Como o mar virou receita médica e nos levou para a praia
É verdade que na beira do mar a gente é mais feliz? Vem saber
Quando você pensa em Santos, qual é a primeira coisa que vem na cabeça? Bom, nossa cidade pode estar relacionada a muitas coisas, como Charlie Brown Jr., pão de cará, o Santos F.C de Pelé, o porto, o jeitinho santista e tudo mais. Mas a primeira coisa que vem na cabeça quando falamos de Santos é a sua praia.

Pode não ser a melhor do mundo, é verdade, mas é o nosso cantinho e nós amamos ela. Nosso mar é um pouco escuro (o que não quer dizer que seja sujo), mas é onde todos os santistas aproveitam o sol para dar um belo mergulho.
No dia 26 de setembro, celebramos o Dia Mundial do Mar. A data relembra a importância dos oceanos para a vida na Terra, o meio ambiente e o comércio global. Mais de 80% de todo o comércio mundial segue por via marítima. Nesse contexto, Santos exerce papel estratégico por abrigar o maior porto da América Latina. Então, nada mais justo do que falar sobre o mar santista, nosso verdadeiro queridinho.
As águas que curam
Você sabia que o mar de Santos era prescrevido como tratamento médico? Pois é, o mar era indicado para tratar problemas psicológicos, físicos e emocionais, principalmente o mar de Santos e aqui vai uma pequena aula de história para você entender o motivo.
Hoje cada bairro tem uma praia com seu nome, temos a praia do José Menino, Gonzaga, Aparecida e etc. Mas até o Século XX, toda a extensão da praia se chamava Embaré, nome que veio do tupi-guarani Mbaràa-Hé, que significa “águas que curam“. O nome não vem por acaso e é justamente o motivo do mar de Santos ser prescrevido pelos médicos.
As águas da nossa praia contém muito sal e iodo, além de minerais e substâncias vindas dos mangues (que fazem nossa água ser mais escura). Os médicos perceberam que por essas condições, o mar santista era ideal para o tratamento de algumas doenças de pele, dos nervos e músculos, carências no sangue e até resfriados comuns.
Segundo alguns relatos do site de memória Novo Milênio, milagres já aconteceram graças ao mar de Santos, como a cura de um paralítico, de um homem paralisado por conta de um AVC e de uma senhora com bócio (deformação causada por doença na tireóide).
De acordo com os relatos, essa mulher era moradora do Rio de Janeiro. Seu médico indicou que ela se tratasse com um banho no mar de Santos, mesmo estando perto de diversas praias cariocas. A senhora veio para a cidade e realmente se curou após 21 banhos.
De onde veio essa ideia?
Até o século XVIII, ninguém ia à praia por lazer. O banho de mar era visto como prática “pouco civilizada”. A elite europeia torcia o nariz para a ideia.

Tudo mudou quando o médico inglês John Floyer publicou, em 1701, o livro História do Banho Frio. Nele, defendia os benefícios da água salgada para várias doenças, incluindo a paralisia.
Em 1749, outro médico britânico, Richard Frewin, reforçou os benefícios da água marinha no tratamento de doenças físicas e mentais.
E foi aí que a praia virou tendência. Pessoas em busca de tratamento médico passaram a recorrer ao mar para aliviar sintomas e enfermidades.
Como isso chegou no Brasil?
Em determinada ocasião, Dom João VI sofreu uma infecção na perna após um ataque de carrapatos na fazenda de Santa Cruz, onde passava o verão. Para tratar as feridas, recebeu como prescrição banhos de mar, aproveitando as propriedades do iodo marinho.
Dom João VI era conhecido por ser medroso, um dos seus receios (além de franceses) era de crustáceos e principalmente caranguejos. Então o rei ia até a água dentro de uma liteira, na Praia do Caju, no Rio de Janeiro. Após submergir a perna por alguns minutos, os escravizados o retiravam. Em pouco tempo, se curou e não precisou mais recorrer à praia.
Como as ações da realeza sempre influenciavam os súditos, o hábito de tomar banhos de mar virou febre entre a população da então capital Rio de Janeiro, marcando o início da ocupação do litoral brasileiro para o lazer.
O respeito ao decoro
Claro que estamos falando de uma sociedade antiga. Então, ninguém ia para a praia de sunga e biquini nesta época, isso seria considerado uma enorme falta de respeito.

Existiam até horários específicos para poder entrar no mar, especialmente para mulheres. As cabines de banho eram usadas para garantir o pudor das senhoras, permitindo que entrassem no mar sem serem vistas pelos homens.
O que diz a ciência hoje em dia?
A ciência moderna confirma aquilo que a tradição já sabia: viver perto do mar faz bem para a saúde.
Pesquisas da Universidade de Exeter, na Inglaterra, mostraram que pessoas que moram próximas à praia têm 22% menos chances de desenvolver depressão e ansiedade. O som das ondas ativa áreas do cérebro ligadas ao bem-estar e à paz interior.
Além disso, ambientes praianos reduzem o estresse e estimulam exercícios físicos. O ar salgado favorece o sistema respiratório, beneficiando quem sofre com asma ou bronquite.
Um estudo da Universidade de Viena, feito em parceria com universidades inglesas, entrevistou 15 mil pessoas em 15 países. O resultado mostrou que quem mora perto do mar ou o visita com frequência se sente mais saudável, independentemente da renda ou da cidade.
Nem tudo são flores
Por outro lado, nem só de benefícios vive o nosso mar. Pesquisas recentes encontraram contaminação por cocaína em peixes, ostras e mexilhões da região. A poluição causada por lixo e esgoto também preocupa.
Esse cenário reforça a importância de ações como o Dia Mundial da Limpeza, além da mobilização contra a crise climática.
Nosso mar
Mesmo com tantos desafios, o mar de Santos continua sendo terapêutico. Hoje, com respaldo da ciência, ele segue carregando a tradição de “águas que curam”. Então, neste Dia Mundial do Mar, que tal mergulhar e renovar as energias no nosso escritório?