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Solte o controle e deixe a leveza invadir seu cotidiano

Mais um ano começou, já estamos no segundo mês de 2020.

Muitos de nós dedicaram um tempo para bolar aquela lista de metas e sonhos a serem alcançados a cada nova etapa de 365 dias que ganhamos. Eu também fiz listas de intenções durante alguns anos, o que realmente me ajudou a determinar objetivos de curto, médio, longo prazo, tirá-los do papel com disciplina e hoje me sentir realizada em diferentes aspectos da vida.

Mas, em algum momento, e acredito que foi justamente quando consegui provar a mim mesma minha capacidade de concretizar o que antes era ideia, passei a entender a importância essencial de que algum descontrole também se faz necessário e saudável no nosso caminho.

Sugestões para você

Não me entenda mal. Não recomendo a clássica chutada de balde. Pelo menos não hoje, nesta conversa, e apesar de tantas vezes ser a única saída. Falo de algo mais presente no cotidiano que são aquelas situações que, definitivamente, não dependem de nós para serem solucionadas. São repetitivas, constantes, de pouco em pouco até que criam dimensão. Mas não é sobre mim e nem sobre você. Nos afetam, mas não controlamos.

Estar em um avião é uma boa maneira de ilustrar o que quero dizer. Quando a aeronave decola a única coisa a fazer é apertar o cinto, esperar a comida chegar, ver um filminho, folhear a revista de bordo, olhar lá embaixo, se distanciar do ponto de partida… Onde você vai chegar e se você chegará totalmente seguro não depende mais das suas escolhas.

Embarcar num vôo é quando sempre lembro dessa verdade. Que tem hora que soltar o controle é o que resta. Se deixar levar, literalmente, porque não está mais (talvez nunca esteve) em suas mãos uma manobra, ou mudança.

Ao relembrar alguns desejos que eu escrevia com otimismo e fé nas minhas listas, agora me dou conta também quantos eram relacionados a esperar transformações em outras pessoas e ambientes de convívio. Isso rendeu frustrações, claro, mas foi mostrando que aquilo que eu poderia realizar deveria ser apenas sobre mim. Sobre transformações em mim. Para, então, alcançar o que eu queria – e que nem sempre seria impressionante para alguém. Qualquer sonho pessoal que considere a realização dos desejos pessoais do outro será carregado de emoções que não são nossas – e revertendo pra cá em culpa e conflito interno.

Realizações podem acontecer com ajuda e parceria, sem dúvida. Mas esses encontros que dão certo, mesmo com desafios no percurso, têm a ver com atração de buscas comum. E as diferenças são “conversáveis”. Não se tratam de conversão de ideias e sentimentos. Inspirar, especialmente pelo exemplo, é possível. Cada um, porém, precisa estar aberto para entender que mudar algumas ou muitas coisas é bom.

Não cabe a nós controlar. Mesmo que exista dor para alguém que amamos, que a gente se importa. Mesmo que a gente não saiba bem, em alguma parte do caminho, o que será de nós.

P.S.: Não fiz lista esse ano.

Suzane é santista e cofundadora da plataforma Mulheres Ágeis e da consultoria ComunicaMAG. É jornalista, mestre em sociologia, professora e escritora. É autora do livro “Tem Dia Que Dói – mas não precisa doer todo dia e nem o dia todo”. Mãe orgulhosa da vira-latinha Charlotte.

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