Texto porNathalia Ilovatte

Por que os trolls são importantes

Em tempos de bullying, danos morais e processos nas costas de todo mundo que é mala ou anda precisando de um Rivotril, a impressão que dá é que ninguém aceita críticas. Todo mundo ama uma babação de ovo e dá RT em elogio, mas quando vem a gongação, o autor é sempre vilão.

É claro que há casos extremos em que pessoas são escrotizadas até não aguentarem mais e algo precisa ser feito para que isso não aconteça, mas também não vamos transformar qualquer zoadinha em drama. Tudo bem ser motivo de piada de vez em quando, e ser gongado na internet tem lá suas vantagens. Um troll que fica botando defeito no que você faz pode servir de orientação para aprimorar seu trabalho (mesmo que você não considere seu blog um trabalho) ou parar de fazer besteira.

Pelo menos foi a conclusão do painel “Por que os trolls são importantes?”, que rolou no Festival YouPIX. O jornalista Alexandre Matias mediou um bate-papo entre Demi Getschko, MrManson, Bruno Tozzini, Eden Wiedemann e Ana Brambilla, profissionais que trabalham com internet e redes sociais e têm uma grande experiência com trollagem, ou porque já foram vítimas, ou porque praticam. E depois do bate-papo eu voltei pra casa bem mais troll-friendly do que antes. Tô até pensando em sair por aí dando umas trolladinhas… Brinks.

 

 

Os participantes comentaram que as vítimas de trollagem costumam ignorar (don’t feed the trolls) ou ficam sentidas, porque levam para o lado pessoal. Tem gente que fica mal de verdade com o que lê na internet. Mas, se tem alguém enchendo seu saco, não sofra! A avacalhação, geralmente, não é sobre você, mas sobre o que você publica. Mesmo que pareça que a pessoa quer que você pule da janela do oitavo andar, na maioria dos casos quem tá do outro lado nem te conhece e está se lixando pra cor da sua aura. Portanto, se você não gostou do que leu, não responda. Trolls adoram atenção.

Que relevância os trolls têm?
Até essa parte, beleza. Se você tem um troll, é só não alimentá-lo nem dormir na pia por causa dele. O que não parece fazer muito sentido é o que leva aquele infeliz a gastar horas fazendo piada com a cara de quem tava “quieto”(?) e botando os outros para baixo. E aí vem a revelação: no fundo, a motivação da trollagem é zelar pelo bem-estar social internético te impedindo de postar bobagem por aí. Todos grita horrorizado.

O que você faz quando compra um produto com defeito? Reclama. E quando compra uma revista e ela vem com um texto odioso? Xinga muito no Twitter. Pois bem, é isso que o troll está fazendo quando entra nos nossos blogs pra dizer que nossos posts são uó. E a opinião dele também deve ser levada em consideração. Segundo Ana Brambilla, o troll, aquele cara chato que fica apontando cada defeitinho do seu trabalho, vem para bagunçar a ordem e promover uma reestruturação. Sabe quando você tá bem acomodado e toma uma bica, mas passado o baque levanta mais malandro? É por aí. E nem adianta se queixar que não pediu a opinião do desconhecido rabugento. Quem publica qualquer coisa em qualquer lugar tá dando a cara a tapa pra opinião pública, e apanhar é sempre um risco.

Trolls bem-sucedidos
Um exemplo emblemático de trollagem é o caso Não Salvo X Santos F.C., em que Maurício Cid se divertiu às custas de uma falha no site do time. Com uma brincadeirinha que nem deu muito trabalho, o blogueiro escancarou um problema que poderia gerar outros bem mais graves e transformar a empresa numa nova Sony, guardadas as devidas proporções. Ok, seria mais polido enviar um e-mail falando “Oi, Santos, tem uma falha aí”, mas não teria a menor graça! E, embora o resultado tenha sido um processo, foi uma trollagem criativa e bem feita.

A moral da história, de acordo com MrManson, é que o troll é aquele moleque do fundão que atira uma bolinha de papel no coxinha sem noção que senta lá na frente e interrompe a aula para fazer colocações descabidas. Pode até não ser a maneira mais elegante de mandar um recado, mas o que ele quer dizer é que o coxinha tá fazendo errado e precisa melhorar. Quem quer agradar a todos vai morrer frustrado, portanto, críticas sempre vão existir. Mas será que elas só vêm para serem deletadas? Talvez a gente possa parar de fazer vistas grossas para as gongações e tentar aprender algo com elas, afinal, quem quer ter público tem que lidar com a opinião dele.

Um beijo pro “Wellington Menezes”, nosso primeiro troll.

P.S. Há um limite entre a trollagem e o cyberbullying. Se você é stalkeado e/ou recebe constantes mensagens ofensivas e pesadas pela internet, aqui está a relação de delegacias de cibercrimes de todo o Brasil.