3 livros de autores russos para ler durante a Copa
Uma das coisas mais legais da Copa do Mundo é a gente poder se sentir mais próximo de outras nações. Além das partidas e torcidas, também dá pra aproveitar o evento para conhecer melhor os lugares e costumes de países distantes. A cada edição, nos aprofundamos um pouquinho mais na cultura do país que sedia o campeonato.
A Rússia é a bola da vez. (Desculpem o trocadilho ruim. Pronto. Passou.)
A Rússia não é uma completa desconhecida para nós.
Tem frio, tem gelo, tem vodka, programa espacial, Vitas e matrioska.
Na culinária, estrogonofe, borsch, medovik (se nunca provou essa maravilha de mel, faça esse favor a você mesmo).
Flickr/Le Marais, Paris
Na literatura, Crime e Castigo, Guerra e Paz, Anna Kariênina. Mas não só.
Vem comigo descobrir ou relembrar três livros maravilhosos que não deixam dúvidas de que a literatura russa é uma das mais fantásticas de todos os tempos.
Autores russos que você precisa conhecer
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Vivendo sob o fogo, Marina Tsvetáeva
O também russo e também maravilhoso Tsvetan Todorov selecionou e reuniu, nesse volume, os trechos mais significativos da produção íntima da poetisa. O subtítulo da obra já diz do que se trata: confissões que Marina fazia para ela mesma, para amigos, para o papel. Sua vida agitada e transgressora já renderia um livro interessante por si só.
Mas, para além de um mero relato autobiográfico, “Vivendo sob o fogo” traz reflexões e cria imagens que só uma poeta conseguiria fazer. “Eu inteirinha sou em itálico”, “A palavra – segunda pele do indivíduo. Trindade: alma, corpo, palavra.”.
Tsvetáeva viveu entre 1892 e 1941 e tinha um forte posicionamento político e ideológico – polêmico até nos dias de hoje, que dirá naquela época.
Escreve ela em seus diários:
“Amar apenas mulheres (para uma mulher ou amar apenas homens (para um homem), excluindo de modo notório o habitual inverso – que horror! Amar apenas mulheres (para um homem) ou amar apenas homens (para uma mulher), excluindo de modo notório o que é inabitual – que tédio! E tudo junto – que miséria!”.
Entenderam o espírito, né? Cansou da fantasia de Frida Kahlo no carnaval? Faz a Marina.
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Avenida Niévski – Nicolai Gógol
Neste livro curtinho, somos convidados a dar um passeio pela Av. Niévski, uma espécie de Av. Paulista de São Petesburgo. O narrador parece caminhar pelas calçadas contando o que vê.
Seguimos um personagem, depois outro.
No caminho, vamos conhecendo algumas das características dessa avenida esplendorosa, magnífica, estonteante – pelo menos, nas palavras do narrador. Um homem vê uma mulher, interessa-se por ela, vai atrás. Outro homem vê outra mulher, idem, idem.
Acompanhamos os passantes em um dia qualquer de suas vidas, flanando pelas ruas, perseguindo seus desejos. A obra apresenta algumas das características da modernidade, tanto pelo ponto de vista do narrador quanto pelas escolhas temáticas e formais.
Destaque para a edição da saudosa Cosac Naify, que trabalha graficamente a ideia de uma grande avenida, dividindo o texto em dois blocos que vão e vêm na página. Coisa mais linda de se ver.
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Infância – Maksim Górki
Se escrevesse nos dias de hoje, este livro ganharia o selo da moda: autoficção.
“Infância” é o primeiro volume de uma trilogia de inspiração autobiográfica (Infância, Ganhando meu pão, Minhas universidades) do autor. Nele, acompanhamos o pequeno Aleksiei (primeiro nome de Górki), um menino órfão que é criado pelo avô, um senhor severo, muito religioso e duro com o neto, e pela avó, uma senhora doce e analfabeta.
Górki recria sua infância misturando episódios vividos a detalhes muito específicos para a memória humana reter, que só podem ter sido imaginados.
Travessuras de criança e brigas de família por herança são contadas pelo olhar de um menino que ainda está aprendendo o mundo.
O resultado é uma história que emociona sem ser piegas, diverte mas com profundidade. Pela riqueza no relato de situações cotidianas de uma família intensa, conseguimos saber um pouquinho sobre a vida em uma pequena cidade russa do final do século XIX.