Entrevista com Sérgio Willians, jornalista e editor do novo Almanaque de Santos

Quem se interessa por História (ou por histórias) precisa conhecer a reedição do Almanaque de Santos. Iniciativa do jornalista Sérgio Willians, um verdadeiro apaixonado pela cidade e seus causos, com apoio da Sabesp, do Instituto Histórico e Geográfico e do Ministério da Cultura, a publicação resgata a memória cultural, esportiva, artística e política de Santos com curiosidades e de uma forma gostosa e didática para o leitor.

Willians falou com o Juicy Santos sobre a revista.

Como surgiu a ideia de resgatar os almanaques?
Santos, por causa de seu porto, sempre foi uma cidade culturalmente agitada e aberta a todas as formas de expressão artística e intelectual. Quando as publicações em forma de almanaque chegaram ao Brasil, na primeira metade do século XIX, os santistas logo quiseram produzir seus próprios livros. O primeiro veio em 1871 e a partir daí a cidade não parou mais, editando inúmeras publicações no formato almanaque, que tem como princípio levar informação e lazer de forma misturada, o que chamavam antigamente de “miscelâneas”. Nas décadas de 60 e 70 um jornalista de Santos, Olao Rodrigues, marcou uma geração inteira de leitores com seus almanaques, inovando na forma da divulgação da história de Santos, buscando como gancho suas grandes curiosidades. Quando decidi iniciar um trabalho em prol do resgate da memória santista e regional, a partir de 2008, com o lançamento do livro “Pelas Curvas das Estradas de Santos”, deixei-me levar pela essência de comunicação dos almanaques, em especial os do Olao, e já comecei a planejar o processo. Um dia resolvi oferecer uma parceria ao Instituto Histórico e Geográfico de Santos, que precisava de produtos culturais. Eles aceitaram e foi um sucesso.

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De que forma esse formato foi adaptado para a linguagem atual?
Esse é que o grande lance da coisa! O último almanaque da cidade foi publicado em 1976, ou seja, há 35 anos. De lá pra cá muita coisa mudou em termos de acesso à documentos, imagens, mapas, pesquisas, etc. Hoje temos muitas ferramentas que permitem encontrar com rapidez as informações primárias. Mas não podemos ficar nelas. Temos que ir além e descobrir coisas novas, diferentes, que fazem saltar os olhos. Outra questão é a abordagem. A sociedade é diferente e não tem mais tempo (e paciência) para leituras de textos extensos. Eu digo que vivemos a geração twitter, de 140 toques. Por outro lado não podemos contar uma história com pouca informação. Então propusemos uma solução: textos leves e divertidos, alguns até com um toque de humor. Outro ponto é o visual. As pessoas estão muito exigentes com o visual, até porque o mercado publicitário e editorial tem caprichado na composição de publicações. Então pensamos: precisamos impactar na diagramação, fazer algo totalmente diferente. Acredito ter alcançado o objetivo, porque as pessoas tem gostado bastante do resultado.

Qual foi a parte mais difícil na elaboração desse primeiro número, em termos de pesquisa?
A grande armadilha são as fontes referenciais sobre assuntos. Há muita coisa divulgada de forma errada na história de Santos. É necessário fazer uma enorme avaliação de tudo o que se lê. E checar, checar e checar, como um bom jornalista.

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A história de Santos está bem preservada?
Não sei dizer se está preservada. Eu diria que está bagunçada e com uma bibliografia muito, muito defasada. Para você ter uma ideia do que estou falando, basta fazer um teste simples. Vá até uma livraria qualquer e peça um livro que conta a história de Santos, completa. Sabe o que eles vão te oferecer: A História de Santos, escrito por Francisco Martins dos Santos. Esse autor já morreu faz tempo e seu trabalho foi elaborado nos anos 40. Nos anos 80 houve uma pequena e modesta revisão e ampliação, feita pelo sobrinho do Francisco Martins, que é o Fernando Lichti. De lá pra cá só publicamos livros com histórias temáticas (sobre o porto, a hotelaria, o comércio, a arquitetura, etc), mas nada generalista.

O segundo número do Almanaque de Santos já pode ser encontrado em bancas e livrarias da Cidade.