Texto porWagner Alcântara

Rodovia dos Imigrantes – como era antes da segunda pista?

Em dezembro de 2002, quem transitava entre planalto e litoral ganhava uma nova opção mais rápida e segura para pegar o caminho da praia e de volta, a segunda pista da Rodovia dos Imigrantes.

Tecnicamente chamada de “pista sul”, a via era uma reivindicação antiga no estado de SP. Em épocas de alta temporada ou vésperas de feriado, a gente sempre se pega com medo dos congestionamentos na estrada para subir ou descer a Serra do Mar. E isso faz a gente se perguntar: se hoje é assim, como era antes de essa pista nova existir?

De fato, principalmente a partir de meados dos anos 90, os transtornos na ligação entre o planalto e o litoral faziam parte da rotina.

A “rodovia caçula” do Sistema Anchieta-Imigrantes (SAI) se tornou uma referência e um dos mais complexos projetos de engenharia rodoviária da América do Sul.

Tem 21 quilômetros de extensão e vence um desnível de 730 metros na Serra do Mar. Possui 3 longos túneis, totalizando 8.230 metros. O primeiro deles, o maior, com cerca de 3 mil metros.

Durante a construção dos túneis da Imigrantes, foram usados 4 equipamentos trazidos da Suécia, chamados “jumbos”. Eles faziam a perfuração do maciço. Para garantir a segurança, não só durante os trabalhos, mas depois deles, cada vez que as escavações avançavam, era colocada estrutura metálica nas paredes e teto, e depois o concreto era aplicado por robôs para estabilizar.

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A viagem, antes da segunda pista da Rodovida dos Imigrantes

O Sistema Anchieta-Imigrantes era constituído por três pistas, com 7 faixas de rolamento no total. Contamos um pouco sobre a construção da Anchieta-Imigrantes aqui no Juicy Santos.

Eram duas pistas da Anchieta, com duas faixas de rolamento cada. E uma pista da Imigrantes, com três faixas de rolamento. A inauguração dessa pista ocorreu em 1976. Àquela altura, só a Anchieta, em operação desde 1947, já não dava conta do fluxo entre a capital e o litoral.

Assim, passados dois decênios da entrega da primeira pista da Imigrantes, igualmente o sistema não comportava mais o vai e vem de veículos. A pressão de segmentos da sociedade pela construção de uma nova pista era grande.

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Em 1995, o governador Mário Covas (por sinal santista) assumiu o Palácio dos Bandeirantes tendo, entre seus projetos, viabilizar a ampliação da Imigrantes. Eram tempos de hegemonia de políticas neoliberais, e a opção foi por conceder a exploração do sistema à iniciativa privada. Em troca, entre os investimentos a concessionária deveria providenciar a construção da pista sul da rodovia.

A construção da nova pista

A Ecovias substituiu a estatal Dersa na operação do Sistema Anchieta-Imigrantes em 1998. Tinha cinco anos para entregar a pista nova.

Em 17 de dezembro de 2002, pouco antes de o prazo expirar, e a estrada foi entregue – já não mais por Mário Covas (morrera em 2001), mas por seu sucessor, Geraldo Alckmin.

Eram tempos também – e isso fazia décadas – de se priorizar o transporte rodoviário. O que, para a unanimidade de especialistas em transportes e logística, sempre foi um equívoco.

Proibida para ônibus

Abrir mais e mais estradas, viadutos e avenidas não resolve congestionamentos. Ameniza, temporariamente. Mas gera novos – e mais caóticos – com o passar do tempo. E por que? Porque, ao se abrir caminho para carros, mais carros passam a circular.

Aliás, a segunda pista da Imigrantes é produto do culto ao automóvel. A estrada foi projetada e executada para receber apenas veículos de pequeno porte. É proibida para ônibus.

Ou seja, o transporte coletivo fica prejudicado. Prejudicado, perde em qualidade. Sem qualidade, mais gente prefere usar o carro, superlotando as rodovias. Um círculo vicioso.

De volta aos anos 90

Passados dois decênios, e vivenciamos na subida e descida da Serra do Mar os mesmos transtornos de tráfego que faziam parte dos anos 90.

Portanto, parece evidente que não vamos solucionar o problema construindo uma terceira pista, não é mesmo?

Por que não pensarmos em um trem moderno, entre a Estação da Luz, em São Paulo, e a Estação do Valongo, em Santos? Quantos carros não poderiam sair das rodovias, desentupindo estradas e diminuindo a poluição atmosférica, por uma simples composição ferroviária? Por que não exigirmos um ramal ferroviário para o escoamento de cargas para o Porto de Santos, reduzindo o fluxo de caminhões?

*A coluna Santos90, dedicada a resgatar a memória da cidade e da região na década mais divertida do século XX, tem autoria de Wagner de Alcântara Aragão, em colaboração para o Juicy Santos.