Texto porFlávia Saad
Santos (SP)

A narrativa que a internet compra: como padrões sociais estão emburrecendo a gente

Foi-se o tempo em que gastar alguns minutos no Instagram era olhar para fotos de comida e cachorros bonitinhos.

Hoje em dia, o tsunami do algoritmo consegue, em poucos instantes, estragar o nosso bom humor por um dia inteiro.

Entre gurus prometendo ganhos financeiros inatingíveis a modelos desfilando corpos que nunca teremos, o padrão de sucesso saiu da tela da TV para invadir nosso espaço pessoal pela tela do celular.

Se, por um lado, as redes sociais nos aproximam de quem gosta das mesmas coisas que a gente ou vive uma vida com os mesmos ideais, elas também serviram para gerar um entretenimento desenfreado e sem muito critério. E isso virou parte do nosso cotidiano. Será que a internet está nos emburrecendo como sociedade?

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Dani Junco e o samba do varal

O poder de uma narrativa online faz parte do dia a dia de Dani Junco, cofounder e CEO da B2Mamy.

Em suas redes, ela guia mães e mulheres pelo caminho tortuoso – mas cheio de oportunidades – das startups. O impacto social da aceleradora muda, desde 2016, a vida de muita gente. Entre seus seguidores, estão desde CEOs de multinacionais bilionárias até mães periféricas de todo o Brasil.

Recentemente, Dani passou por uma situação que retrata bem o que a internet espera ver de alguém que atua em alta performance como ela.

Ao postar um vídeo de uma tarde de samba super descontraída na casa de sua mãe, com um varal cheio de roupas penduradas à mostra, uma seguidora a abordou dizendo que aquilo não condizia com a imagem de CEO que ela deveria projetar.

E a mensagem dizia o seguinte:

“Te admiro demais, mas vou te dar uma dica. Sou profissional de personal branding e você posta cenas muito simples, muito pobre. Se você vende essa postura de mulher poderosa, como as pessoas vão comprar as coisas de você se mostra um pagode na sua casa?” 

O raciocínio faz sentido. Os influenciadores, aquelas celebridades que parecem tão próximas de nós (e, na real, não estão), vendem esse sonho de sucesso 24 horas por dia a um clique de distância. Isso vale para unhas, carros e empresas.

As mulheres e os padrões sociais

Para a mulher, isso é mais cansativo ainda. Será que a gente pode ter tudo o que o Instagram diz que precisamos? 

A mulher, desde que nasce, tem a constante sensação de que não merece e ñao é suficientemente boa pra ser amada. Quando a gente não se encaixa e não se enxerga nos padrões soiais, isso pode ser limitante pra fazer o que desejamos, estar em lugares que merecemos e conquistar o que queremos.

“Quem você sabe quem é o mundo não pode te confundir”, diz Dani Junco. 

Portanto, o que mais interessa para o controle social e para o patriarcado não é a convergência, e sim a polarização e a desunião. Só que isso demanda mais energia da gente. Que gera o emburrecimento e doenças como o burnout.

No fim do dia, vale ouvir pessoas como esse trio incrível de mulheres – Ludmilla Rossi, Dani Junco e Thais Vasconcellos – e não se deixar levar pelas prisões das narrativas.

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