Texto porSuzane G. Frutuoso

Empoderamento feminino não é só um termo da moda

Há pouco mais de três anos, comecei a ler e pesquisar muito sobre empoderamento feminino e seus impactos. Não só na vida das próprias mulheres, mas também na de suas famílias e das comunidades onde vivem. A internet e as redes sociais tiveram um enorme papel na construção desse conhecimento.

Foi no espaço virtual que descobri em histórias de outras mulheres e em números de violência e desigualdades, cada vez mais estudados e revelados, que não, não estava bom do jeito que estava.

E que sim, eu mesma fui atingida em diferentes aspectos, tanto profissionais quanto pessoais, pelo machismo, pela intimidação apenas por ser mulher, por me ver assustada quando tentava avançar ou me libertar de limites e era julgada por escolhas.

Saindo do virtual, resolvi compartilhar com amigas, familiares e conhecidas minhas, em papos informais, percepções e ideias que vinha construindo.

Entendi que essa sensação também era uma constante no cotidiano delas. Algumas com mais e outras com menos consciência dessas situações. Mas todas, em alguma medida, incomodadas e tristes pelo que lhes era negado ou exigido.

O empoderamento feminino fora da internet

Três anos se passaram. Dentro desse tempo, criei com uma amiga uma marca justamente para transformar a realidade das mulheres. Para dar a elas a mão e dizer “estamos aqui para te apoiar, vá atrás do que você quiser, quando quiser, a gente ajuda você a se preparar, a buscar caminhos”. Muitas conseguiram rever questões em suas vida, mudar comportamentos, inclusive em seus relacionamentos, ocupar mais espaços, ter mais coragem para se impor e recomeçar.

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Mas um detalhe em todo esse movimento apertou meu coração: aquelas que se davam conta de que não estava bom, mas não tinham forças para modificar padrões. Parte delas porque temiam as reações dos parceiros.

Se empoderar para empoderar as outras

Por mais que a gente indicasse em nossos eventos terapia e coach para autoconhecimento, livros, sites, filmes e documentários para construção de pensamento, informações sobre direitos e como pedir ajuda, algumas paralisaram por se compreenderem inseridas em um cenário difícil e doloroso. Que já era sentido até então. Mas, de guardado a sete chaves, ficou escancarado. E não dava para chegar em casa dizendo “vamos rever tudo isso aqui” porque existiriam consequências, como violência.

Meu processo de auto-empoderamento por me enxergar como uma ponte capaz de empoderar outras mulheres passou a caminhar com uma culpa gigante: que direito eu tenho de mexer com a realidade e as vulnerabilidades delas? De empoderada passei a esgotada e confusa. Até que um amigo me convidou para dar palestra sobre mulheres no mercado de trabalho em uma faculdade…

Ampliando a conversa

Era abril de 2018 quando falei em uma noite para estudantes da cidade de Taboão da Serra, na região metropolitana de São Paulo. Abordei oportunidades no mercado de trabalho para mulheres e expliquei o que fazia dessa conversa algo tão importante neste momento da nossa sociedade: empoderamento feminino. Inseri as questões de diferentes tipos de violências que as mulheres sofrem na apresentação e quanto isso atrapalha/impede suas realizações.

Pela primeira vez desde que comecei a dar palestras, me vi diante de algo diferente: das oito pessoas que vieram conversar comigo depois da apresentação, sete eram rapazes. Um deles disse “professora, agora entendi porque meu casamento não está bem… Eu sou um homem violento…”.

Era isso. A conversa precisava ser ampliada. Não bastava mexer em um lado, mas dar um jeito de construir uma consciência de igualdade de gênero como um meio de empoderamento da sociedade. De uma revisão do tipo de masculinidade repetida até aqui. De começar cedo, o mais cedo possível, com meninas e meninos, moças e rapazes, de que estamos todos sofrendo por padrões pesados demais, para todos.

Diversidade começa na educação

Acabei convidada a lecionar nessa faculdade em Taboão. E, poucos meses depois, em outra universidade em Alphaville, Santana de Parnaíba, também próxima a São Paulo. Ali, meu coordenador já havia criado a Semana da Diversidade, evento de quatro dias em que palestrantes contam sobre suas atuações e bandeiras não só a partir da questão de gênero, mas também de etnias, religião, culturas, idades, classes sociais.

O reflexo na maneira de pensar dos alunos é evidente. Há interesse em entender e respeitar o diverso. Mesmo que cause algum incômodo pelo estranhamento inicial, eles são capazes de internalizar que a diversidade faz os dias melhores e mais justos. Enquanto muito se fala das empresas criarem diversidade em suas equipes porque diversidade gera inovação e inovação mantém uma organização forte no mercado, meu coordenador (que hoje é também meu amigo) foi genial e visionário ao determinar que o diverso deveria ser parte da formação desses jovens.

Portanto, o caminho é longo. Essa não é uma conversa com conclusão. Há oscilações e muito por ser feito. Eu mesma por vezes ainda me pego perturbada por gerar algum caos na cabeça das pessoas. Mas me apoio nos retornos positivos. No começo deste semestre, um aluno disse:

“Professora, você é luz nessa escuridão que é o preconceito ainda de tanta gente.”

Então, faz sentido. E cada um lida com os demônios que constrói. Os meus são maravilhosos e fazem o mundo girar.

Suzane é santista e cofundadora da plataforma Mulheres Ágeis e da consultoria ComunicaMAG. É jornalista, mestre em sociologia, professora e escritora. É autora do livro “Tem Dia Que Dói – mas não precisa doer todo dia e nem o dia todo”. Mãe orgulhosa da vira-latinha Charlotte.