Você conhece a história da Casa da Frontaria Azulejada?
Confesso que passei em frente à Casa da Frontaria Azulejada várias vezes sem dar a devida importância à construção, por pura falta de atenção ou simplesmente por pressa.
Sei que as ruas da ‘Cidade’, como a minha vó e a maioria dos antigos chamam o Centro de Santos, foram o cenário de muitos capítulos da história do Brasil – e, em alguns casos, abrigaram os personagens da nossa série História Papo Reto (exclusiva para o Facebook). Mas nunca me questionei sobre a importância deste endereço especificamente.
Numa última visita ao bairro, acompanhada de amigos do nordeste do país, minha ignorância foi colocada em jogo. Eu não sabia explicar o que era a construção da Rua do Comércio, 96.
A história da Casa da Frontaria Azulejada
Gaguejei algumas vezes e decidi dar um Google em busca de uma explicação.
Nada convincente e explicativo o bastante. Fui à biblioteca e perguntei para algumas pessoas. Meus amigos voltaram para casa, mas vale a explicação aqui no Juicy Santos.
Essa vai para todos os santistas e visitantes que não sabem o que foi a Casa da Frontaria Azulejada.
A casa, que hoje abriga vários eventos culturais e também serve como cenário para fotógrafos, é datada de 1865.
A construção apresenta influências da arquitetura neoclássica e foi concebida para ser a residência e armazém do comendador português Manoel Joaquim Ferreira Netto. É esse fato que explica as portas largas e os grandes arcos no interior da casa. O projeto tinha como objetivo facilitar a entrega e retirada de produtos do local.
No térreo, ficava o armazém e, no piso superior, a casa dele.
No período da construção, a população de Santos era dona de uma boa grana, por conta da exportação de café. Então não se assuste ao saber que a fachada da casa tem mais de 7 mil (!) azulejos em alto relevo, nas cores azul, branco e amarelo. Todos foram trazidos de Portugal exclusivamente para o revestimento do imóvel.
Com o passar de décadas, o local funcionou como hotel, escritório, armazém e depósito.
O tombamento em nível federal aconteceu em 1973 e, por isso, o endereço ficou abandonado por longos anos. Posteriormente, veio o tombamento do Condephaat e do Condepasa, as instâncias estadual e municipal de proteção ao patrimônio histórico e cultural. Afinal de contas, essa é uma das obras mais significativas da arquitetura de Santos e também da nossa história.
Quando foi desapropriada pela Prefeitura de Santos, a casa já não tinha todo esse glamour. Encontrava-se sem o teto e o piso superior (onde vivia o dono).
O “descuido” acabou sendo um dos maiores charmes da casa hoje, porque a parte que está aberta deixa entrar uma luz natural incrível.
Recuperação da história
Nos anos 1990, a Prefeitura colocou profissionais para trabalhar na recuperação do local.
O artista plástico Luis Sarasá, especializado em azulejaria, trabalhou na restauração da frontaria da casa. Outros profissionais foram responsáveis pelo trabalho feito na porta da entrada e reparos no interior da casa.
Desde 2007, a Casa da Frontaria Azulejada dá vida ao Espaço Cultural Frontaria Azulejada. Por isso, a agenda do Juicy Santos sempre traz atividades culturais de vários tipos que acontecem por lá, como o Santos Café, Encontro de Criadores e Santos Geek Cidade Criativa.
Manoel Joaquim Ferreira Netto
Nascido em Portugal em junho de 1808, Manoel imigrou para o Brasil em meados de 1838.
Por aqui, ele fez negócios no Rio de Janeiro e, em 1855, recebeu o título de comendador. Registros afirmam que ele se mudou para Santos e adquiriu armazéns de sal – tinha a ideia de construir um complexo imobiliário na cidade. O comendador é um dos responsáveis por, na época, transformar toda a região do Valongo e o antigo Bairro Chinês (que eram pouco frequentados), o que demostrou sua habilidade em fazer negócios.
Ele ainda fez parte da Irmandade da Santa Casa de Misericórdia. Mas nem tudo são flores: relatos indicam que, nna época, ele negociava escravos nas partes do fundo da casa.
Azulejos portugueses
Apesar do nome ter origens árabes, foi em terras lusitanas que o azulejo ganhou tradição.
No século XV, o estilo ganhou o coração de portugueses e espanhóis, que simplificaram a técnica mourisca (que levava muito tempo) e adaptaram os padrões ao gosto ocidental. Os primeiros exemplares serviam para revestir as paredes de palácios e igrejas e, depois, essa arte virou um símbolo e uma referência da cultura de Portugal e, consequentemente, da sua influência no Brasil.