Santos e o Butantan: sabia que o instituto nasceu para socorrer a cidade?
Todas as quartas e sextas-feiras, já virou rotina aqui na equipe do Juicy Santos acompanhar as coletivas de imprensa do Governo do Estado de São Paulo para falar sobre a pandemia.
Isso acontece há mais de 1 ano.
Na última sexta-feira, por exemplo, o prefeito de Santos, Rogerio Santos, estava entre os entrevistados. E, durante sua fala, respondeu, sem saber, uma pergunta que a gente tinha se feito poucas horas antes: será que existe alguma relação entre Santos e o Instituto Butantan? Sim, existe.
Foto: Reprodução/Instituto Butantan
O Instituto Butantan nasceu para socorrer a cidade
O negócio é o seguinte. No final do século XIX, a saúde pública estava um caos em Santos. Naquela época, Saturnino de Brito ainda não tinha trabalhado nos canais. Então, não faltaram pandemias em Santos.
Rolou pandemia de febre amarela (e a gente já contou essa história por aqui), de varíola e, em 1899, a pior de todas: peste bubônica.
Que talvez você conheça como peste negra.
Nessa época a abolição da escravatura tinha acabado de acontecer e o Brasil tinha se tornado uma república. O Porto de Santos recebia uma série de navios vindos de vários países diferentes. Foi assim que as tatuagens chegaram por aqui. Mas também uma série de doenças.
Inclusive a peste bubônica, que era uma das mais temidas no mundo naquela época.
O que foi a peste bubônica
Antes de chegar em Santos, a peste bubônica tinha feito um baita estrago na Europa. Acredita-se que 1/4 da população européia morreu por conta da doença no século XIV.
Em resumo, a peste bubônica começou através de ratos e pulgas infectados. No início, a doença se espalhava, principalmente, através da picada das pulgas. Mas, com o passar do tempo, também era possível se infectar por via aérea – igual está acontecendo com a COVID-19 atualmente.
Esse visual bubônico te lembra alguma coisa?
As vítimas da peste bubônica tinham poucos sintomas, normalmente:
- Manchas escuras na pele
- Inchaços em regiões como a virilha e as axilas
E, de acordo com registros, poucos dias após começar a senti-los já vinham a óbito.
Locais com pouco saneamento básico e condições precárias de higiene se tornavam perfeitos para a proliferação da doença. Ou seja, a Santos de 1899 virou um berço da doença.
Aliás, vamos voltar à febre bubônica em Santos
A doença chegou aqui em 1899.
Segundo pesquisas do Memória Santista, a primeira vítima santista foi tratada como se estivesse acometida de febre amarela. Mas, registros feitos pelo médico Guilherme Álvaro mostram que, tão logo a pessoa morreu, surgiu a desconfiança de que este não era o caso. Já que o cadáver não tinha a aparência amarelada. Além disso, tinha morrido muito rápido.
Dias depois, ratos mortos começaram a aparecer pelas redondezas. Que, aliás, era pertinho do armazém da Cia. Docas. E então concluiu-se que aquele era um caso de peste bubônica em Santos.
O primeiro de muitos
Em pouco tempo a cidade estava tomada pela doença.
Assim como hoje em dia, haviam negacionistas e aqueles que já não sabiam como se manter saudáveis. Uma Comissão Sanitária foi criada na cidade para buscar uma solução. Dois grandes médicos brasileiros estiveram envolvidos nessa missão: Vital Brazil e Oswaldo Cruz.
Na corrida contra a peste negra, rolou de tudo. Se você acha ruim ficar em casa, imagina só saber que seu lar está contaminado e que vão fazer uma limpeza com fogo em tudo? Pois é, isso aconteceu. Além do isolamento dos pestosos, ou seja, quem estava infectado.
Tá bom. Mas cadê a relação de Santos e o Instituto Butantan?
Calma, já estamos chegando lá.
O Instituto Butantan existe desde 1901 e surgiu por conta da pandemia que ocorreu dois anos antes. Isso porque a instituição nasceu com a missão de produzir o soro contra a peste. Na época, a situação já não era tão caótica, mas não estava controlada ainda.
Vital Brazil, que trabalhou durante a pandemia em Santos, passou a comandar o Butantã dois anos depois.
Durante bastante tempo, o Instituto Butantan pesquisou e produziu soros. Não é à toa que eles estão fazendo um soro para pacientes da COVID-19, viu?
Vale dizer que a peste bubônica está controlada no mundo. Porém, ainda existem casos isolados. E o Brasil, inclusive, teve um em 2005.
Se você pode hoje exaltar o Butantan pelos avanços nas vacinas da COVID-19 no Brasil, então sabia que a história começou aqui.