Texto porLudmilla Rossi
Santos

Rogério Soares comenta a hipocrisia de todos nós

EU HIPÓCRITA. TU HIPÓCRITA. NÓS HIPÓCRITAS!
por Rogério de Abreu Soares

Ao contrário do que pensam não sou contra tudo e contra todos. Sou contra a hipocrisia, tão presente entre nós, inclusive em mim próprio. Antes de por-me contra Ronaldo, “o fenômeno” ponho-me contra qualquer um que faça uso de subterfúgios para safar-se de situações em que eles próprios se envolveram. Mentem, envolvem outras pessoas (inocentes ou não) e manipulam os manipuláveis!

Ontem, voltando da praia, deparei-me com uma triste – e infelizmente comum – visão. Um sr. afro-brasileiro (agora temos que ser politicamente corretos, outra hipocrisia) com seus filhos pequenos, todos sentados no chão. Esse sr., aflitamente, tentava chamar a atenção dos passantes para si.

Notei, e ele fazia questão de dizer, que ele não esmolava porém pedia dinheiro em troca de um pequeno trabalho manual. Notei também que NINGUÉM sequer olhava para esse sr. e suas crianças. As pessoas os viam e não os enxergavam. Os viam e fechavam a cara. Os viam e viravam o rosto para qualquer direção que as pusessem longe daquela, para eles, tão perturbadora visão!

Ele não existia e eu, inexplicavelmente, só conseguia de longe mas já me aproximando, olhar para toda aquela cena de tristeza e descaso; desespero e indiferença.

Olhava rapidamente para um e para os outros. Um elevando às mãos às pessoas, em súplica, e outros e mais outros encolhendo-se para não contrair aquela “lepra” de pobreza e necessidade. Ele então olhou-me e repetiu o gesto. Dessa vez ele teve sorte. Ao perceber minhas intenções ele disse: “não precisa dar dinheiro, não…!”. Ele só queria vender o seu trabalho, percebi de novo.

Sem jeito e apressado dei à ele o que estava sobrando. Dei-lhe uma esmola. Esmola, palavra miserável!

Não quis o seu trabalho e apenas lhe desejei boa sorte. Já havia feito a minha parte e eu estava satisfeito com a minha bondade disfarçada em uma nota de cinco reias. Seria fácil se assim fosse. Saí daquele pedaço de rua e segui meu caminho pensando o que seria daquele homem e de suas crianças. Fiquei zangado por ninguém, inclusive eu e a porcaria da minha esmola, fazermos alguma coisa.

Fiquei pensando, também – e é aqui que entra o Ronaldo – quantas daquelas pessoas que desviaram o olhar não se penalizaram pelo lacrimoso discurso do Ronaldo?

Comparei a cena.

De um lado, o pobre sr. e seus filhos, trocando um pequeno trabalho por moedas.

De outro, um velho milionário de 34 anos e seus filhos, pedindo perdão…, mais uma vez!

Como um povo dito como “bom” pode ser capaz de tão injusto julgamento? Por que é tão fácil gostar de celebridades e desprezar o sofrimento alheio, ao lado? Eu, infelizmente, não sei por que isso acontece. Só o que sei é que isso não vai mudar. É a natureza humana. É a herança dos brasileiros. O pior é descobrir que, após tudo isso, eu não sou melhor do que ninguém. O fato de eu, por alguns segundos compadecer-me com uma triste situação e não desviar o olhar, não me faz melhor do que ninguém.

Me faz apenas – e talvez – simplesmente menos hipócrita.

Grande coisa!

Rogério de Abreu Soares