Cézar, o lixo e a praia de Santos

Um acidente logo na entrada da cidade fez com o trânsito ficasse ainda mais lento na orla de Santos.

Não passam de 13 horas e a fila de carros só aumenta.

Com o som ligado no volume máximo, o dono de um veículo esportivo joga a latinha de Coca-Cola ali mesmo, no meio da avenida. Depois, estaciona, pega uma prancha e vai curtir as ondas.

Do outro lado da avenida, Cézar de Oliveira Filho volta ao trabalho. A camisa xadrez tem as mangas arregaçadas, sinal de que o serviço é intenso e de que ele, apesar dos 65 anos, não para por 1 segundo.

Cézar

Assim como o rapaz impaciente no trânsito, muitos ainda cometem o erro de jogar o lixo no chão (mesmo com a possibilidade de ser multado). Não é o caso do grisalho morador do Morro do José Menino.

A vista de sua casa deve ser exuberante. Do alto do morro, dá pra ver o cartão postal da cidade. 

“Não sei nem te dizer quanto tempo eu vivo aqui, é um bocado de anos, viu? Trabalhei como zelador de prédio, mas decidi voltar minha atenção para a reciclagem quando vi o que estavam fazendo com o Tietê. em São Paulo. As encostas do morro são a mesma coisa, tomadas por lixo”, comenta, enquanto separa as garrafas que recolheu durante a manhã. “Quase acabaram com o Tietê, estão acabando ainda. Vão fazer a mesma coisa com o nosso mar? Os surfistas vão pegar onda no lixo?”.

Não, se depender do Cézar.

“Outro dia, um garoto passou por aqui reclamando da quantidade de lixo. Eu disse para ele que se trata de matéria-prima, lixo é resíduo de banheiro. Uma latinha de longa-vida dessa, por exemplo, vira uma telha de brasilit, que é muito melhor do que as que o pessoal usa, porque não quebra”.

Cézar

A consciência socioambiental do seu Cézar é tida como exemplo por alguns moradores da comunidade

“Já estou aqui há 26 anos, quando cheguei ele já fazia esse trabalho. É óbvio que precisa do dinheiro, mas a gente vê que o trabalho é feito com amor, é uma preocupação além do financeiro, quer ver o nosso bairro mais bonito”, comenta Ana, moradora da região.

“É claro, temos que fazer algo pela mãe natureza, né?”, finaliza o senhor, rindo.

Ele não parou o trabalho por nenhum segundo durante a entrevista.

Pra se pensar: será que a gente cuida da nossa cidade da mesma forma que o Cézar?