Seri, a arte do humor em tiras

Em 35 anos de carreira, o cartunista Sérgio Ribeiro Lemos, o Seri, coleciona prêmios em salões de humor, já escreveu dois livros infantis e lançou há poucos meses sua terceira obra, Bichos, Homens e Deuses, uma coletânea de tiras em quadrinhos com sua marca registrada do humor, elaboradas para o Jornal Diário do Grande ABC.

(NE: Aqui no Juicy Santos, nós adoramos o trabalho do cara!)

E como se não bastasse, ele ainda encontra tempo para realizar oficinas culturais de quadrinhos para crianças, compartilhando seu conhecimento e experiência adquiridos ao longo dos anos.

Seri concedeu entrevista especial ao Juicy Santos, que você lê abaixo.

ILUSTRADOR SERÍ PARTICIPOU DO SALÃO INTERNACIONAL DE HUMOR DO PIAUÍ /reporter Luis / * / Cultura / foto Denis Maciel/DGABC 08 de janeiro 2014

Juicy Santos – O que te motivou a entrar nesse universo do cartunismo?
Seri – Certa vez, uma professora (do antigo segundo grau) disse que eu tinha potencial pra cartum e charge e eu acreditei. Me entusiasmei e comecei a procurar os espaços.

JS – Ao desenvolver um tema para uma tira, o que pesa mais na escolha: o contexto local (próximo de ti) ou o global (além de onde você está)?
Seri – Nada disso. Eu procuro olhar tudo que está em volta, mas mais principalmente leio jornais, vejo o que está sendo produzido. Não direciono nada. Me foco na criação. Sei que cedo ou tarde uma ideia qualquer vai rolar. Daí eu filtro o que acho que vai agradar a mim em primeiro lugar. Depois tento visualizar como o leitor vai reagir. Quero que ele ria ou pelo menos pense.

JS – Com a crise enfrentada pelos grandes jornais, como o mercado dos artistas que trabalham com arte gráfica como você tem se comportado?
Seri – A crise não é apenas dos grandes jornais. E não sei se pode-se chamar de crise. Crises são passageiras. O que estamos vendo no papel é definitivo. Está havendo uma migração total do que conhecemos como comunicação. Desde as redes sociais até a maneira como as pessoas conversam (Whatsapp) entre si mudou. Acabou o telefone celular como era há meses!!!! Nosso escritório tem cinco polegadas. Então o jornal de papel não vai acabar mas ainda não encontrou seu lugar – que existe – nesse contexto. Agora, nós artistas gráficos também estamos migrando. Estamos descobrindo blogs, apps etc. O que pega é como sobreviver de fato. Os apps não pagam como jornais, não têm piso. Ainda não paramos para pensar em reestruturação, mas o chacoalho é geral.

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JS – Como você avalia a intolerância dos religiosos para as críticas satíricas? Há de se ter bom senso de ambas as partes?
Seri – Isso sempre houve. Quem se acha dono da verdade, não quer ser confrontado, nem quer que ninguém ria dele. O nosso papel é confrontar, é fazer rir e pensar. O bom senso parte dos dois lados. Os limites também. O que é bom senso para mim, pode não ser para o cartunista francês. O tipo de humor deles é diferente do meu. O europeu é muito mais ácido. Os caras estão há séculos na minha frente e acho até que são mais corajosos. Eles cantam seus hinos nacionais sentindo o que estão cantando. Nós decoramos.

JS – No Brasil, aparentemente não há muita restrição quanto a uma crítica feita por meio de charges. Pelo menos não temos muito conhecimento de queixas desse tipo. Com está a situação atual?
Seri – Não há queixa porque nós não nos queixamos, mas há razões para isso. Há sim muitas restrições. Acho a restrição mais severa a da leviandade. A maioria dos chargistas é leviana, pode ver. As opiniões são unânimes. Nós não nos informamos, não questionamos apenas ilustramos o senso comum, o mainstream. Dá pra contar nos dedos de uma mão o número de chargistas (não cartunistas) que tem opinião própria e direcionam com independência sua responsabilidade social. Talvez a isso se chame sobrevivência.

JS – Como o uso da internet tem contribuído para propagar o cartunismo? É válido o uso desse recurso?
Seri – A internet é uma ferramenta maravilhosa para isso. Hoje eu acompanho em tempo real o trabalho de muitos amigos e colegas e vejo gente nova surgindo. MAs também tem muita coisa ruim, tipo coisa mal feita, plágio, uso indevido de imagens etc.

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JS – Sobre o livro, qual foi o critério para a seleção das tiras?
Seri – Utilizei o critério do riso. Achei que se tal tira me fizesse rir por fora ou por dentro, ela entraria no livro. E acho que deu certo. Adoro ver alguém pegando meu livro e rindo.

JS – Você tem participado de oficinas culturais com crianças. Como é que esse trabalho vem sendo desenvolvido?
Seri – Fiz as oficinas durante o processo do projeto Bichos, Homens e Deuses como contrapartida ao prêmio recebido. Minha intenção era contemplar gratuitamente comunidades carentes e distantes que não tivessem muita oportunidade de ir a uma escola de desenho ou uma galeria. Fiz oficinas em Cubatão, Mauá, Ubatuba e especial com pacientes soropositivos para HIV. O projeto está disponível pronto para outros públicos que possam pagar pela oficina, mas não descarto parcerias para levá-lo a mais comunidades carentes.

JS – Como as pessoas podem comprar o livro?
Seri – Em Santos, o livro está na Livraria Realejo (Av. Marechal Deodoro, 2, Gonzaga) ou comigo pelo Facebook (Seri Ilustrador), onde o interessado ganha também uma caricatura ao comprar. Em São Paulo, está na Livraria Cultura (espaço Geek) e na Gibiteria (Praça Calixto). Na internet, tem no site da Livraria Cultura.