Texto porJuicy Santos
Santos

Nossa, que exótico! Uma santista morando em Bali

Bali? Nossa, que exótico.

Essa foi a primeira coisa que ouvi quando cheguei em Goa Gajah, um templo na região de Ubud, interior da ilha de Bali e contei que morava aqui.

Uma brasileira em Bali

O templo de Goa Gajah

Goa Gajah é conhecido como Elephant Cave Temple, ou o templo da caverna do elefante.

www.juicysantos.com.br - goa gajah em bali indonésiaFotos: arquivo pessoal

Esse nome se refere à entrada do templo, que possui uma caverna de meditação, algo muito usado pelos hindus (e também pelos budistas em outras partes da Ásia, como visitei no Myanmar) para meditações e orações. Essa, em especial, não tem mais essa finalidade.

No templo, encontram-se também algumas “piscinas”. Caminhando um pouco mais, é possível ver algo como uma cachoeira com uma estátua imensa toda desmoronada e com limo por todos os lados. Costumava ser uma estátua imensa de buda, como uma forma dos balineses dizerem que em Bali, única ilha predominantemente hindu da Indonésia, aceita e abraça todas as religiões.

www.juicysantos.com.br - templo goa gajah

Os balineses acreditam que nascemos todos sob o mesmo céu e então somos todos iguais, por isso essa homenagem no templo, que infelizmente foi destruído durante um terremoto.

www.juicysantos.com.br - templo de goa gajah

Religião na Indonésia

O budismo na Indónesia representa apenas 1% da população, enquanto o país é o maior país muçulmano do mundo.
Mas os muçulmanos daqui são um caso à parte, bem diferente daquilo que vemos na televisão.

Aqui tem muçulmano gay, tem muçulmano com casamento aberto (parece que não é só no Brasil que tem essa moda do poliamor), tem muçulmano que bebe e come carne de porco, muçulmano casado com estrangeiro, muçulmano com tatuagem de buda, muçulmano metaleiro, muçulmano chefe de cozinha, muçulmano que faz faculdade em outro país, muçulmano artista plástico, muçulmano que parece comigo e parece com você também, mas é muçulmano.

E a gente vê todo dia no jornal que muçulmano é perigoso. Com meus amigos muçulmanos, aprendo todo dia, mas isso fica pra um outro post…

www.juicysantos.com.br - indonésiaFoto: Artem Bali para Unsplash

Os indonésios dizem que eles tem 28 “culturas” diferentes. Por culturas, entenda-se rituais religiosos, línguas, comidas e rituais entendo essas ”culturas”, algo como se fossem tribos.

Isso tudo é incorporado nas principais religiões. Já visitei a Índia e o hinduísmo daqui, apesar de ter sido trazido pelos indianos em tempos muito remotos, é completamente diferente. Eles incorporaram rituais pagãos e tribais que devem ser ainda mais ancestrais que o hinduísmo e isso faz da religião algo ainda mais único.

As oferendas, ou Canang Sari, que eu apelidei carinhosamente de macumbinhas balinesas estão espalhadas por toda a ilha e são colocadas religiosamente 3 vezes ao dia, sempre por mulheres vestidas impecavelmente com seu sarongue e sua faixa na cintura, tudo tem uma explicação espiritual e quando aprender um pouco mais vou compartilhar com vocês.

Até poucas décadas atrás, antes dessa massa turística tomar conta da ilha, ainda era possível encontrar algumas das mulheres usando sarongue e de topless enquanto faziam as oferendas.

Dizem que em lugares menos turísticos da ilha ainda é possível encontrar senhoras com os seios de fora caminhando
tranquilamente. Talvez não seja só no Brasil que a religião (no Brasil o cristianismo impôs, aqui o islamismo que impõe) e a ocidentalização (americano fica escandalizado com seios de fora) tem coberto e sexualizado os seios das
mulheres, nossas indígenas hoje em dia usam camiseta escrita USA. Aqui elas usam lindas blusas de renda.

Mas por que eu estou fazendo esse paralelo entre Brasil e Bali?

Lembra lá na primeira linha do meu texto quando eu contei que me falaram que Bali era muito exótico na entrada do templo? Pois é, eu não ouvi isso de um inglês, de um americano ou de um escandinavo. Eu ouvi isso de dois cariocas.

Sim, dois cariocas. Do Rio de Janeiro, aquele lugar que é uma ebulição, um celeiro de exotismo, aonde nego bate bumbo na sexta e senta na igreja domingo, onde a amiga faz amarração pro amor na encruzilhada e depois sobe o morro pra roçar a bunda no chão. Aonde uma vez por ano construímos imensos carros alegóricos e mulheres desfilam semi- nuas com glitter, purpurina e salto alto usando aquilo que foi proibido aos indígenas, os seios de fora.

E então você, caro amigo brasileiro, vem me dizer que a Indonésia é exótica?

*Por Cristiana Ventura, artista plástica e estilista nascida em Santos. Já morou em Londres e São Paulo e, hoje, reside em Bali