Julho Sem Plástico: você consegue ficar um mês sem consumir?
Será que você teria coragem de dizer ‘não’ ao plástico durante 30 dias? Estamos falando de um movimento global, o Julho Sem Plástico, que propõe exatamente isso.
O Plastic Free July nasceu em 2011 na Austrália e se espalhou pelo mundo como uma onda – literalmente. A ideia é simples: durante julho, pessoas do mundo todo tentam reduzir ou eliminar o uso de plásticos descartáveis. Parece pouco, mas já são 174 milhões de participantes em 190 países.
Aqui no Brasil, a Voz dos Oceanos é uma das organizações que coloca esse debate em pauta. Liderada pela família Schurmann, navega pelo mundo desde 2021 para conscientizar sobre a poluição plástica.
Nos últimos cinco anos, o movimento Julho Sem Plástico já deixou 1,4 bilhão de quilos de plástico de fora nos mares do planeta. Cada pessoa que participa evita, em média, 16 kg de resíduos por ano.
E o que eu tenho a ver com isso?
Prepare-se para repensar aquela garrafinha descartável. O Brasil é o 8º maior poluidor mundial de plástico nos oceanos. E Baixada Santista está no centro dessa tragédia ambiental, ocupando uma posição nada confortável no ranking nacional da poluição plástica.
Pois é, nós moramos em uma das áreas mais críticas do país quando o assunto é lixo no mar.
Mongaguá tem 83 fragmentos de microplásticos por metro quadrado de areia, enquanto São Vicente bate recorde com 10 resíduos plásticos por metro quadrado. Esse dado é de um estudo que analisou 306 praias brasileiras e encontrou lixo plástico em 100% delas.
Aqui perto de casa, temos um dos recordes mais tristes do planeta. O Rio dos Bugres, que fica entre Santos e São Vicente, é o segundo rio mais poluído por microplásticos do mundo. São mais de 93.050 partículas de microplástico por quilograma de sedimento.
Léo Ramos Chaves / Revista Pesquisa FAPESP
O sistema estuarino de Santos-São Vicente registra uma média de 30 mil partículas de plástico por grama de sedimento, com alguns pontos chegando a 80 mil microplásticos por grama.
A contaminação por microplásticos em ambientes costeiros resulta de várias atividades humanas. No caso do litoral brasileiro, as fontes são diversas e se sobrepõem. No entanto, aqui na Baixada Santista, algumas origens se destacam por conta da intensa urbanização e das atividades portuária e econômica.
Por aqui, a combinação de esgoto doméstico intenso, atividade industrial concentrada e grande movimentação do Porto de Santos prejudica a vida marinha e a sustentabilidade do nosso ecossistema natural.
E de onde vêm os microplásticos?
Claro que, como já falamos, as principais fontes de poluição por microplásticos na Baixada Santista são industriais.
Mas, vale lembrar, que o turismo, a pesca e o lazer também geram toneladas de lixo plástico nas praias, que se fragmentam pela ação do sol, das ondas e do atrito com a areia. Na Baixada Santista, sacolas, garrafas e redes descartadas à beira-mar ou lançadas por pescadores artesanais fragmentam-se em partículas invisíveis que se acumulam na zona costeira.
Quando o problema vira emergência
Não é só questão de paisagem. A poluição plástica na nossa região está matando a vida marinha.
Sabia que 82,2% das tartarugas marinhas têm resíduos sólidos em seu sistema digestivo? Entre as tartarugas-verdes, 70% ingeriram plástico. E esse número pode chegar a 100% em algumas áreas.
Como participar do Julho Sem Plástico?
O movimento é democrático. E cada um participa do jeito que consegue. Veja algumas formas de aderir:
- recusando canudos plásticos
- recuse descartáveis no delivery e em restaurantes
- levando sua própria sacola ao mercado
- usando uma garrafa e/ou copo reutilizável e não comprando garrafas plásticas na rua
- compre a granel
- inspire mais pessoas a fazer o mesmo.
Indicamos os conteúdos do Menos1Lixo para se inspirar a viver uma vida com menos plástico.
Quando 174 milhões de pessoas decidem mudar hábitos ao mesmo tempo, o resultado aparece. E nossa região precisa desesperadamente dessa mobilização. Com 97% das praias da Baixada Santista apresentando microplásticos, cada garrafa que deixamos de usar ou cada canudo que recusamos, faz diferença.
O Brasil produz mais de 11,3 milhões de toneladas de plástico por ano, mas recicla menos de 2% desse número. Ou seja, o problema não é só de reciclagem. Só a redução vai ajudar.
Julho é só o começo
O Julho Sem Plástico funciona porque não é radical. É um convite para experimentar um mês diferente e descobrir que, muitas vezes, a vida fica até mais prática sem tanto descartável.
Para a região que abriga o segundo rio mais poluído por microplásticos do mundo, não é exagero dizer que cada cidadão ou grupo que resolve participar importa – e muito!