Texto porVictória Silva
Jornalista, Santos
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Bolsa do Café: como os grãos de café impactaram a história de Santos

No ano de 1727, o brasileiro ainda não sabia o que era café.

Em Santos, a Rua XV de Novembro, talvez, ainda não tivesse sido loteada. E o porto, que hoje é o maior complexo portuário da América Latina, não existia nem no papel.

Foi naquele ano, no qual o Brasil ainda era uma colônia de Portugal, que as primeiras sementes de café chegaram por aqui, diretamente da Guiana Francesa, e foram levadas para o Pará.

E o café começou, então, a ser plantado no norte do país.

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O plantio inicial não teve números muito expressivos. Em resumo, era destinado ao consumo interno e exportações para a coroa. De acordo com historiadores do Museu do Café, o cenário só começou a mudar na virada do século. Quando, em terras fluminenses, as sementes encontraram melhores condições para prosperar.

Nasce, então, uma verdadeira potência na exportação do café

Por conta dessa mudança – e também da guerra entre o Haiti, até então principal exportador do grão, com a França – ao longo do século XIX, o Brasil se consolidou como uma potência na exportação do grão.

Nas décadas seguintes, as plantações de café, gradualmente, mudaram de endereço. Saíram do Vale do Paraíba (fluminense e paulista) para o entorno de Campinas.

E, com isso, Santos nunca mais foi a mesma.

Quem explica é Bruno Bortoloto, pesquisador do Museu do Café.

“É seguro dizer que a partir da década de 1850 Santos já tinha um volume expressivo de sacas exportadas, ultrapassando pela primeira vez o açúcar, que era o principal produto paulista até então”.

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Na safra de 1890-1895 o porto de Santos já era conhecido como “porto do café” e a cidade era líder na exportação dos grãos. O que não mudou até hoje. Com isso, alguns avanços aconteceram por aqui como, por exemplo, a construção da primeira ferrovia do estado de São Paulo, que ligava o Porto de Santos a Jundiaí.

Além de todo o impacto cultural, urbano e populacional.

Só para ilustrar, era na cidade que ficava a Wall Street Brasileira. Mais conhecida como Rua XV de Novembro. Sim, aquela que quando o café chegou ao Brasil ainda não existia. Também foi por conta da movimentação dos grãos de café que os canais de Santos começaram a ser pensados e até mesmo a construção da Santa Casa (primeiro hospital do Brasil) teve ligação com o café.

E é aqui que a Bolsa do Café entra nessa história

A exportação do café trouxe para Santos barões e também uma movimentação financeira até então inimaginável. As ruas da cidade passaram a ganhar casarões, como a Casa da Frontaria Azulejada, por exemplo.

Por isso, surgiu a necessidade de criar um espaço formal para que as negociações acontecessem.

Em 1917, graças a um decreto federal, a Bolsa do Café começou a funcionar. O prédio onde atualmente funciona o Museu do Café, porém, foi inaugurado apenas em 1922. E já que este era o ano de comemoração do centenário da independência do Brasil, a grandeza da construção fez parte da comemoração.

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Para quem gosta de arquitetura, é possível observar influências neoclássicas e também do barroco na construção.  Para além disso, o interior da Bolsa do Café tinha (e, aliás, ainda tem) nada menos do que quatro obras de Benedicto Calixto:

  • O Porto de Santos em 1822 (tela)
  • A Fundação da Vila de Santos – 1545 (tela)
  • O Porto de Santos em 1922 (tela)
  • A epopéia dos bandeirantes (vitral)

O valor histórico do prédio é tão grande que, em 2009, ele foi tombado pelo Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (Iphan).

Para observar na sua próxima visita ao Museu do Café

Na próxima vez que você for ao Museu do Café, esses são apenas alguns dos detalhes que devem ser observados.

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Também é curioso observar o vitral acima das portas da entrada, que têm o símbolo do Brasil na época da inauguração – quando o país era chamado de Estados Unidos do Brasil. E dar ainda mais atenção ao Salão do Pregão, já no interior do museu. Pois esse é um lugar que responde a pergunta que muita gente se faz: o que acontecia na Bolsa no Café?

Resumidamente, era quase uma bolsa de valores. Mas no lugar de negociar a cotação de moedas, a cotação negociada era a das sacas do café.

Se, em 1727, nenhum brasileiro sabia o que era o café, atualmente, a visita ao museu dá um panorama incrível sobre os grãos. O acervo permite que o visitante conheça desde uma estufa com plantas de café até a história de quem trabalhou nas plantações e uma linha do tempo até os dias de hoje.

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Além disso, as exposições temporárias trazem ainda mais curiosidades.

Até julho de 2022 a mostra temporária é sobre as mulheres que fazem parte desta história e, até então, eram invisíveis.

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Quanto custa visitar o Museu do Café

Ficou com vontade de dar uma passada por lá? A visitação acontece de terça-feira a sábado, das 9h às 18h e aos domingos das 10h às 18 horas. O ingresso custa R$ 10 e pode ser comprado na hora (a bilheteria fecha às 17h). Aos sábados, a visitação é gratuita. E, durante a semana, rola meia-entrada para estudantes e idosos.

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Antes de ir embora, não deixe de passa na cafeteria do museu. É uma oportunidade e tanto para provar diferentes preparos – tem, inclusive, café de jacu e sorvete de café (por aqui, a gente ama). E a lojinha tem lembrancinhas lindas e camisetas para coffee lovers.

O endereço é Rua XV de Novembro, 95, no Centro Histórico.