Texto porLudmilla Rossi
Santos

Lendárias e Portuárias encerra primeira temporada mergulhando na questão gênero/porto

A ideia de criar um podcast sobre a presença das mulheres nos portos brasileiros surgiu de uma questão emergente: o porto é a nossa principal economia em Santos. Santos, que também é a cidade com maior percentual feminino em todo o Brasil. Parece óbvia a necessidade de cruzar os dois temas, mas pouca gente enxergou isso. E foi com o apoio da DP World que essa ideia finalmente saiu do papel, com o podcast Lendárias & Portuárias.

Eu não trabalho com porto. Não conheço a linguagem, os equipamentos e nem as funções. Antes do Lendárias, minha relação era como a de qualquer outra profissional que se interessa e atua com as demandas da própria cidade.

Quem conhece o trabalho do grupo Juicyhub sabe dos nossos esforços para deslocar o território onde vivemos da ideia de uma cidade essencialmente turística. A gente quer o turismo, claro. Temos orgulho das nossas belezas naturais e da nossa fama como cidade criativa, cheia de talentos no cinema, no teatro, na música… No entanto, a gente quer, também, ser palco de decisões e de trabalhos conectados com os debates globais contemporâneos.

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ESG em pauta

E o que o mundo inteiro está discutindo hoje nos mais diversos segmentos? Sustentabilidade.

Engana-se quem considera que abordar o tema é falar somente da “natureza natural”, de reciclagem e de vegetarianismo.

Falar em sustentabilidade também é discutir melhores relações de trabalho para homens e mulheres, para pessoas trans, para não-binários, para PCDs.

falar sobre mulheres ocupando cargos de liderança e em ambientes seguros para todos e todas.

É lembrar que a economia representa um conjunto de atividades desenvolvidas visando a produção, distribuição e o consumo de bens e serviços necessários à sobrevivência e, por esse motivo, ela atua de acordo com as demandas da sociedade e essa lógica não pode funcionar ao contrário.

A visão delas para o porto

O podcast Lendárias & Portuárias, então, surge com a proposta de abordar e debater uma economia fortíssima na nossa cidade e no País, a partir da presença de mulheres executando diferentes atividades no setor.

E, como o universo feminino é muito vasto e repleto de diferentes perspectivas que podem ser do ponto de vista racial, cultural, territorial, entre outros, esse produto cultural se preparou para a abordagem dos mais diferentes temas que podem atravessar o mundo de uma mulher no mercado de trabalho.

Falar sobre isso, infelizmente, é também falar sobre assédio, ansiedade, violência das mais diferentes maneiras, de salários desiguais, de sobrecarga, da necessidade de comprovar as suas capacidades todos os dias diante de colegas. E tanto a nossa produção, como a DP World não recuaram diante de nenhuma discussão necessária.

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Um mar de desafios

Ao longo dos 10 episódios da primeira temporada do projeto, conhecemos junto com o público mulheres que enfrentaram muitos desafios para ocuparem os cargos em que estão.

Tivemos o privilégio de apresentar, por exemplo, a história real da primeira mulher à frente de uma grande empresa portuária, Daniela Zicari. Assim como a primeira mulher a operar um equipamento de mais de 40 metros de altura, Fabiana Almeida e a primeira delegada de Santos, também é a primeira mulher a dirigir a Comissão de Segurança Pública dos Portos, Terminais e Vias Navegáveis do Estado de São Paulo, Luciana Fuschini Nave.

Diferente do que imaginávamos ao iniciar o processo de produção, não foi nem um pouco difícil encontrar mulheres desempenhando trabalhos inacreditáveis nos portos do Brasil.

Outra que marcou muito a temporada foi Paula Bispo que, literalmente, puxa um navio no braço.

E tivemos a honra de ouvir Jacqueline Wendpap que veio diretamente de Brasília, do alto de sua cadeira como primeira diretora do Instituto de Praticagem do Brasil, para dividir sua história com a gente.

Um porto plural

Ter sido a apresentadora do Lendárias & Portuárias foi uma oportunidade de expandir a minha própria perspectiva sobre as minhas capacidades como mulher e profissional. Escutar de outras mulheres tantas passagens de superação, força – às vezes, até física – determinação, ambição, renúncias, reconhecimentos… Tudo isso fortaleceu muitos dos ideais em que eu acredito e opero à frente do grupo Juicyhub.

Essa experiência também fez com que pudéssemos participar de algo muito importante: a fundamental reconstrução imagética do porto.

Como me disse Helena Pontes, logo no primeiro episódio, “as mulheres sempre estiveram nos portos”. Na verdade, os portos não existiriam sem a presença delas. Entretanto, o imaginário coletivo sobre esse ambiente produz, até hoje, a imagem de um homem carregando um saco nas costas, quando deveria se referir a um local altamente tecnológico, plural, mundial e palco de definições políticas e econômicas para o nosso País. Esse é o porto que queremos construir.

Por esse motivo, fico extremamente feliz em compartilhar, junto a DP World e toda a equipe técnica, esse produto cultural com a nossa audiência. Sabe aquele tipo de trabalho que só confirma a possibilidade do alcance dos seus sonhos mais utópicos? Mostra que outros cenários podem, sim, ser reais e nos inspira a pensar que um mundo melhor é, realmente, possível?

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Com esse sentimento, chegamos ao fim da temporada de estreia do Lendárias & Portuárias: uma história costurada com 20 incríveis entrevistadas para inspirar mais mulheres e meninas a ocuparem os mais diferentes lugares no mercado de trabalho, inclusive, nos portos do Brasil.