Parque Valongo: o projeto que vai mudar o jogo no Centro de Santos
Tem Valongo em Portugal, na cidade do Porto. Tem Valongo no Rio de Janeiro. Mas, para o santista, não há outro lugar tão especial quanto o “nosso” Valongo.
Imagine todos os passos e caminhos que já percorreram um dos mais antigos bairros de Santos, cuja história remonta ao século XVII. Seu nome vem do latim, vallum longum. O caminho que vai ao longo do mar. Uma região riquíssima em patrimônio e memórias. Que, agora, vai ser um dos propulsores da reestruturação do Centro Histórico.
No passado, o Valongo chegou a ter mais de 10 mil habitantes. Hoje, a região abriga apenas 251 moradores, assistidos por uma policlínica e duas escolas municipais. E lá ficam ícones do turismo, como Museu Pelé, o bonde, a Estação do Valongo (sede da Secretaria de Empreendedorismo, Economia Criativa e Turismo) e o Santuário Santo Antônio do Valongo.
Agora, com o projeto do Parque Valongo, essa parte da cidade verá sua maior transformação em mais de um século.
Este é o maior projeto de revitalização da área portuária santista. E faz parte do que passa a ser conhecido como Distrito Turístico do Centro Histórico de Santos.
As origens do Parque Valongo
A primeira versão do projeto teve origem cerca de 12 anos antes do início das obras.
O Centro – e o Valongo – passavam por uma fase delicada. Os prédios históricos estavam com pouca vida e em mau estado de conservação, o comércio seguia buscando uma sobrevida e centenas de imóveis se encontravam desocupados.
Segundo matéria do Diário Oficial em 22/2/2011, o programa já previa a revitalização da área com a construção de complexo turístico, empresarial e cultural nos antigos armazéns portuários (1 ao 8). Na época, a empresa Ove Arup & Partners elaborou estudos e apresentou as preliminares em audiência na Prefeitura. Além disso, mostrou projetos similares em outros países. Este plano envolvia, ainda, outras propostas como o mergulhão (passagem subterrânea para o tráfego de caminhões) e instalação de uma base oceanográfica da USP (Universidade de São Paulo) no armazém 8.
A ideia, porém, não evoluiu.
Porto e cidade juntos
Em 2019, o escritório do arquiteto paranaense Jaime Lerner, responsável por muito da identidade urbanística de Curitiba, propôs a revitalização da região central de Santos integrando porto e cidade, habitação e lazer. Os arquitetos Felipe Guerra e Ariadne dos Santos Daher, responsáveis pela concepção, em entrevista ao jornal Gazeta do Povo, explicaram que as proposições tinham como objetivo levar a experiência de Curitiba para Santos, respeitando a realidade de cada lugar. Em especial, em relação a transporte e acupunturas urbanas.
Acupuntura urbana é um processo que tem início em intervenções que acontecem em determinado local mas que, por sua repercussão, valorizam tudo o que está ao redor.
Para os arquitetos responsáveis, o Parque Valongo serviria como ligação simbólica e física entre Centro Histórico e cais. De acordo com Guerra,
“o Centro tinha a economia atrelada ao porto e eles andavam juntos. Hoje em dia, há uma ruptura, mas a cidade não pode andar sem o porto, afinal, muitas das riquezas se desenvolvem por causa da atividade portuária. Ela é fundamental para geração de empregos e renda”.
No entanto, a pandemia veio e as mudanças acabaram ficando para depois.
Foi apenas em 2023 que o sonho de reviver o Valongo começou a sair do papel.
Centro + vivo
Em resumo, o Parque Valongo vai unir lazer e turismo no trecho entre a Rua Riachuelo e a Praça Antonio Telles. Ou seja, os armazéns 4, 5 e 6. Posteriormente, há intenção de remodelar os armazéns de 1 a 3.
Os investimentos, até agora, totalizam R$ 78 milhões captados pela administração municipal junto à iniciativa privada.
A ligação entre as partes ficará entre a Rua XV de Novembro, no Centro Histórico, e o antigo armazém 4, no cais, na forma de uma passarela em cima da Rua Tuiuti e da Avenida Perimetral. Sua construção é uma contrapartida da Ferrovia Interna do Porto de Santos (Fips), que faz a gestão da malha ferroviária, e ficará sob responsabilidade da Rumo Logística. Além dessa obra, a empresa também se comprometeu a promover outras melhorias no Centro Histórico. São elas as rampas para ciclistas ao lado da Alfândega e na Bacia do Mercado, antiga reivindicação de usuários das barcas.
Além disso, em outubro de 2023, a Prefeitura de Santos obteve recursos adicionais para a implantação do Parque Valongo. A Autoridade Portuária de Santos (APS) vai transferir R$ 35 milhões, que serão usados para transformar áreas de antigos armazéns portuários, em espaço de lazer, convivência e de atividades esportivas e culturais. Outras empresas que estão aportando valores são a BTP (R$ 23,7 milhões) e Ecoporto (R$ 5 milhões).
Foto: Isabela Carrari
O projeto inicial do Parque Valongo foi apresentado em audiências públicas e dois equipamentos sugeridos nesse período estão no planejamento final: um playground e um píer flutuante. O processo, com as novas obras, também passou pelos órgãos de defesa do patrimônio: Conselho de Defesa do Patrimônio Cultural de Santos (Condepasa), Conselho de Defesa do Patrimônio Histórico, Arqueológico, Artístico e Turístico (Condephaat) e Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (Iphan).
O que está em construção
Já em andamento, a primeira etapa de obras fará o restauro e revitalização do armazém 4 no modelo original, com infraestrutura interna, redes de água, luz e esgoto.
O projeto inclui ainda a construção de uma praça pública na linha d’água na área onde existiam os antigos armazéns 5 e 6.
E os serviços são complexos: abrangem topografia, drenagem, infraestrutura elétrica e terraplenagem.
A previsão da entrega dessa fase inicial é até junho de 2024.
E como vai ser o Parque Valongo?
Além de um espaço para eventos e gastronomia, está previsto um espaço aberto na área entre os antigos armazéns 5 e 6. A ideia é estimular a observação da movimentação dos navios, com área verde, novos mobiliários, playground e atividades diversas nesta região. Ou seja, aproximar ainda mais porto, cidade e pessoas.
O espaço também prevê um terminal hidroviário para incentivar o turismo histórico e náutico.
Vale lembrar que outros elementos de infraestrutura se alinham com a intenção de movimentar esse local. A ampliação do VLT para a área central e o Parque Tecnológico são fundamentais para essa revolução. Em breve, está prevista, ainda, a transferência do Terminal Marítimo de Passageiros para este mesmo local.
Por aqui, estamos na torcida de que o Parque Valongo vai gerar as transformações que há tempos queremos ver no Centro Histórico.