Texto porMarcus Vinícius Batista

Política é coisa de homem

As eleições costumam provocar uma série de fantasias. Fórmulas que nada representam além de especulações. O eleitor como vítima, e não cúmplice, por exemplo.

Outra das ilusões é a crença de que mulheres votam em candidatas. Gênero nunca significou critério de escolha de voto, exceto para uma minoria militante e voltada aos partidos à esquerda.

Nas últimas eleições, sete das nove cidades da Baixada Santista escolheram prefeitos do PSDB. As Câmaras também optaram por partidos de postura conservadora, o que resultou na confirmação do predomínio masculino no cenário político local.

Por ironia, a cidade de São Vicente terá uma vice-prefeita: Prof. Lurdinha. No entanto, haverá uma queda importante no número de mulheres que comandam o Poder Executivo. Somente Praia Grande, Santos e Guarujá registraram candidatas a prefeito.

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Guarujá tem chances de manter uma mulher como governante. Depende se Haifa Madi repetirá a vitória do primeiro turno contra Valter Suman e, assim, se tornar sucessora de Maria Antonieta de Brito. Os adversários, porém, alegam que Haifa concorre pela impossibilidade da candidatura do marido, o ex-prefeito Farid Madi.

Em Cubatão, Márcia Rosa deixa o governo depois de oito anos. O sucessor será Ademário, do PSDB. O próprio PT indicou um homem, Fábio Inácio, para sucedê-la. Inácio terminou em quinto e último lugar.

Peruíbe mudou 180 graus. Em 2012, três candidatos a prefeito. Todas mulheres, com vitória de Ana Preto. Ela dispensou a reeleição. A disputa teve oito candidatos, todos homens. Uma das candidatas em 2012, a ex-prefeita Milena Bargieri, concorreu à vereadora e foi a mais votada.

A ausência feminina se reflete nas Câmaras municipais. Em 2012, seis cidades não elegeram vereadoras.

Na eleição deste ano, a situação melhorou um pouco. Quatro seguem sem mulheres no parlamento municipal.

Na prática, é somente uma brincadeira com números. A mentalidade segue intacta, cristalizada. As nove cidades terão 135 vereadores. Sete são mulheres, menos de 5% do total. A Câmara dos Deputados, em Brasília, tem 9% de participação feminina.

Bertioga reelegeu Valéria, mas Beth Consolo ficou de fora. Praia Grande reelegeu Janaína Ballaris e Tati Toschi. Em Guarujá, Andressa Sales será a única representante na Câmara. Em Peruíbe, Milena Bargieri ocupará a vaga que era da Dra. Laila.

A cidade de Santos terá duas vereadoras: Audrey Kleys – bancada de apoio ao governo – e a ex-prefeita Telma de Souza, na oposição. A atual gestão não tem mulheres, pela primeira vez desde a redemocratização do país, na década de 80.

Cubatão, São Vicente, Mongaguá e Itanhaém terão bancadas totalmente masculinas, a partir de janeiro. Estes municípios repetem a atual legislatura.

O cenário acima é previsível. O problema não reside nos resultados, mas na concepção de política e na estrutura interna dos partidos. O PSDB, maior vencedor deste ano na região, sempre teve homens no comando. Raras foram as mulheres com visibilidade.

A presença feminina é, historicamente, uma característica dos partidos de esquerda. Em Santos, com as exceções de Sandra Arantes – a filha do Pelé, já falecida – e da suplente Fernanda Vanucci, todas as mulheres com cadeira na Câmara tiveram passagem pelo Partido dos Trabalhadores. Em São Vicente, Mara Valéria foi por anos a única mulher no Poder Legislativo e era filiada ao PT.

As duas candidatas a prefeita de Santos, Carina Vitral e Débora Camilo, são de partidos de esquerda. PC do B e PSOL, respectivamente. Em eleições passadas, Telma de Souza foi a única candidata.

O ponto fora da curva aconteceu em 2008, quando Maria Lúcia Prandi (PT), Mariângela Duarte (PSB, na ocasião) e Eneida Khouri (PSOL) constituíram maioria feminina entre as candidaturas. Coincidência ou não, o vencedor foi João Paulo Tavares Papa (então PMDB), na maior votação proporcional, cerca de 77%, até hoje.

A política, triste dizer, continua como um universo masculino. Duvida? Ainda que as mulheres representem maioria do eleitorado no país e na Baixada Santista (em Santos, elas são 54%), os governos criam secretarias, ministérios ou departamentos voltados para a mulher, no pacote de atendimento às minorias.

No Brasil, ter uma mulher na presidência nunca foi tendência. Foi uma circunstância.