Texto porFlávia Saad
Santos (SP)

Como a cidade influencia na nossa saúde mental?

Morar em Santos, perto da praia, é o sonho de muita gente. Recebemos mensagens o tempo todo nas nossas redes sociais dizendo isso. Mas será que viver nessa cidade – e viver essa cidade – ajuda ou atrapalha a nossa saúde mental?

Por um lado, há a qualidade de vida que atrai muita gente para esses lados. Poder levar os filhos pra brincar na areia depois da escola ou ir a qualquer lugar de bicicleta usando as ciclovias parece um paraíso urbano, não? Mas a realidade é bem diferente, se você não quiser fechar os olhos para os problemas socioeconômicos que Santos ainda não conseguiu equacionar.

Faltam oportunidades para os jovens, o que resulta em uma tremenda fuga de talentos e cérebros para outros lugares. A mobilidade e o transporte público entre as cidades conurbadas da Baixada Santista tornam a locomoção cara e demorada para quem reside e trabalha na região metropolitana.  E, pra falar de dois superlativos, temos, ao mesmo tempo, o maior porto da América Latina convivendo lado a lado com o maior aglomerado de palafitas da América Latina.

No dia 4 de setembro de 2023, uma dessas comunidades sofreu mais uma vez com um incêndio de grandes proporções. Mais de 100 moradias foram completamente destruídas e 250 famílias perderam tudo na tragédia do Caminho São José, no Rádio Clube, em Santos.

Como, então, falar sobre saúde mental se não existe o básico da segurança para se existir na cidade?

Essa é uma das reflexões do episódio de estreia de AutentiCIDADES, novo projeto co-criado entre Juicyhub e Geopanoramas.

Hoje em dia, achamos normal associar saúde mental apenas à vida profissional e à vida afetiva. No entanto, raramente associamos isso a cidades. Já parou para pensar que as pessoas são empurradas para as periferias e obrigadas a passar mais tempo no trânsito?

www.juicysantos.com.br - saúde mental e cidades

A cidade rouba o tempo de vida das pessoas com mobilidade precária e falta de acesso.

No Brasil, dados do Censo (IBGE) 2022 mostram que a maioria da população (57%) está concentrada em apenas 319 municípios – dos 5.570 totais. Ainda segundo o Censo, 61% da população brasileira vive em concentrações urbanas, em municípios com mais de 100 mil habitantes, geralmente com cidades aglutinadas e integradas, o que sugere fortes desafios na gestão do território e da vida urbana.

O Relatório Mundial das Cidades publicado em 2022 pela ONU-Habitat aponta que a população mundial urbana atingirá a marca de 68% até 2050.

Além disso, levantamentos epidemiológicos associam crescer e viver em cidades a um risco consideravelmente maior de problemas mentais sérios, violência contra a mulher e depressão.

Embora a correlação não seja de causalidade, não é difícil imaginar que viver na pobreza possa contribuir e resultar em deficiências associadas a problemas de saúde mental. O isolamento social e a discriminação, bem como a pobreza no ambiente, contribuem para o fardo da saúde mental.

Um estudo relacionado ao aumento de custo de moradia em Londres indica que, que quando o valor do aluguel ultrapassa 30% da renda de uma pessoa, aumentam as chances de questões de saúde mental.

Em tempo: o Conselho Regional de Psicologia de SP tem um material bem interessante sobre moradia e seus impactos emocionais.

Há, ainda, a problemática do isolamento nas cidades e toda a dinâmica do individualismo. Não é difícil ver que a maioria das pessoas nos grandes centros urbanos andam de carro sozinhas e, dependendo da sua renda, sequer cogitam usar um transporte público.

Além disso, as próprias características físicas das cidades influenciam nosso bem-estar: barulho, carga sensorial altíssima, luzes, multidões, fadiga mental, acesso restrito à natureza… Isso só pra ficar em algumas delas.

Na estreia do AutentiCIDADES, os hosts Adriano Liziero (Geopanoramas) e Ludmilla Rossi (Juicyhub) debatem esses e outros pontos fundamentais para quem quer entender a relação entre saúde mental e cidades.

Assista ao episódio 1 de AutentiCIDADES sobre saúde mental e cidades

Sobre o canal AutentiCIDADES

A premissa do AutentiCIDADES é levantar perspectivas diferentes sobre a questão das cidades, cidades criativas e cidades inteligentes, abordando aspectos dos territórios que possam ir além de tecnologia, infraestrutura, arquitetura e urbanismo.

O podcast tem como objetivo cultivar o protagonismo das pessoas nas cidades onde vivem. Curiosamente, estreou no YouTube no mesmo dia do incêndio no Caminho São José.

Semanalmente, o canal AutentiCIDADES traz os hosts Ludmilla Rossi, empreendedora na área de impacto (Juicyhub) e Adriano Liziero, geógrafo e documentarista (Geopanoramas) conversando com convidados no estúdio.

“É raro nas conversas cotidianas as pessoas relacionarem saúde mental à cidade. Olhamos antes para o trabalho, para os relacionamentos afetivos ou familiares. Mas raramente entendemos que a cidade é um dos principais contextos com poder de melhorar ou piorar nossa saúde mental”, diz Ludmilla.

Para Liziero, é fundamental trazer vivências para a mesa.

“Procuramos trazer convidados especialistas, mas principalmente personagens que vivem as questões da cidade na pele”, completa Liziero.  

Até dezembro, 12 episódios de AutentiCIDADES com patrocínio da Intel vão ao ar, além de conteúdo extra filmado em Nova York. Veja alguns dos temas seguintes do canal:

  • Arquitetura e moradia são elementos de transformação?, com José Marques Carriço (arquiteto e urbanista, professor e pesquisador) e Jaqueline Fernandez Alves (arquiteta e urbanista especializada em patrimônio histórico e pesquisadora)
  • Como a educação pode mudar as cidades?, com Cleyton Carneiro (geólogo, professor da USP e Poli USP de Santos) e Rodrigo Savazoni (escritor, Autor de “O Comum entre nós”, Instituto Procomum)
  • Como uma mulher redefiniu um bairro e a mente dos urbanistas modernos, com Lev Moscow (professor de história no ensino público de Nova York e podcaster sobre economia em A Correction Podcast)
  • Como o jornalismo local pode salvar as cidades e, por consequência, a democracia, com Natália Viana (fundadora da Agência Pública) e Flávia Saad (head de conteúdo do Juicyhub)
  • Vulnerabilidade socioeconômica e cidades, com Julianna Laffront (coordenadora de desenvolvimento social e gestora pública) e Laura Dias (Mulher, negra, ex-usuária de crack e ativista pelas pessoas em situação de rua)

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