Texto porVictória Silva
Jornalista, Santos

Fadiga da quarentena: o que é sensação de cansaço que sentimos

Quando a quarentena começou, decidi pintar todos os dias de isolamento com uma caneta marca-texto verde no calendário da minha mesa. Era início de março. E tinha a ideia de registrar de maneira exata esse período totalmente diferente de tudo que tinha vivido até então. Uma forma de ter certeza de que, futuramente, minhas memórias seriam corretas quanto a datas e outros detalhes. 

Em paralelo, separei metade de uma página da minha agenda para escrever uma palavra que resumisse cada um dos dias. Só precisaria de 15, né?

Nas primeiras semanas, pintei todos os dias. As palavras eram otimistas.

Enquanto escrevo essa matéria, o calendário já é mais verde do que branco. E as palavras já não surgem no papel há dias, pois não tenho vocabulário para descrever em tantas palavras diferentes o quão chato é ficar em casa por quatro meses.

www.juicysantos.com.br - fadiga da quarentena depois de 4 meses

É isso que estão chamando de fadiga da quarentena

A expressão do que estamos vivendo é quarentena, ou seja, obviamente algo derivado do numeral quarenta. Mas, por algum motivo, nos fizeram acreditar que seriam quinze dias.

Quem dera tivesse sido…

Eu passei meu aniversário isolada e talvez você também tenha ficado sem os abraços de pessoas queridas. Além disso, já perdemos a Páscoa, o Dia das Mães, dos Namorados e até a festa junina. Diante disso, a única coisa que eu consigo pensar é: mas que porr@, hein, coronavírus…

De acordo com a psicóloga Marta Barbosa Martins, CRP 06/23948, essa sensação de extremo cansaço é normal diante da crise que estamos vivendo.

“Este cansaço devido à pandemia vem de uma tensão permanente à qual estamos expostos. E essa exposição afeta a nossa saúde mental com reflexos no nosso corpo físico”, comenta.

Ainda segundo ela, o fato de termos começado imaginando que seriam 15 dias que, de repente, se transformaram em um terço do ano – sem nenhuma expectativa de volta ao normal – também nos afeta. Além disso, a sensação de impotência e a rotina totalmente alterada ajudam a deixar a fadiga da quarentena ainda mais séria.

Eu tenho me sentido mais estressada e cansada. Já Cristina Albuquerque relata que as crises de ansiedade, controladas há anos, voltaram a ser parte de sua rotina.

O cuidado com a saúde mental se tornou pauta no início da pandemia, mas a verdade é que, ainda assim, tem gente surtando.

Aliás, só para aqueles que ainda estão em isolamento

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Uma galera nunca começou o isolamento. E tem gente que se sentiu tão cansado que, pensando no conceito de redução de danos, começou a abrir pequenas concessões com o passar das semanas.

“Eu estava direto em casa. Mas, depois das crises de ansiedade, comecei a caminhar na praia duas vezes por semana. Era isso ou enlouquecer”, comenta Cristina.

Atualmente, a prática de atividades físicas já está liberada na praia em Santos. Mas Cristina, honestamente, revela: já estava caminhando antes da liberação. Em suas idas à praia, ela não abre mão do uso de máscara e está sempre sozinha. Uma exceção ao que tem visto nos três quilômetros que percorre: segundo ela, a maioria das pessoas deixa a máscara pendurada no queixo e tem muita gente em grupo.

Ambas atitudes ainda proibidas por aqui!

De acordo com a pneumologista Maria José Gonzalez Parada, o uso da máscara durante as atividades físicas deve, sim, ser levado a sério. Principalmente, em locais ao ar livre.

“A máscara é o plus que nós temos nesse momento. Ter etiqueta respiratória é essencial para a nossa segurança, assim como manter a rotina de limpeza de mãos e outros itens”, explica.

Ainda segundo ela, aqueles que têm academia no condomínio devem ficar atentos. E, mesmo que estejam sozinhos no ambiente, utilizar a máscara como forma de prevenção. Isso porque não existem estudos suficientes para comprovar como o ar condicionado atua na proliferação da COVID-19. Além, é claro, de outros fatores como, por exemplo, a limpeza entre cada um dos usos.

www.juicysantos.com.br - máscara obrigatória na baixada santista

Atualmente, temos mais de 11 mil casos confirmados em Santos, sendo que destes 6.233 estão curados e 398 não resistiram à doença. Ou seja, apesar da fase amarela, não dá pra relaxar nos cuidados.

Lembre-se que existem muitos profissionais que não podem se proteger ficando em casa – em especial, aqueles que trabalham na área da saúde e estão frente a frente no combate ao coronavírus.

Então, por maior que seja o cansaço, sempre avalie todas as possibilidades e se a saída é realmente necessária. Considere, ainda, que a reabertura pode significar um retrocesso na luta contra a COVID-19 e que um aumento no número de infectados e de óbitos fará com que a região precise voltar a um isolamento mais rigoroso, com praias, comércios e outros locais fechados novamente. 

Como contornar essa sensação

Ficar em casa está nos enlouquecendo e, ao mesmo tempo, voltar à rotina normal não é uma opção muito segura. Difícil, né? Não precisa ser! Para a psicóloga, uma forma simples de evitar essa sensação de fadiga da quarentena é destinar um período do dia para o desenvolver hábitos de autocuidado.

Segundo Marta, isso pode ser uma alimentação saudável, passear com o cachorro, fazer atividade física moderada ou apenas um descanso para a mente.

“Também é fundamental manter contatos frequentes com pessoas queridas, através da tecnologia que nos possibilita essa oportunidade de compartilhamento. Isso faz muita diferença, pois o isolamento ostensivo é muito cansativo. Somos seres relacionais. Trocar energia com o outro nos beneficia”.

Além disso, a psicóloga aconselha que saídas com monitoramento de risco sejam feitas esporadicamente. Em resumo, o que ela quer dizer é: o confinamento total pode causar vários sintomas de desequilíbrio mental. Então, caso seja necessário sair como a Cristina, meça seus riscos. Mas só se a sua cidade já estiver fora da zona vermelha.

Neste caso, lembre-se de usar a máscara da maneira correta, levar álcool em gel na bolsa e evitar locais sem circulação de ar e com aglomeração de pessoas. Outra dica: escolha horários alternativos, em que a rua ou a praia estejam mais vazias.

Eu segui a recomendação dela e caminhei até a praia depois que conversamos. Quando voltei para casa, pintei o dia de verde e anotei na minha agenda: a fadiga da quarentena é tanta que eu quase chorei por ir à praia.

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