Texto porAmanda Pitta

Juicycast entrevista Juliana Goes

Na reta final de 2022 nós gravamos um Juicycast com a Juliana Goes.

Ou Ju, como carinhosamente tratamos essa parceira e amiga. A conversa foi cheia de resgates, memórias e conversas sobre as responsabilidades de uma influenciadora digital.

Você já pensou em se desfazer de 70% das suas coisas, mudar para um apartamento muito menor do que o que você mora, abrir mão de milhares de seguidores e ajudar a mudar o mercado da beleza? Juliana Goes estava no auge da sua carreira, tinha reconhecimento e dinheiro.

Mas vivia com um incômodo dentro de si: quem era ela no meio de tanta informação sobre maquiagem, beleza e estética? Qual era a sua identidade sem estar associada a nenhuma dica, produto ou tendência? Foi em 2016 que, sem nenhuma garantia, ela abandonou tudo que o senso comum dizia que era sucesso e foi atrás de sua essência.

Em 2016, a Ju passou por uma grande crise de identidade e entrou numa busca profunda por ela mesma. Já com alguns anos de carreira, trabalhando com a sua imagem, não sabia mais quem era, do que gostava ou do que usava apenas porque era tendência – se via como uma vitrine sem personalidade.

Esse foi um momento de ruptura em sua vida e o começo de mudanças muito grandes, internas e externas. Numa tentativa de diminuir os barulhos metafóricos, Ju reduziu ao máximo a quantidade de coisas que tinha. Foi morar num apartamento de um quarto e doou 70% das suas coisas para um Juicybazar histórico.

Foram 25 passos para trás, para recomeçar a encontrar sua identidade e o seu caminho. Hoje, é possível ver que a Ju foi uma pioneira. Mas, na época, muita gente achava que ela estava maluca. Nem ela sabia muito o que estava fazendo, foi tateando no escuro, tentando entender o que estava acontecendo. Ela só sabia que algo não fazia sentido em sua vida, e que precisava descobrir o que era. Ao mesmo tempo, seu trabalho envolve extrema doação, é por onde ela transborda tudo que tem. E numa crise de identidade, o que você oferece para o mundo?

Aí, Ju se deu conta da responsabilidade que tinha. A missão da sua vida é dar a mão para mulheres todos os dias. Mas, sem saber para onde estava indo, também não conseguia saber para onde levar essas mulheres junto. Foi então que percebeu que o negócio era sério e mergulhou fundo para se recompor, mesmo aos trancos e barrancos. Para isso, foi atrás de cursos, aprendeu PNL, meditação, yoga, fez terapia, foi pra Índia e estudou muito sobre minimalismo e essencialismo.

Caiçara com muito orgulho

Caiçara, Ju sempre amou o sol. Por ter uma pele com tendência a manchas, passou muito tempo a achando inadequada e fazendo procedimentos clareadores. Então, quando começou a questionar tudo ao seu redor, se deu conta de que a indústria da beleza reforçava mensagens que cutucavam suas feridas emocionais. Elas diziam que as mulheres precisavam ser perfeitas e esconder tudo de “errado” nelas. Concomitantemente, descobriu que vários componentes tóxicos e disruptores hormonais faziam parte da fórmula dos produtos vendidos por essa mesma indústria. Na tentativa de ser aceita e lidar com a sua imagem, viu que estava se intoxicando. E ninguém estava falando sobre o assunto. Hoje, tem uma linha de skincare que segue seus valores.

Outro meio que descobriu para se reconectar consigo mesma foi a meditação. Ela tinha o hábito de procurar as respostas para suas questões no mundo externo. Mas, com a prática, aprendeu a silenciar os ruídos de fora e achou uma fonte inesgotável de respostas dentro de si. É assim que acessa a sua essência e, agora, suas decisões são mais assertivas, pois vêm de lá. Por muitos anos, tudo que buscou foi saber quem ela era e colocar isso no mundo. Hoje em dia, não é seduzida por nada que a leve para longe de quem ela é.

Adepta da economia circular, atualmente, tudo que está no seu closet faz sentido na vida da Ju. Para ela, roupa é igual música, se você gosta, você repete. E é importante saber o que importa e o que a preenche. Gosta de criar histórias com suas peças e lembrar dos momentos que viveu com cada uma. Pensando no futuro, preserva alguns itens com a esperança de um dia passar para a filha, que hoje usa roupas que fizeram parte da infância da Ju e foram cuidadas por sua mãe.

Ludmilla Rossi e Ju Goes no Juicycast

O sucesso do podcast da Juliana

Além de ter ajudado na rotina do casal Crica-Ju, o Juicyhub também foi o lugar onde ela gravou os primeiros episódios do Juliana Goes Podcast, que bateu vários recordes e vive entre os mais escutados do Brasil. Sucesso absoluto, foi uma mudança importantíssima de carreira. Ele é o começo de uma história que ela precisava estar inteira e pronta para assumir. Em 2021, Ju quase teve um burnout, e comprometeu a sua saúde mental e emocional. Em 2022, reavaliou suas prioridades, voltou a ter projetos pessoais e se dedicou ao podcast – um formato que demanda mais tempo e é mais longo.

É por meio dele que ela compila e ensina as principais ferramentas que a ajudaram a resgatar sua identidade e desenvolver autocuidado e amor-próprio. A proposta é auxiliar as mulheres a focarem em suas versões atuais e libertá-las do que as aprisionam. É um trabalho ativo porque muitas vezes a corrida atrás da sua melhor versão te impede de olhar a sua versão atual. E isso gera uma ansiedade que te desconecta do seu valor, que já é incrível, e só precisa ser validado, lapidado e expandido. O podcast está transformando a vida de muita gente, segundo os relatos dos ouvintes. E não é só quem escuta o podcast que se emociona, Ju já derramou lágrimas na gravação de alguns.

Curso Liberdade de Ser

A popularidade do podcast trouxe para Ju uma vontade de estar mais perto das mulheres que seguem ela e a necessidade do olho no olho, do abraço. Isso foi o insight para a criação do Curso Liberdade de Ser. Ele é uma uma extensão do projeto que começou com o podcast e que ainda terá muitos tentáculos. No curso, ela quer ajudar as pessoas a se reconectarem e aprenderem a ouvir a sua voz interior, ela acredita ser essa a chave para uma vida melhor. Durante a nossa existência, a maior convivência que a gente vai ter é com a gente mesma. Assim, ter uma relação saudável conosco é o básico. Também somos educados a acreditar que intuição é bobagem, coisa de mulher, algo aleatório ou um devaneio. E, por isso, é muito comum negligenciarmos nossos chamados internos de mudança. Só que Ju lembra que essa estratégia funciona por um tempo, mais tarde a gente quebra.

O propósito da Ju é ensinar as mulheres a voltarem a ouvir a sua intuição e descobrirem a sua narrativa interna. Ela defende que seguir a sua intuição é saber a sua essência. E é nela que está o seu ser mais puro, aquele que não está sendo corrompido pelo mundo ou pela indústria da beleza tóxica. Esse processo também faz com que as mulheres se tornem fortes e protagonistas de suas vidas, aceitando pedir e receber ajuda, sem culpa. Assim, causando um impacto muito maior no mundo, porque é fundamental cuidar de quem vai mudar o mundo.

“O objetivo é fazer as pessoas viverem mais a vida pra elas, por elas. Encontrar o que faz o seu olho brilhar, o seu coração bater mais forte, que te dê um senso de estar vivendo integralmente intencionalmente com presença. Não é egoísmo, se você vive uma vida bem vivida você performa melhor em todas as esferas. E não é deixar de olhar para o próximo. Mas muitas vezes, olhando só para o próximo, você cria um déficit com você mesma. Fica em falta com você e daqui a pouco a sua saúde vai gritar, seu emocional, seu mental. Você vai ter um desequilíbrio porque você não tá se preenchendo e se abastecendo. E se você puder olhar pra você com carinho e se abastecer, saiba que aí sim você transborda o seu melhor pro mundo. Muitas mulheres não sabem por onde começar, mas têm que começar por elas. Olhe pra você. O que você precisa agora. Se dê essa chance, abra espaço, não é egoísmo. O curso vai começar em janeiro sendo online, porque é o melhor jeito de encaixá-lo na realidade e nas possibilidades das mulheres que a Ju inspira. Mas existem planos para eventos presenciais pelo Brasil e eventualmente até um retiro.”

Futuro

Em 2023, Ju quer processar tudo que aconteceu em 2022, o ano em que ela conseguiu compreender o tamanho do passo que deu, quase às cegas, em 2016. Será um período dedicado a estruturar e planejar seu futuro. Pretende aumentar sua equipe e delegar mais. Quer usar o tempo que ganhará para trocar mais com a sua comunidade, por exemplo, vai poder ler e responder às muitas DMs que recebe diariamente. No Juicycast, Ju comentou que pretender usar os serviços de coworking do Juicyhub.

Além de tudo isso, quer estudar marketing digital e traçar os seus próximos passos. Em 10 anos, se vê como uma mentora, auxiliando e facilitando o processo de transformação de outras pessoas. Quer seguir o exemplo de sua “mãe intelectual” Brené Brown e migrar para esse braço da educação, impacto e gestão emocional focada em mulheres.

Santos

Quando perguntam a razão de morar aqui, ela responde na lata que só quem não mora em Santos faz uma pergunta dessas. Só que por muito tempo a Ju acreditou que precisaria sair do Brasil para ter uma vida melhor. Foi seu marido quem a ajudou a enxergar Santos como uma das cidades mais bonitas do mundo. Dinamarquês nascido no Brasil, Crica veio passar apenas três meses aqui, mas acabou ficando pra sempre. No bate papo com Ludmilla, Ju contou um pouco sobre as diferenças entre culturas high-context, como o Brasil, e as low-context, como a Dinamarca.

O lugar em que a gente vive importa muito pois impacta diretamente o nosso cotidiano. Segundo uma pesquisa de Harvard feita com pessoas no leito de morte elaborando como viveram, a felicidade nunca é resumida por bens materiais, e sim na sua habilidade de viver em comunidade. Ju sabe disso e desfruta muito da joia que é Santos. Sempre vai à praia tomar seu banho de mar, correr na areia e andar de patins no Quebra-Mar. Esse ano, depois de adulta, ela até aprendeu a andar de bicicleta usando a área de treinamento de ciclismo da cidade.

Um milhão de seguidores

O que Ju começou em 2016 foi tão ousado que por muito tempo ela perdeu seguidores, mesmo estando no seu auge. As pessoas não entendiam o que ela estava falando. Mas ela sabia que aprender a se maquiar só te ajuda até a página 30, para chegar na 300 é necessário cuidar de outras coisas. Assim, assumiu um compromisso com saúde mental, inteligência emocional e autodesenvolvimento, tudo embaixo do guarda-chuva do amor-próprio.

Na pandemia, as pessoas precisaram muito dessa narrativa, e ela foi uma das primeiras influenciadoras a mostrar isso. Quem se lembrava da plantinha que ela semeou, voltou e agradeceu. Pessoas novas também chegaram, Ju comemorou recentemente o marco de um milhão de seguidores no Instagram! Marco construído de forma orgânica e estratégica, que solidificou a missão da Ju de segurar na mão das mulheres e ajudá-las a ter voz ativa em suas vidas.

Dicas para quem quer bombar também

Entusiastas da internet, Ludmilla Rossi e Juliana trocaram algumas figurinhas sobre o que funciona nas redes sociais.

Se liga em algumas dicas:

  • O mercado está de olho nos microinfluenciadores, então se você tá começando, continua porque tem espaço para todo mundo.
    Saiba cobrar. Sua hora e seu trabalho tem valor você merece receber por isso.
  • O podcast foi um dos responsáveis para Ju chegar em um milhão de seguidores. Lá ela consegue aprofundar seu conhecimento e a partir dele gerar cortes que abastecem suas redes sociais. Essas pílulas de sabedoria impactam e têm altas chances de viralizar, trazendo mais gente para a turma dela.
  • Foque no simples, entenda o que seu público quer e passe a mensagem de forma clara.
  • Pergunte para o seu público o que eles gostam e não gostam do seu conteúdo.
  • Faça o melhor com o que você tem. Mas não faça as coisas de qualquer jeito, tenha estratégia e sensibilidade.
  • Replique o que deu certo, não precisa ser original o tempo todo.
  • Não tenha medo de postar conteúdo que já foi postado, se ele viralizou, são altíssimas as chances de acontecer de novo. É assim que você reforça sua mensagem.
  • Descubra sua frase de impacto e a transforme em seu mote (e reposte muito ela!).
  • Aprenda o que é conteúdo Hero, Hub e Help, no vídeo elas explicam um pouco essa metodologia que funciona em qualquer rede social.
  • Olhe para os dados, eles te direcionam e você precisa disso para crescer. Achismo faz você prolongar demais o caminho. Dados encurtam o caminho.

Sobre o Juicycast

Juicycast é um podcast local, produzido dentro do Juicyhub, em Santos. O projeto traz temas e personalidades locais, com o foco em gerar visibilidade para vozes e pensamentos da região da Baixada Santista.