Texto porLudmilla Rossi
Santos

Santos ganha novas perspectivas em inovação

No início de 2023 eu me perguntava por que Santos ainda patinava tanto em termos de inovação. A cidade, que foi pioneira no início dos anos 2000, abrigando no Centro Histórico uma incubadora de empresas, acabou desacelerando seu processo de estímulo ao empreendedorismo e à inovação.
Em fevereiro de 2023 publiquei o texto Santos precisa de um Parque Tecnológico?. A ideia desse compilado de informações era, acima de tudo, amplificar um debate urgente e necessário. Minha missão foi bem sucedida e eu não consigo numerar a quantidade de mensagens que recebi comentando os fatos.

A principal delas foi: “eu não fazia ideia de tudo isso”. Muita gente não fazia.

Em resumo, no texto anterior eu comentei sobre os 5 tópicos essenciais para que a cidade e sua missão de inovação precisariam fazer para ter sucesso, onde resumo os seguintes itens:

  • Diversidade socioeconômica
  • Governança forte e diversa
  • Formação para a nova economia
  • Redesenho e integração do entorno
  • Leis
  • Investimento direto

Recomendo que, se você tiver tempo, você leia esse texto antes de prosseguir. Mas caso você não o tenha e queira ir direto para o que aconteceu entre janeiro de 2023 e janeiro de 2024, siga em frente. Trago boas notícias.

A esperança aconteceu, mas agora é pra valer

2023 era o ano de esperança. 2024 é o ano da prática. Um ano de eleições municipais, que prometem uma grande agitação de narrativas, 2024 será um ano decisivo para a cidade no que tange duas expressões: inovação e diversidade econômica.

Não é surpresa para ninguém que essas são duas grandes bandeiras minhas, desde que comecei a empreender, em 2001. Quando fundei meu primeiro negócio, uma empresa atuante na área de tecnologia e marketing digital, (a Mkt Virtual), o foco era manter a estrutura e os empregos em Santos e trabalhar para várias cidades e mercados maiores.

Parece óbvio hoje, mas não era há mais de duas décadas atrás. Atualmente, Santos se tornou uma cidade atrativa para prestadores de serviço e colaboradores remotos. A proximidade com São Paulo ajuda, mas o ambiente da cidade é determinante para tanta gente ter migrado para cá durante e após a pandemia, fenômeno sentido por outras cidades da Baixada Santista também.

Pontos de viradas

No dia 12 de abril de 2023, o nome de Eduardo Bittencourt é anunciado para a nova presidência da Fundação Parque Tecnológico de Santos. Pela primeira vez, uma pessoa que veio do mercado de tecnologia e startups assume a instituição. Eduardo foi CEO da Spacemoon, aceleradora de startups que encerrou as operações em 2021. Fatecano, ex-programador, fundador e investidor de várias startups.

Foi uma excelente notícia para a comunidade de inovação e para o mercado em geral. Eduardo assumiu a gestão em um ponto de virada importante, que aproximava do início da execução das obras do Termo de Responsabilidade de Implantação de Medidas Mitigadoras e/ou Compensatórias (Trimmc), assinado no dia 25 de março de 2022 entre a prefeitura e a Bracell Celulose. Vale reforçar que os R$ 3,9 milhões teve o foco de ocupar dois andares do prédio, além do auditório.

Antes dessa etapa o Parque Tecnológico abrigou o andar administrativo (sexto andar), um coworking simples, laboratório e executou ali dentro alguns programas, como o Cérebro Ativo, projeto do professor Fábio Ota focado em inclusão digital para pessoas 60+, graças à uma outra empresa do setor portuário, o Ecoporto, responsável pela primeira fase do prédio, que investiu R$ 11,9 milhões através de outro Trimmc.

Outro ponto de virada foi a mobilização do setor público e de algumas pessoas da iniciativa privada pelo Centro Histórico de Santos. Projetos como o Parque Valongo são uma grande promessa para reativar o centro e resolver um problema antigo: a relação porto-cidade.

Inauguração do hub do Parque Tecnológico

No dia 31 de janeiro de 2024, como parte das comemorações do aniversário de Santos, três novos andares do Parque Tecnológico serão entregues. Serão 100 posições de trabalho compartilhado, várias salas de reunião e um ambiente compartilhado para abrigar empresas. Ou seja, ficaram prontos o térreo, 3º, 4º e 5º andares.

Parque Tecnológico de SantosCrédito: Carlos Nogueira

No térreo, há uma nova recepção, área de espera com mobiliário para a realização de eventos ou exposições e três escritórios.

Nos demais andares, ficam os espaços de coworking (para trabalho compartilhado). No terceiro, são nove salas (privativas e de reuniões), três cabines para videochamada, 42 posições de trabalho, salas de treinamento e estúdios, além de refeitório. No quarto pavimento, serão 13 salas, seis cabines para videochamada, 78 posições de trabalho, área de descompressão (mesas bistrô, sofá, TV, videogame, sinuca e tênis de mesa etc). A cidade também ganhará um novo auditório de ponta, para 130 pessoas, que fica no quinto andar.

“Estamos presenciando um momento histórico e transformador para nosso ecossistema. Com nossas novas instalações, ofereceremos capacitações, acesso a recursos de fomento e uma ampla rede de apoio. Isso será um divisor de águas para uma variedade de atores, desde empreendedores em fase inicial, passando por pesquisadores, até grandes empresas e investidores engajados em transformações digitais”., explica o presidente da Fundação Parque Tecnológico de Santos, Eduardo Bittencourt.

Auditório Parque Tecnológico | Carlos NogueiraCrédito: Carlos Nogueira

No dia 1º de fevereiro, o Parque Tecnológico lança o edital de chamamento público para seleção de projetos de empreendimentos de base tecnológica e inovação que farão parte da Incubadora de Empresas, que será publicado no Diário Oficial de Santos. Haverá vagas nas modalidades residentes em coworking e não residentes com valores acessíveis, além da isenção da mensalidade para vencedores de concursos e eventos/feiras de inovação e tecnologia e beneficiários de programas de transferência de renda ou de assistência social.

As inscrições poderm ser feitas pelo site do Parque Tecnológico e são destinadas para pessoas físicas e jurídicas, a exemplo de profissionais, startups, grupos empresariais, instituições de ensino, fundações e institutos que, preferencialmente, atuam nos eixos de Porto e Energia; Cidades Inteligentes, Humanas e Sustentáveis; Comunidade e Relações Humanas; Economia Azul; Saúde, Bem Estar e Esporte e Games. Os incubados residentes contarão com assentos de trabalho, infraestrutura de internet de alta velocidade e serviços de rede, facilidades (vigilância e limpeza das áreas comuns), água e energia, climatização, copa e refeitório, participação em eventos, acesso a fontes de financiamento e programas de subsídios, treinamento e desenvolvimento, mentoria e consultoria, sala de reuniões, auditório e área de descompressão, endereço fiscal e serviços administrativos.

Nosso foco é criar um ambiente propício para que todos possam se conectar, colaborar e prosperar no vibrante ecossistema de inovação e startups”, completa Eduardo.

Novos hubs e coworkings na Baixada Santista

Além da inauguração do coworking dentro do Parque Tecnológico, ou seja, um coworking público para Santos, a cidade ganhou um coworking privado na região da Zona Noroeste. O surgimento de espaços de coworkings distribuídos pelo nosso território é importante, como já havíamos noticiado nessa matéria: por que os coworkings são importantes para a economia das cidades?

São Vicente ganhou um novo espaço, o Ideall Coworking. E agora, a área do Paquetá ganha o coworking do Parque Tecnológico de Santos. Esse processo de criação de novos clusters de empreendedorismo e profissionais espalhados pela região é importante, porque trazem o verdadeiro conceito de mobilidade: mobilidade, em uma cidade inteligente não é ligar o ponto A ao ponto C mais rápido, mas sim, espalhar as oportunidades pelos pontos A, B e C. E claro, expandir esses pontos.

Outro hub que iniciou suas operações ao final de 2023 foi o Hub Brasil Export, liderado pelo empreendedor Fabrício Julião, e operacionalizada por Karina Martins, o hub visa impulsionar os setores de infraestrutura, portos, logística e comércio exterior. O hub também é um dos parceiros do Parque Tecnológico de Santos.

Ou seja, Santos agora conta com três hubs de inovação, sendo os dois primeiros privados e o último público: o Juicyhub (2021), o Hub Brasil Export (2023) e o hub do Parque Tecnológico de Santos (2024), o que representa um grande passo para a diversificação econômica e a nova economia da região.

Santos Summit: vai ter evento de inovação por aqui

Outra novidade que Santos pode esperar este ano: em março a cidade terá um grande evento, com palestrantes sensacionais. Entre eles estão Ingrid Barth (presidente da Associação Brasileira de Startups),Felipe Criniti (CEO da Rappi Brasil), Juliana Goes (jornalista, escritora e apresentadora), Dani Junco (fundadora do B2Mamy) Crica Wolthers (fundador do Vegan Business), Beatriz Bevilaqua (jornalista e comunicadora de startups;), Alessandro Lopes, especialista em BIM (Modelagem de Informação da Construção); Ronaldo Christofoletti (presidente do Grupo Especialistas em Cultura Oceânica), Rodrigo Selback, (apresentador e redator do Games e Profissões da Ubisoft) Sandrelise e Edmar Moraes (fundadores do Ilhahub de Inovação) e Cristiane Pereira, presidente do Instituto Multiplicidades. Serão mais de 230 painelistas e palestrantes, um movimento inédito em Santos.

O evento prevê seguir uma cartilha interessante de vestir e ocupar a cidade: será realizado entre os dias 7 e 9 de março no Blue Med Convention Center (Ponta da Praia) e também contará com pavilhões temáticos e eventos paralelos na sede do Parque Tecnológico (Vila Nova), Museu do Café (Centro Histórico) e Pinacoteca Benedicto Calixto (Boqueirão), todos equipamentos públicos sendo usados à favor da inovação.

Santos Summit 2024

Esse é um evento que promove o protagonismo do ecossistema de inovação e tecnologia, proporcionando o encontro de grandes líderes e tomadores de decisão do setor público assim como investidores e empresários da iniciativa privada. É o local ideal para que startups tenham visibilidade e grande networking, assim como os grandes eventos que acontecem mundo afora.

O Santos Summit será uma realização do Parque Tecnológico em parceria com a Prefeitura de Santos, com organização da Fulltime Eventos e Turismo e apoio do Sebrae, Associação Comercial de Santos, LIDE Litoral Paulista, Pinacoteca Benedicto Calixto, Museu do Café, B2Mamy, Instituto Multiplicidades, Juicyhub, Hub Brasil Export e Santos Convention & Visitors Bureau.

Uma das atrações do Santos Summit será a realização de evento satélite da Década do Oceano em uma parceria da Unesco (Organização das Nações Unidas para a Educação, a Ciência e a Cultura), Unifesp (Universidade Federal de São Paulo) e o Ministério da Ciência, Tecnologia e Inovação. A iniciativa inclui o 2º Fórum da Aliança Brasileira pela Cultura Oceânica e Adaptação do Clima, o Fórum dos Jovens Embaixadores do Oceano das Escolas Azuis e a Olimpíada Brasileira do Oceano.

Cidades, estado e inovação

Quando o trabalho remoto e híbrido se tornam viáveis, o movimento migratório começa a acontecer a partir das grandes metrópoles para cidades médias. O movimento que já era uma tendência antes da pandemia, foi acelerado entre 2020 e 2021. Para você ter uma ideia, se calcularmos as pessoas que se mudaram de Nova York durante esse período, chegamos na seguinte perda para a cidade: 12 bilhões de dólares. Esse dinheiro saiu de uma grande cidade para as cidades médias.

Mas para que essas cidades recebam esse verdadeiro impacto, é fundamental que elas tenham ambiente de negócios e favoráveis para a inovação, de modo a abrigar esses cérebros.

Cidades como Santos, terão o desafio de reter esses novos moradores e ofertar boas oportunidades para os locais, para que a economia seja beneficiada. Ajustando todas essas oportunidades, somadas à não perder o controle sobre seus custos de moradia (um dos principais motivos para afastar juventudes e diversidade das cidades) e criar medidas para combater mazelas sociais e climáticas, a cidade sairá do modo de “potencial” para o modo “realização”.

Pessoalmente, empreendo desde 2001 sonhando com momentos como esse. Parece que a nossa hora chegou.

E espero, que daqui há 12 meses, seja possível contar aqui no Juicy Santos sobre como nosso ecossistema está pujante, onde as pessoas tem acesso, a cultura de giveback esteja vívida e que a iniciativa privada e o poder público celebrem uma relação colaborativa e transparente.

Como escreveu Mariana Mazzucato, professora de Economia da Inovação e Valor Público e diretora do Instituto de Inovação e Interesse Público do University College London:

“Se quisermos que o crescimento hoje seja mais dirigido por inovação, mais inclusivo e mais sustentável, então nós precisamos de um estado mais ativo, não menos ativo. No entanto, ainda ouvimos o dogma que devemos apenas consertar a falha do mercado, concentrando-se na ciência e infraestrutura, e para “nivelar o campo de jogo.” – afirma a economista.

E nós assinamos embaixo e celebramos essa nova fase da cidade.