A lenda santista da Loira do Banheiro: uma história que começou no Colégio Canadá
Segundo o livro "Contos de Terror e Lendas Macabras da Ilha de Santos", uma das versões da famosa lenda urbana teria origem em Santos
Quantas vezes você segurou o xixi na escola porque tinha medo da Loira do Banheiro? Quantas vezes ouviu que, se chamasse o nome dela três vezes em frente ao espelho, ela apareceria? A lenda aterrorizou gerações inteiras de estudantes brasileiros e virou parte do folclore urbano do país.
 
Poucos santistas sabem, porém, que uma das possíveis origens da Loira do Banheiro, lenda urbana que traumatizou gerações de estudantes, pode ter nascido bem aqui, na nossa cidade. A história aparece no livro Contos de Terror e Lendas Macabras da Ilha de Santos, de Dino Menezes, e envolve o tradicional Colégio Canadá.
É semana de Halloween e o clima de terror paira sobre Santos, nada mais justo do que mergulhar na história por trás do fantasma que assombrou sua infância.
A lenda que todos conhecem
Quem nunca ouviu falar da Loira do Banheiro? A história sempre se repete. O espírito de uma mulher loira surge nos banheiros femininos das escolas, pálida, com algodão no nariz e vestida de branco, como se tivesse acabado de sair do túmulo. Ela costuma atacar alunas distraídas, principalmente aquelas que matam aula escondidas.
Segundo Menezes, uma das versões da lenda começou em uma escola santista, o Colégio Canadá, uma das instituições mais antigas e conhecidas da cidade.
 
Fundado em 1934, o Canadá foi a primeira escola secundária mista da Baixada Santista. A Prefeitura de Santos construiu o prédio em um terreno doado pela Companhia City, empresa canadense que inspirou o nome Instituto de Ensino Canadá. Muito querido, o colégio teve alunos de destaque, como o ator Ney Latorraca, o ex-governador Mário Covas e o escritos Pedro Bandeira.
O primeiro diretor, professor Zacarias Farias, acabou se tornando personagem central dessa história sombria.
A suposta tragédia de 1944
Dez anos após a inauguração, em uma manhã de primavera de 1944, o diretor Zacarias recebeu um chamado urgente. Algo grave havia ocorrido no banheiro feminino. Uma aluna de 15 anos chamada Luciana tirou a própria vida.
A lenda conta que a jovem cortou os pulsos e, ao desmaiar, bateu a cabeça no vaso sanitário, e a pancada foi fatal.
Luciana teria se desesperado ao saber que sua melhor amiga, Marcinha, seria enviada para um convento no interior de São Paulo. As duas costumavam matar aula juntas, escondidas no mesmo banheiro onde a tragédia aconteceu. Rumores diziam que as jovens mantinham um romance secreto, denunciado por um colega apaixonado por uma delas (sim, a loira do banheiro saiu de uma fanfic lésbica).
Quando o pai de Marcinha, um rico comerciante, descobriu o caso, ele tirou a filha da escola e a mandou para o convento. Sozinha e temendo o preconceito, Luciana decidiu acabar com a própria vida.
As aparições
Os relatos estranhos começaram 1 mês após a morte. Uma colega de Luciana foi a primeira a ver o fantasma. Enquanto lavava as mãos, sentiu um arrepio e percebeu uma presença atrás de si. Ao se virar, viu Luciana, pálida, com algodão no nariz e vestindo a mesma roupa do enterro.
O espírito se aproximou, tocou o ombro da menina com uma mão gelada e tentou beijá-la. A aluna conseguiu escapar e saiu correndo em pânico.
Depois desse episódio, as aparições se tornaram frequentes. Ninguém mais ousava entrar no banheiro. Muitos acreditavam que o espírito de Luciana voltava para procurar Marcinha. O medo era tanto que vários estudantes deixaram de frequentar as aulas.
O acordo de silêncio
Para evitar escândalos, o diretor Zacarias propôs um acordo aos alunos que presenciaram ou sabiam das aparições. Quem guardasse segredo não teria faltas registradas naquele ano. Logo depois, a direção demoliu o banheiro e transformou o espaço em um almoxarifado. Desde então, ninguém relatou novos fenômenos no local.
Mesmo com o esforço para silenciar o caso, a história se espalhou. De boca em boca, ganhou novas versões e se transformou em uma das lendas urbanas mais conhecidas do Brasil.
Alguns acreditam que outras escolas aproveitaram o caso para impedir que alunos matassem aula. Desde então, relatos de loiras em banheiros se multiplicaram por todo o país, sempre com detalhes parecidos, uma mulher pálida vestida de branco que assombra os estudantes.
Uma das versões da lenda
Verdade ou não, a história da jovem Luciana e seu amor proibido por Marcinha se tornou parte do folclore santista e teria contribuído para criar uma das lendas urbanas mais duradouras do Brasil. Uma narrativa que mistura amor, preconceito, tragédia e terror, perfeita para ser contada nesta semana de Halloween.
Quando você ouvir alguém contar a história da Loira do Banheiro, lembre-se: essa lenda que aterrorizou gerações de brasileiros começou bem aqui, em Santos. O Colégio Canadá continua funcionando até hoje, na próxima vez que passar em frente, quem sabe você não sinta um arrepio ao lembrar da jovem Luciana.
