveja e tudo que tem direito… Me senti uma idiota”.

Evaldo Stanislau é médico infectologista em Santos e reitera: o afrouxamento só é seguro todos seguirem as regras de prevenção básicas. O que, entre outras coisas, significa evitar aglomerações. Ainda segundo ele, está tudo bem ir à praia. Desde que a distância de 2 metros seja respeitada e que todos estejam usando máscara.

“Mesmo ao ar livre, se estiver próximo, o vírus pode transmitir-se. Portanto, a aglomeração de pessoas sem máscara na praia é um convite para a transmissão de COVID-19”.

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Cuidado com a saúde vs. isolamento

Seguir respeitando o isolamento é uma maneira de cuidar da saúde. Mas, ao ver as praias e restaurantes lotados, muita gente acaba pensando: eu sou a única pessoa que está em casa.

E, muitas vezes, esse pensamento angustiante que nós conhecemos como fadiga da quarentena pode desencadear em outros problemas.

Segundo dados de uma pesquisa realizada pela Universidade do Estado do Rio de Janeiro (UERJ), casos de ansiedade e estresse cresceram em 80% durante a quarentena. Os números relativos à depressão também aumentaram nos últimos meses.

Diana Aparecida ficou em isolamento total durante cinco meses. Não saiu de casa nem para ir ao mercado ou à farmácia. Como resultado, perdeu peso e teve que começar a tomar medicamentos para dormir. No início, o isolamento era defendido pelas filhas, que tinham medo do contágio. Hoje, são elas que pedem que a mãe faça caminhadas diariamente.

A atitude é a mesma defendida pela psicóloga Luiza Canato.

“Por não termos uma perspectiva de quando haverá uma proteção maior contra o vírus, considero saudável e importante para a manutenção de nossa saúde mental realizar pelo menos uma atividade ao ar livre”, explica.

A profissional indica pequenas caminhadas, como as que Nice tem feito.

Tanto Luiza quanto Stanislau concordam: ficar e casa ainda é o ideal.

Mas dá para sair, para a manutenção da saúde mental, e manter firme o distanciamento social.

Idas à praia no final de semana podem ser perigosas e resultar em novos picos da COVID-19, masfrequentar lugares abertos, sem aglomeração e utilizando a proteção de maneira correta é uma maneira de não adoecer enquanto se protege.