“É Doce ou Salgado?” fala sobre diversidade sexual para crianças

Falar de diversidade sexual para crianças não é tarefa das mais simples. Que tal introduzir o assunto por meio da arte?

Estreou em agosto aqui em Santos o espetáculo infantil do Coletivo Sanatório Geral, chamado “É doce ou salgado?”, com texto de Betinho Neto, que assina a direção em conjunto com Miriam Vieira.

docej1
Foto: Fabiano Keller

 

A peça tem como objetivo conscientizar as crianças de que as diferenças devem ser respeitadas e que somos todos iguais, sem descriminação e preconceito, sem distinção de cor ou sexo, contribuindo para a formação de uma nova geração que entenderá que o mundo é diverso e formado por famílias diversas, independentemente de gênero e ou condição sexual.

“É uma premissa para que pais e filhos possam entender a importância de um mundo mais igualitário e tolerante”, afirma Betinho Neto.

Eu assisti ao espetáculo em duas oportunidades e confesso que, num primeiro momento, fiquei intrigado em como as crianças receberiam este tipo de mensagem. Fui surpreendido, nas duas vezes, com uma plateia de pequeninos inteligentes e sensíveis que entenderam muito bem a mensagem do espetáculo e questionaram a personagem Pimenta, vivida pela atriz Sarah Antunes, acerca de sua sexualidade: “Você e homem ou mulher?”.

Como a própria personagem diz:

– Isso não e importante, o que importa é ser o que você quiser!

As atrizes Amanda Franco, Liliane São Paulo e Sarah Antunes estão muito bem em seus papéis e conseguem criar elos com as crianças, cada uma à sua maneira, com seu jeito, mas o conjunto tem funcionado muito bem e evoluído muito. Coisa de quem faz com amor, sabe? Dá pra ver nos olhos do elenco o tesão de estar em cena e isso é sensacional.

Nunca se falou tanto sobre diversidade sexual, mas ainda é preciso falar muito mais. Principalmente, falar de forma adequada. E o espetáculo propõe uma inserção no tema de forma delicada e bem humorada, fazendo com que os pequenos entendam que ée fundamental respeitarmos as diferenças.

As manifestações sexuais iniciam-se na infância, esses comportamentos quando não entendidos dão origem a interpretações carregadas de ideologias e rótulos. Muitas famílias e escolas apresentam receios em trabalhar com as diferenças de gênero e a questão da sexualidade e, dessa forma, acabam evitando ou limitando o assunto e deixam de se ligar na a importância em relação à formação da identidade da criança. Essa dificuldade pode ser consequência da própria formação de pais/professores, em que há pouco, ou, na maioria das vezes, nada traz sobre gênero e sexualidade.

O espetáculo cumpre o papel de informar/educar, mas dá apenas uma introdução ao assunto, que pode e DEVE ser discutido em casa e em sala de aula, para que ajudem as crianças a desenvolverem sua sexualidade de forma natural, sem mentiras, bullying, medo e etc.

Claro, é só uma sementinha plantada, mas temos que começar de alguma maneira, já que o Governo não faz sua parte neste sentido, e muitas famílias não sabem ou não querem abordar este tipo de assunto em casa.

Está na hora de eliminarmos essa construção feita em cima dos gêneros, em que meninos brincam de carrinhos e meninas, de bonecas. Nossa cultura investe na heterossexualidade como sendo a identidade “referência”, a partir da qual são julgadas as demais, tornando outras identidades referentes à sexualidade um desvio às “normas” estabelecidas socialmente.

Outro ponto positivo é que a peça tem realizado uma circulação pela cidade em espaços distintos, indo na contramão do que o teatro infantil normalmente propõe: crianças sentadas na escola ou no teatro assistindo e pagando. A peça já foi apresentada em espaços culturais, eventos e até na rua e tem cumprido um papel importante, descentralizando a produção de teatro infantil dos grandes espaços teatrais e indo de encontro ao publico nos bairros da cidade.

Torço pra que essa geração cresça modificada e pronta para conviver com a diversidade, que só faz aumentar nesse mundão de meu Deus. Dessa maneira, espero que possamos viver num mundo mais igualitário onde o amor, respeito e caráter sejam essências, não importando sua raça, cor, credo ou condição sexual.

Que a arte e a educação possam fomentar pensamentos nesses jovens.

Que esses bravos artistas, mesmo sem nenhum tostão no bolso, não percam este comprometimento de levar mensagens como esta a crianças e adultos com o ideal de transformar esse mundo, num lugar mais bacana para as gerações futuras (porque nos já estamos veias e a galerinha que vem e quem vai desfrutar dessas possibilidades).

Emociona-me ver gente levando teatro infantil de qualidade a todo canto, sem preocupação apenas com o dinheiro, com a venda e sim com o comprometimento artístico de transformar vidas. Torço para que este espetáculo seja capaz de modificar muitas vidas e contribuir para um mundo mais justo.

Próximas apresentações:

24.10 – SP – Parque Aclimação – 15h
Conchinha
15.11 – 10h30
Temporada Pinacoteca
15, 22 e 29 de novembro  sempre as 17h