Juicy Santos entrevista Taciana Barros, do Pequeno Cidadão
Não basta ser talentosa, simpática, ativista das bikes e ciclovias e ter papel fundamental no cenário artístico nacional.
Tem que ser santista.
Taciana Barros é um dos nomes por trás do projeto Pequeno Cidadão, que faz “música psicodélica para crianças”. Juntamente com Edgard Scandurra, Arnaldo Antunes e Antônio Pinto, ela gravou 2 dos discos infantis mais legais da atual música brasileira (Pequeno Cidadão e Pequeno Cidadão 2).
Nos anos 80, tocou teclado na Gang 90 e as Absurdettes, donos do hit Perdidos na Selva.
Depois do fim do grupo, a partir de 1987, Taci partiu para trabalhos como diretora de arte e editora de revistas. Seu amor pelas artes visuais transparece no trabalho do Pequeno Cidadão: todo o material da banda, desde encartes até videoclipes, são apresentados com um cuidado incrível com a estética, sem deixar de lado o sentimento de brincadeira de criança.
Taciana é mãe de Daniel (22 anos) e Luzia (9 anos) – os dois fazem shows com a banda também, ele no baixo e ela, na voz.
O Juicy Santos teve a honra de entrevistar Taciana (eu e a Filipa somos MUITO fãs!) e falar sobre suas lembranças da cidade, seus projetos e desejos pra nossa região.
Quais são suas memórias mais queridas da cidade de Santos na sua infância?
Minha infãncia em Santos foi a mais feliz possível. Minha mãe, avô ou avô levava a gente (eu e meus irmãos) todas as manhãs pra brincarmos na praia. Santos é perfeita pra se passar a infãncia, andar a pé, andar de bike, o Orquidário, o Aquário, a balsa pro Guarujá, a Ilha das Palmas, pegar onda de prancha de isopor, nadar no mar, as brincadeiras na rua e mais infinitas coisas divertidas. Mas tem mais uma coisa inesquecível… O som grave e denso da buzina dos navios que eu ouvia no escuro do meu quarto e que me dava uma paz enorme.
Quando e em que circunstâncias você foi embora pra SP?
Aos 17 anos, eu tocava piano elétrico com um grupo em Santos chamado Aeroblues. A gente tocava num cinema que virou casa noturna em frente à praia chamado Heavy Metal (NR: depois de outras encarnações como casa noturna, virou uma igreja evangélica nos anos 2000) e uma noite o Julio Barroso (lider da banda Gang 90 & Absurdettes) estava lá, assistiu nossa apresentação e me convidou pra entrar na Gang 90.
Foi aqui que você começou a se envolver com música? Como aconteceu isso?
Desde que me entendo por gente já falava que seria música ou astronauta.
Comecei a estudar piano aos 5, depois entrei na escola Lavignac, que foi muito importante na minha formação musical. Fiz também em Santos aula de piano erudito. Paralelamente a esses estudos, aos 14, comecei a ir uma vez por semana pra São Paulo estudar música no CLAM, do Zimbro Trio. Aos 16, comecei a tocar piano elétrico no Aeroblues.
Santos era um lugar com uma efervescência cultural grande nos anos 80, não? O que tinha de tão especial por aqui nessa época?
Saí de Santos em 1982 mas essa época de uma forma geral estava muito interessante para quem tinha bandas e gostava de tocar ao vivo, porque existiam muitas casas noturnas e as rádios de todo o país começaram a tocar rock brasileiro.
Agora um pouco sobre a sua carreira: entre as artes visuais e a música, qual hoje tem ocupado maior espaço?
As coisas se misturam e conversam o tempo todo. O Pequeno Cidadão além da parte musical tem todo um universo decorrente da música. Fazemos livros (acabamos de lançar um escrito pelo Marcelo Rubens Paiva), dvd de animações, temos o Jornal do Pequeno Cidadão (http://issuu.com/pequenocidadao), além de tudo que envolve um show, como por exemplo o cenário e figurino.
E quando faço direção de arte para outros eventos, como por exemplo uma cenografia que acabei de fazer, também faço a música ou edito a música, ou seja, difícil dizer o que me ocupa mais. Passo bastante tempo estudando também, desde pequena estudar música é o que me dá paz de espírito, sofro quando não tenho tempo pra isso.
Você deu essa entrevista enquanto estava no estúdio. Quais são seus projetos atuais e para o futuro próximo?
Estamos gravando a nova música do Pequeno Cidadão chamada BICI BIKE MAGRELA. Ela é de autoria do Edgard Scandurra e minha. É uma música em apoio às ciclovias de São Paulo. Deve ficar pronta em breve, mas no nosso Facebook já postamos ela no dia que a estreamos numa ocupação que fizemos no Largo da Batata e também tem um link dela numa apresentação que fizemos ao prefeito Haddad, que é um defensor das ciclovias aqui também.
Você vem pra Santos de vez em quando? O que gosta de fazer quando está aqui?
Vou pouco, gostaria de ir mais. O que mais gosto de fazer quando vou pra Santos é andar de bike pela cidade. Passo por toda a orla, entro no porto, volto por algum canal.
E o que você acha que pode melhorar na cidade?
Cada vez que desço pra Santos percebo a mudança radical na arquitetura. Mais prédios altos e feios sendo construídos sem critério. Parece que quem de fato governa minha querida cidade hoje em dia são as construtoras.