As balas do Samuel e uma lição de vida

Enquanto pessoas dirigem apressadas por uma das avenidas mais movimentadas da cidade e, por motivos pequenos, arrumam brigas a cada esquina que avançam, um jovem senhor caminha no canteiro central.

Estamos na Av. Ana Costa, próximo ao cruzamento com a Av. Vicente de Carvalho (praia).

Em uma das mãos, leva a bengala que sinaliza a deficiência visual. A outra segura um suporte, com os mais variados tipos de doces.

samuel

“Força de vontade supera qualquer situação. Eu nunca desisto porque sei onde quero chegar”. 

Essa é a frase que estampa o cartaz carregado por José Samuel Aquino, diariamente, neste mesmo local.

As balas do Samuel já são conhecidas por quem passa por ali. Ele é presença confirmada, de segunda-feira a sábado, há 8 anos. “Só folgo aos domingos”, explica rapidamente, enquanto do semáforo está aberto.

Próximo à ciclovia, Samuel é constantemente cumprimentado pelos ciclistas. Apesar da educação, poucos sabem a história do vendedor de doces.

“Eu fiquei cego quando era criança, tive retinoblastoma nos dois olhos”, conta Samuel. “Fui criado com a minha avó. Quando ela faleceu, minha mãe vendeu tudo o que tinha aqui em Santos e eu tive que ir morar com ela, na Bahia. A convivência por lá não foi boa, o marido dela me maltratava muito e ela me expulsou. Disse que preferia ele a mim”, continua, emocionado.

Eesse é apenas um detalhe em sua história.

Samuel voltou para a Baixada Santista e, chegando por aqui, contou com a ajuda de conhecidos para se estabelecer. Atualmente, é casado e conquistou sua casa própria, em Praia Grande.

O trabalho é apenas uma das dificuldades encontradas por Samuel. Em sua jornada, estão dois ônibus, para chegar a Santos. Os outros passageiros às duvidam de sua deficiência.

Os insultos muitas vezes o perseguem durante o trabalho. “Já teve caso de policia, as pessoas me veem com a barba bem feita, com a roupa arrumada e de óculos e acham que sou um oportunista. Esse negócio de inclusão é mentira. Eu afirmo isso porque sinto na pele. Para ter inclusão, tem que ter uma conscientização. Eu fico chateado, mas sei que isso é resultado de uma pobreza cultural que existe no país”.

E o Samuel, além de empreendedor, é conectado. Está no Facebook, que consegue acessar pelo smartphone. “Meu celular fala, consigo mexer em tudo”, conclui ao passar o seu endereço de e-mail e voltar ao trabalho.