Texto porVictória Silva
Jornalista, Santos

Você conhece a relação de Santos com a independência do Brasil?

A história da Independência do Brasil você já conhece.

Mas você sabe dizer como Santos está envolvida nesse capítulo histórico? Pois é, assim como aconteceu na revolução de 1932, também existe uma relação de Santos com a independência do Brasil. Se você não conhece essa curiosidade, o tema dessa semana do Juicy vai te explicar do que se trata.

Relação de Santos com a independência do Brasil

Era 7 de setembro de 1822 quando Dom Pedro proclamou a Independência do Brasil. O episódio, contado nas aulas de história, aconteceu bem ao lado do riacho Ipiranga, em São Paulo. Só que poderia ter sido onde hoje estão os canais e as muretas mais famosas do Brasil.

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A primeira ligação da cidade com o fato é, sem dúvidas, o santista José Bonifácio de Andrada e Silva. Afinal, ele atuava como ministro de Dom Pedro e, consecutivamente, foi uma das pessoas que o aconselharam a romper os laços com Portugal. Mas a verdade é que essa não é a única relação de Santos com a Independência do Brasil. Alguns historiadores acreditam que a icônica frase “independência ou morte” seria dita aqui em Santos, não fossem alguns problemas pelo caminho.

“O príncipe D. Pedro estava aqui em Santos na véspera do grande acontecimento. Mas, antecipou sua volta à capital da província de São Paulo por motivos diversos”, comenta o jornalista e pesquisador da história de Santos, Sérgio Willians.

Ainda segundo ele, Bonifácio fez de tudo para que o grito tivesse como palco a vila de Santos.

Entre os motivos que impossibilitaram seu desejo estava, por exemplo, a vontade do príncipe de rever Domitila de Castro Canto e Melo. A mulher que conhecera dias antes em audiência e que provocaria grandes estragos na futura corte imperial.

“José Bonifácio também defendia que a independência acontecesse em torno de uma coroa imperial. Pois sabia que, se o movimento seguisse os mesmos preceitos da América Espanhola, o Brasil teria se dividido em várias repúblicas”.

Ilustração de José Bonifácio

Segurança da Vila de Santos

Está se perguntando o que D. Pedro fazia em Santos na véspera de proclamar a independência?

Ele saiu de São Paulo, junto de seus homens de confiança, rumo a Santos no dia 5 de setembro. O objetivo da visita era conferir o sistema de defesa por aqui. Afinal, a localização geográfica da região a transforma em uma das mais importantes na época. Ou seja, caso a proclamação da independência realmente acontecesse, possivelmente os portugueses tentariam uma invasão exatamente por este local.

A viagem, que estava nos planos de Bonifácio, foi um grande acontecimento. Pois foi a primeira (e única) passagem do príncipe por aqui. Segundo registros do historiador santista, Francisco Martins dos Santos, é possível comparar essa visita as comitivas políticas atuais.

“As ruas pelas quais o cortejo passou estavam juncadas de flores e folhagens, apinhadas de povo.Das sacadas pendiam colchas de seda e senhoras e moças atiravam rosas e outras flores”.

D. Pedro ficou hospedado no Convento dos Jesuítas, onde hoje fica a Alfândega de Santos. Visitou, por exemplo, a Fortaleza da Barra e o Forte Itapema. Além disso, ainda aproveitou para jantar na casa dos Andrada.

Acontece que, aparentemente, a comida caiçara agradou à realeza. Ou seja, ele comeu mais do que deveria e teve uma indisposição (em outras palavras, um dor de barriga daquelas). Esse foi um segundo fator, somado à saudade de Domitila, para que voltasse para São Paulo o quanto antes. A viagem foi adiantada, quando o correio da Coroa, Paulo Bregaro, que ia a Santos encontrar D. Pedro, acabou o encontrando no caminho. Já sabe, né? Era 7 de setembro e eles estavam às margens do riacho Ipiranga.

D.Pedro leu a carta enviada por José Bonifácio e deu o grito da independência ali mesmo, no meio do caminho.

O que José Bonifácio escreveu para D. Pedro

Ficou curioso para saber o que o ilustre santista escreveu na carta? Nós sabíamos que você ficaria e, por isso, vamos te dar um trechinho do que D. Pedro leu às margens do Ipiranga:

“(…) A revolução já está preparada para o dia de sua partida. Se parte, temos a revolução do Brasil contra Portugal, e Portugal, atualmente, não tem recursos para subjugar um levante, que é preparado ocultamente, para não dizer quase visivelmente. Se fica, tem, Vossa Alteza, contra si, o povo de Portugal, a vingança das Cortes, que direi?! até a deserdação, que dizem já estar combinada. Ministro fiel que arrisquei tudo por minha Pátria e pelo meu Príncipe, servo obedientíssimo do Senhor D. João VI, que as Cortes têm na mais detestável coação, eu, como Ministro, aconselho a Vossa Alteza que fique e faça do Brasil um reino feliz, separado de Portugal, que é hoje escravo das Cortes despóticas.

Senhor, ninguém mais do que sua esposa deseja sua felicidade e ela lhe diz em carta, que com esta será entregue, que Vossa Alteza deve ficar e fazer a felicidade do povo brasileiro, que o deseja como seu soberano, sem ligações e obediências às despóticas Cortes portuguesas, que querem a escravidão do Brasil e a humilhação do seu adorado Príncipe Regente.

Fique, é o que todos pedem ao Magnânimo Príncipe (…)”.

Se você quiser ler carta completa, ela está disponível aqui!

Por toda essa participação, há quem chame Bonifácio de arquiteto da liberdade brasileira. Tamanha importância é lembrada em locais como, por exemplo, o Pantheon dos Andradas, a Praça dos Andradas e, é claro, a Praça José Bonifácio – todos aqui em Santos. Além disso, também há uma homenagem ao santista em Nova Iorque!

Uma praça para lembrar a independência

Agora que você já sabe a relação de Santos com a independência do Brasil, vamos a outra pergunta: você conhece a história da Praça da Independência? Pois é, esse nome não é à toa.

Atualmente a praça, que fica no coração do Gonzaga, representa uma das principais referências urbanas da cidade. Vale tanto para encontrar amigos antes do rolê, quanto para comemorar o título do seu time do coração ou então se manifestar pelo que você acredita. Acontece que esse importante patrimônio também está ligado à toda a história que (agora) você conhece.

A praça foi fundada em 7 de setembro de 1922, com a inauguração do Monumento dos Andradas. Se você só passou pela praça com um desses objetivos, vale a pena tirar um dia para observa-la com calma. Em um resumo rápido, o monumento é uma homenagem aos irmãos:

  • José Bonifácio
  • Martim Francisco Ribeiro de Andrada
  • Antônio Carlos Ribeiro de Andrada e Silva

A obra foi projetada por dois franceses, o arquiteto Gastron Castel e o escultor Antoine Sartorio. Aliás, o projeto venceu o prêmios internacionais.