Eliane Florez: uma santista no time de reconstrução de Porto Rico
Trabalhar com o que se ama e ainda ajudar uma causa importante em nível global parece um sonho?
Para Eliane Florez, esse desejo de infância se realizou – e da maneira mais incrível possível.
Essa santista vem traçando uma carreira cheia de pontos altos no setor público e privado. Atualmente cursando mestrado nos EUA, ela participou da força-tarefa de profissionais de todo o mundo para o planejamento da reconstrução de Porto Rico após o Furacão Maria que atingiu severamente o país em 2017.
Foto: Wikicommons
De Santos para os EUA
Eliane nasceu e foi criada em Santos. Desde pequena, sempre se enxergou trabalhando com arquitetura.
“Colecionava os panfletos de imóveis distribuído
Foto: s nos semáforos e brincava de desenhar espaços”, relembra.
Formada na Universidade Santa Cecília, estagiou na Prefeitura de Santos com o geoprocessamento (mapeamento digital) da cidade de Santos. Depois disso, trabalhou em escritório de arquitetura em Santos e em São José do Rio Preto.
Em 2011, recebeu uma proposta para integrar o time de profissionais da maior construtora de habitação popular pelo sistema Minha Casa, Minha Vida, a MRV Engenharia. Também atuou para o Tribunal de Justiça de São Paulo antes de sentir a necessidade de voltar a estudar.
“Não apenas (voltar a) estudar, eu queria um desafio maior, ter a experiência em outro país. Foi quando apliquei para o mestrado nos Estados Unidos. Escolhi a Universidade da Florida por ser muito bem conceituada pelos norte americanos (e a 3ª das 10 melhores universidades públicas dos Estados Unidos)”.
Foto: arquivo pessoal
Força da natureza
Em março deste ano, a Universidade da Florida elaborou, em conjunto com a universidade local e a Universidade Sapienza de Roma e a Universidade de Sevilha, uma conferência em Porto Rico, a fim de ajudar na recuperação e reconstrução de Porto Rico.
O local foi severamente danificado pela sequência de furacões que a atingiu no ano passado. Mais de 4.600 pessoas morreram.
“A fúria da natureza destelhou mais do que apenas as casas. Eles descobriram a pobreza da ilha, uma vez que o FEMA (órgão governamental para gestão de emergências) libera recursos para recuperação dos imóveis apenas para quem tem a titularidade da propriedade. E, como acontece no Brasil, muitas comunidades são assentamentos informais (comumente chamadas de favelas)”, explica Eliane.
O grupo passou 10 dias na ilha, ouvindo palestras como a do arquiteto David Gouverneur (professor da Universidade da Pensilvânia, com mestrado em Harvard, autor do livro “Planning and Design for Future Informal Settlements: Shaping the Self-Constructed City”) e Lucio Barbera (Presidente da Unesco em Qualidade Urbana Sustentável), entre outros.
Foto: arquivo pessoal
Além de ver as palestras, os arquitetos e profissionais visitaram áreas próximas a San Juan, também bastante afetadas pelos furacões.
“Fiquei assustada em ver que muitos dos danos, como rodovias que foram interrompidas por deslizamentos e casas onde sobrou literalmente só o piso, ainda não foram reparados – mesmo depois de 6 meses. O interior da ilha ainda estava sem energia, por causa da queda de diversos postes de transmissão. E o mais aterrorizante é que a temporada de furacões 2018 já começou no início de junho”.
Problemas em comum
Entre as áreas de estudo oferecidas, Eliane optou pelo laboratório de Habitação Resiliente e Planejamento Urbano. Isso significa que ela trabalhou com áreas de risco de alagamento. Além de ser um assentamento informal, há o problema de aumento do nível da lagoa. E, como a Eliane bem aponta, isso também acontece em vários bairros de Santos.
No penúltimo dia, os grupos apresentaram seus projetos para a banca da conferência e também para as prefeituras de duas das cidades portoriquenhas. Os planos de reconstrução de Porto Rico contemplavam desde novas tipologias de projetos habitacionais até reuso de contêineres para armazenamento de suprimentos.
“Foi uma experiência incrível, com pessoas de vários países, o que permitiu um intercâmbio imenso de informações. Também aprendemos muito com os moradores da ilha, sobre seus costumes e estilo de vida. E pudemos projetar em conjunto com estudantes de arquitetura da própria Universidade de Porto Rico, de forma que os projetos desenvolvidos atendam, de fato, às reais necessidades. No evento, havia duas outras brasileiras. Estavam também as arquitetas Daniela Coppola e Maria Victoria Marchelli, ambas de São Paulo, e Giselle Holz, de Porto Alegre”.
Para Eliane, ainda há muito o que ser feito, sem dúvida, na reconstrução de Porto Rico. Mas hoje, mais do que nunca, ela entende que é preciso começar de alguma forma e que a união faz toda a diferença.
“A arquitetura é realmente uma poderosa ferramenta para ajudar a mudarmos e melhorarmos o mundo”, finaliza.