Churros Brasil e a história de um famoso carrinho de churros no Gonzaga
Quem passa pelo cruzamento da Rua Fernão Dias com a Avenida Ana Costa, no Gonzaga, já deve ter sentido aquele cheirinho irresistível de churros que leva a gente direto para a infância.
O carrrinho de Lucimar de Queiroz Silva é, desde 1984, um ícone no bairro para várias gerações.
Mas como ela chegou lá? A história começa nos anos 1980, quando ela e o marido compraram um carrinho de pipoca. Até então, ela nunca tinha trabalhado fora de casa. Mas foi olhar para o veículo ao voltar da casa de parente que foi visitar que colocou na cabeça que queria comprá-lo.
Ficou em outros pontos ao longo dos anos, como na porta do Colégio Oswaldo Cruz, na antiga “feira hippie de Santos” e nas portas dos cinemas. Foi aí que receberam a oferta do dono do ponto nobre na esquina do Shopping Parque Balneário.
Tia Lu já viu muitas e muitas transformações no Gonzaga.
“Vi toda a mudança do Gonzaga. Onde hoje é o McDonald’s era uma chopperia chamada 550, e no lugar das Americanas funcionava o Stúdio 1 e 2”, relembra ela, com aquela nostalgia gostosa.
Famoso entre os veganos
Por volta de 2015, o Churros Brasil virou notícia como um dos percursores do churros vegano no país. E isso aconteceu por um acaso do destino. Quando um casal apareceu com uma filha alérgica a leite, a família adaptou a receita na hora, retirando a manteiga da massa (que já não tinha ovos nem leite). Desde então, todos os churros são feitos assim.
O curioso é que eles só descobriram que o produto era vegano quando um grupo de jovens começou a frequentar o carrinho, consumindo apenas o sabor goiaba. Quando notaram que esses clientes estavam enjoando, Thiago, filho de Lucimar, teve um estalo e surgiram opções como banana e morango, além dos tradicionais chocolate, doce de leite e Nutella.
A receita que faz sucesso até hoje foi presente de um amigo que trabalhava em frente ao Orquidário. O segredo? Farinha da Nita, que segundo Lucimar, é uniforme e “não desanda a massa”.
Clientela que volta
Mas não é só pelo churros que as pessoas vão até lá. Muitos clientes aparecem só para bater um papo com Lucimar, que já atende a terceira geração de famílias. Tem gente que vem de Campinas, e até de outros países como Canadá e China, só para matar a saudade daquele gostinho especial.
A produtora de eventos Débora Húngaro teve um encontro com Lucimar há anos atrás que ela nunca esqueceu.
“Saí de casa para comprar, parei o carro em frente ao carrinho e pedi dois churros de Nutella. Quando fui pagar, vi que esqueci a carteira em casa, peguei os trocados no carro, mas só pagava um. Ela gentilmente falou para eu levar os dois e pagar depois. Em tempos tão difíceis, achar pessoas assim legais transforma o dia da gente. Parece uma coisa simples, mas o gesto dela foi muito importante. Minha forma de agradecer é continuar consumindo dela e indicar para os amigos. Ela poderia ter vendido apenas um, mas insistiu para eu levar o outro. Aquela atitude fez a diferença no meu dia”, conta.
Com o calor cada vez mais intenso, tem sido difícil trabalhar na rua. Quando a visitamos, sob um sol de quase 40 graus, Lucimar só abriu depois das 15 horas para se preservar um pouco. Mesmo assim, estava lá, firme e forte, porque como ela mesma diz:
“O Gonzaga mora no meu coração. Vivo mais aqui do que na minha casa”.
Quando não está trabalhando, tia Lu se rende a outra paixão: o Carnaval. Ela é apaixonada pela escola de samba X-9, a pioneira de Santos.
E, de certa forma, ela mesma é isso: uma pioneira da comida de rua em Santos.
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