Engenho dos Erasmos e uma viagem no tempo em 3D

Talvez você nem saiba – ou até tenha se esquecido – que Santos guarda em seu território um dos sítios arqueológicos mais importantes para contar a história do Brasil. O Engenho dos Erasmos foi um dos primeiros do país. Hoje, se desdobra em vários. Suas ruínas são um monumento nacional, com um conjunto arquitetônico e histórico raro por aqui. Também é um centro de pesquisa, além de oferecer atividades culturais gratuitas o ano todo. E funciona como Base Avançada de Cultura e Extensão Universitária da Universidade de São Paulo (USP).

E, agora, mais de 5 séculos depois de sua construção, o Engenho dos Erasmos propõe uma viagem no tempo em 3D. Uma experiência imersiva para conhecer por dentro esse lugar que explica um pouco sobre a formação da economia e da sociedade brasileira.

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O projeto Reconstrução Virtual do Engenho São Jorge dos Erasmos convida para um passeio em vídeo e áudio em 360º, utilizando técnicas de realidade virtual. Tem realização da produtora santista Release Eletrônico, por meio do PROAC do Estado de São Paulo de 2019.

Com essa tecnologia, o espectador vai não apenas conhecer por dentro um engenho do século XVI, como também vê-lo em funcionamento.

www.juicysantos.com.br - reprodução de um engenho de açúcar em vídeo 360 engenho dos erasmos em santos sp

Engenho dos Erasmos por dentro – sem sair da sua casa

Se São Paulo é, atualmente, o estado mais industrializado do país, as origens estão no açúcar e nos engenhos.

Silvio Reis Jr., da Release Eletrônico, explica que a ideia era mostrar para o Brasil e o mundo o papel do açúcar no desenvolvimento da economia do país.

“O edital (PROAC) é de 2019, justamente num período em que eu estava iniciando o trabalho com a técnica de imersão em 360º. Eu sempre me identifiquei com o Engenho São Jorge dos Erasmos e vi no PROAC uma forma de mostrar que Santos já produziu açúcar, produto em que o nosso porto é líder mundial em exportação. Assim surgiu a ideia do filme”, conta o produtor executivo.

A direção ficou a cargo de Gilberto Caserta (foto). Ele participou da finalização do longa metragem O Menino e o Mundo, finalista no Oscar de 2016.

www.juicysantos.com.br - gilberto caserta diretor do filme engenho dos erasmos

O vídeo com imersão 360 graus possibilita viajar no tempo e colocar as pessoas dentro do cenário, com o engenho funcionando em 1570.

Desafio: como funcionava um engenho do Brasil colonial?

Um dos maiores desafios da equipe foi suprir a dificuldade em encontrar material histórico e referências visuais das edificações e dos processos da época. Para solucionar isso, o projeto teve dois parceiros importantes. A professora Dra. Vera Lucia Amaral Ferlini, coordenadora da pesquisa e o pesquisador Dr. Luís Otávio Pagano Tasso foram grandes facilitadores do filme.

“Com o apoio dos professores da USP, pudemos entender melhor os processos envolvidos na produção do açúcar naquele período. A partir desses dados, partiu-se para a modelagem da estrutura arquitetônica do ambiente, equipamentos utilizados em cada etapa e dos escravizados negros e índios que lá deixaram seu suor e vidas. Com seu profundo conhecimento, eles nos deram dados, mostraram documentos históricos e forneceram um
escaneamento de superfície do local, feito com drone, e nos trouxeram clareza sobre o que estávamos fazendo. Foram mais de 20 meses de
trabalho”, relata Caserta. 

Além do cenário, a interação em 3D foi detalhadamente planejada. Imagina só: o time produziu mais de 9 mil imagens em alta resolução, geradas a cada novo teste!

“Decidimos criar a interação fazendo uso de um personagem cativante, chamado Táquion. É ele quem nos leva nessa jornada. Partimos do desenho conceitual, criamos a versão tridimensional, movimentação da cauda, olhos e boca, testes e escolha da voz, com o sincronismo dos movimentos. Deu muito trabalho e satisfação, com uma equipe engajada ao longo de mais de 9 mil imagens em alta resolução, que necessitavam de aproximadamente uma semana para serem geradas a cada teste”, explicou Caserta.

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Segundo o diretor, todo o processo gerou conhecimento e metodologia que podem ser utilizados em outras produções com a mesma finalidade histórica. Ou seja, registrar as memórias de outros pontos de referência para a história brasileira.

Um lance interessante é que, além do tratamento de imagem e da construção de uma narrativa, o áudio teve papel importante. Ele foi criado especialmente para ajudar a conduzir o espectador para dentro da trama. Flávio Medeiros, premiado engenheiro de som, pesquisou referências em Hollywood para aplicar a tecnologia ambisonic. A gente pode tentar descrever aqui, mas recomendamos que você assista à experiência pra entender do que estamos falando.

Trata-se de criar um cenário exclusivo em áudio. Tudo isso pra dar a sensação de realmente estar no ambiente. O som acompanha a imagem nos espaços que o usuário explora. À medida que um observador muda o foco da visão, a percepção do som também muda. A imersão sonora 360º reproduz estas diferenças.
presente no ambiente retratado.

Para “guiar” esse passeio, o diretor recrutou Táquion, uma minhoca quântica. Esse animal não foi esoclhido por acaso. Faz referência a duas teorias da física quântica. Primeiramente, o Buraco de Minhoca relacionado à viagem no espaço/tempo. Além disso, tem relação com uma partícula, ainda não comprovada, que seria mais rápida que a velocidade da luz, cujo nome é Táquion. O personagem tem a dublagem de Lucas Mendes.

Em resumo, o filme Reconstrução Virtual do Engenho São Jorge dos Erasmos é a reprodução mais fiel possível de um engenho de açúcar no Brasil.

A meta inicial, antes da pandemia de COVID-19, era produzir o filme e apresentá-lo para grupos utilizando óculos de realidade virtual (VR) no próprio Engenho dos Erasmos. A meta teve que ser alterada. Portanto, o filme, com a mesma tecnologia, ficará disponível em um hotsite até 31 de dezembro.

Bateu a curiosidade de assistir, né? Então corre para o site História 360 para fazer um tour pelo engenho de açúcar mais antigo do Brasil. Também está disponível no YouTube.

O que é o Engenho dos Erasmos

O conjunto histórico/arquitetônico fica no Morro Santa Terezinha, Zona Noroeste de Santos. E é, atualmente, um dos poucos testemunhos preservados do início da ocupação europeia no território americano e do contato do colonizador com indígenas e africanos escravizados.

www.juicysantos.com.br - engenho dos erasmos sitio arqueológico Fotos: site oficial do Engenho dos Erasmos

Nos idos de 1530, Martim Afonso, então Governador da Capitania de São Vicente, mandou construir um engenho. Em seguida, sob direção da família Schetz, o Engenho dos Erasmos viveu seu auge. Em 1620, foi vendido em decadência. Isso por conta da concorrência do açúcar do Nordeste e os sucessivos ataques piratas.

Em menor escala, continuou produzindo açúcar para exportação, além de rapadura e aguardente para consumo interno. Registros dão conta de que funcionou até o século XVIII.

Já no século XX, as ruínas foram adquiridas por Otávio Ribeiro de Araújo, que loteou a propriedade e doou o Engenho São Jorge dos Erasmos à Faculdade de Filosofia, Letras e Ciências Humanas da Universidade de São Paulo, no ano de 1958. Entre os anos 60 e 90, foi tombado nos níveis nacional, estadual e municipal.

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Nas décadas de 1990 e 2000, viveu um “renascimento”, com várias escavações arqueológicas encontrando partes significativas das ruínas. Os achados ajudaram a construir novos conhecimentos sobre a ocupação do Brasil colonial.

Toda a história do Engenho dos Erasmos está completinha no site. Vale a pena dar uma olhada e, assim que for possível, conhecer esse lugar.