Como vivem os pinguins do Aquário de Santos
Quando eu era criança, amava observar os pinguins do Aquário de Santos.
Muitas vezes passava direto pelos primeiros tanques. Eu queria mesmo era passar mais tempo olhando as únicas aves do aquário (e os leões marinhos). Eu não era a única criança com essa piração. E, anos depois, as coisas não mudaram muito: o tanque dos pinguins continua sendo o queridinho dos visitantes. Os pequenos ainda correm e se acumulam para observar as simpáticas aves marinhas.
Assim como acontecia comigo, o público quer tirar fotos e faz mil perguntas sobre os curiosos bichinhos. Se pudessem entrar no tanque, certamente o fariam sem medo.
Eu também sonhava em ficar mais próxima dos pinguins. Mas, depois de crescida, mudei a minha percepção sobre visitar locais onde bichos vivem em cativeiro. Fiquei anos sem ir ao Aquário, zoológico ou qualquer outro equipamento similar. Acontece que, todos os anos, o Aquário Municipal recebe mais de 600 mil visitas e isso me fez questionar: será que a minha nova visão não está equivocada?
Para descobrir, fui conhecer os bastidores do Aquário. Aproveitei para conversar com o coordenador de todo o trabalho para entender como as coisas realmente funcionam por lá.
Como vivem os pinguins do aquário de Santos
Atualmente, cerca de 15 pinguins vivem no Aquário de Santos. Em comum, todos eles são Pinguins de Magalhães. Essa espécie vive nas águas dos oceanos Pacífico e Atlântico aqui na América do Sul. Especificamente, entre a Argentina, Chile, Uruguai e também nas Ilhas Malvinas.
A gente costuma imaginar que os pinguins amam frio, né? Mas, na verdade, não é bem assim.
De acordo com Alex Ribeiro, coordenador do Aquário de Santos e biólogo marinho, a espécie vive bem em temperaturas entre 17 e 30°C. Por isso, quando o inverno começa, é comum que eles migrem para águas mais fresquinhas aqui no Brasil – onde também vão encontrar um maior volume de peixes para se alimentar.
Foi durante essa viagem migratória que a maioria dos pinguins chegou ao aquário.
“Desde 1945, existem relatos de animais que chegarem na costa e, na época, não existia nenhum outro lugar que pudesse acolhe-los. O Aquário foi o primeiro lugar a ter estrutura para receber e cuidar desses pinguins que se perdem”.
Como se estivessem em casa
Esse pioneirismo fez a instituição criar uma certa expertise no cuidado das aves.
É isso que mostram as observações feitas, no decorrer dos anos, pela equipe de biólogos e veterinários. Percebeu-se que os pinguins mantém o mesmo comportamento típico de natureza, mesmo estando em cativeiro. Isso prova que o ambiente e tratamento é adequado e eles, de fato, se sentem em casa.
Para que essa comodidade seja possível, o Aquário dispõe de três tanques para os pinguins.
O primeiro é o solário, que não têm climatização, e sim uma estrutura que permite que as aves tomem ‘banhos de sol’ – necessários, principalmente, durante a troca de penas. Esse espaço fica fechado e os pinguins só são levados quando as condições climáticas estão dentro das temperaturas adequadas para eles.
Os outros dois tanques são onde costumamos encontra-los. Ou seja, aqueles que têm uma área terrestre e água.
O ambiente tem ar-condicionado e uma câmara frigorífica.
Além disso, os pinguins podem nadar de um lado para o outro. Os tanques simulam as tocas comuns na área de onde eles vieram e há palha seca para a confecção de ninhos.
“Eles se sentem confortáveis ao ponto de se reproduzir. Foi o que aconteceu com a Fraldinha, em 2001 e, para a nossa surpresa, o filhote dela chegou na fase adulta e também se reproduziu. A gente tem um histórico de primeira e segunda gerações de pinguins nascidos aqui”.
Além dos nascimentos, os pinguins também mantém hábitos como o do macho montar o ninho e as fêmeas se revezarem neles. O cuidado com os filhotes é outra característica observada – eles se alternam até na hora da comida para que o novo integrante da família não fique sozinho.
A hora preferida do dia dos pinguins
Por falar em hora da comida, os pinguins são iguais aos santistas: adoram um rolê gourmet.
De acordo com Ribeiro, a alimentação das aves acontece duas vezes por dia (de manhã e à tarde) e, em resumo, se constitui de peixes. Cada refeição tem 2 quilos de sardinha ou manjuba – compradas de uma empresa que apresenta todos os selos exigidos pela Anvisa e descongelados de um dia para o outro, sempre na geladeira para não correr o risco de estragar.
Uma curiosidade é que o sistema digestivo dos pinguins funciona bem rápido. Então eles comem e já começam a sujeira. Para manter tudo em ordem, os tanques recebem limpeza duas vezes por dia, logo depois que eles comem.
A limpeza é feita por técnicos e usa produtos específicos. Quando eu cheguei ao Aquário, eles tinham acabado de comer e, por isso, a equipe estava em plena faxina. Enquanto isso, os pinguins nadavam de um tanque para o outro tranquilamente.
“A gente não pode esquecer que são animais selvagens. Eles vieram da natureza e foram condicionados a essa manutenção. Eles têm um instinto selvagem e de defesa. Então, eles pode proferir bicadas, por exemplo. Quem manipula já sabe os cuidados que precisa ter”.
Em momentos como o da limpeza, os pinguins só se afastam e vão para a água. Mas se for necessário pega-los, os profissionais usam óculos de proteção e luvas. Além disso, ao longo da experiência com os pinguins, a equipe percebeu que o uso de boné e esmalte os assustam. Por isso, ninguém que entra no tanque usa destes acessórios.
Por que os pinguins do Aquário de Santos não são soltos
Se os profissionais detectam algum comportamento estranho nos pinguins durante essas interações, eles passam por uma consulta e fazem até exames de sangue e fezes. As análises são feitas no laboratório de biomedicina do aquário e o tratamento começa logo em seguida.
É por conta desses cuidados que a maioria dos pinguins não voltam para a natureza. Lembra que eles chegaram aqui porque se perderam? Então, normalmente eles são os mais velhos ou então mais novos do grupo e estão fracos. Os cuidados veterinários são essenciais para a sobrevivência deles.
“A soltura desses animais é um pouco mais delicada. Existem órgãos que regulamentam, é necessário fazer exames para testar a sanidade deles e um número mínimo para o grupo ser solto. Por isso alguns animais quando chegam à costa ficam aqui”.
Ainda de acordo com Ribeiro, as colônias de origem dos pinguins (na Patagônia) têm, em média, um milhão de animais. São poucos os que se perdem e, por isso, é possível dizer que esse seria o descarte natural dos mais fracos – como acreditava Charles Darwin, em sua teoria da seleção natural.
Em outras palavras, de certo modo os pinguins que vivem no aquário de Santos (ou em qualquer outro) podem estar sendo salvos de predadores ou de morte por inanição, já que estão sozinhos e não conseguem buscar alimentos. Ribeiro finaliza explicando que tirar os animais da natureza para viverem em cativeiro é cada vez menos comum. O trabalho feito pela equipe é cuidar dos animais segundo a demanda deles próprios – inclusive as especializações da equipe acontecem dessa maneira.
O tanque do leão marinho, por exemplo, está vazio desde que Abaré-inti faleceu, em agosto desse ano e não há previsão da chegada de outro animal da mesma espécie.
Quero visitar os pinguins do aquário de Santos
Para escrever essa reportagem, eu descobri que ainda gosto de observar os pinguins do aquário de Santos e realizei aquela vontade de visita-los de pertinho (para fazer as fotos). Não tive a coragem que as crianças teriam e fiquei numa distância considerável, mesmo assim foi mágico. Ainda não sei se voltarei a visitar um zoológico, talvez depois de conversar com o responsável e ter certeza que assim como os pinguins, eles vivem bem e se sentem em casa por lá.
Ficou com vontade de ir ao aquário? Aqui você encontra todas as informações necessárias sobre o equipamento 🙂