Texto porNathalia Ilovatte

Lar das Moças Cegas completa 68 anos

Há exatos 68 anos nasceu a primeira instituição santista para mulheres com deficiência visual, o núcleo do Instituto Profissional Paulista para Cegas, cujo objetivo era prestar assistência a essas moças, até então marginalizadas. Mas, com o tempo, os mantenedores sentiram a necessidade de ampliar os serviços do núcleo e ele virou o Lar das Moças Cegas, cujo propósito passou a ser, também, o de educar e integrar os alunos à sociedade.

Foi em 1988 que o LMC ficou mais parecido com o que conhecemos hoje, pois abriu as portas também para deficientes visuais – além de pessoas com baixa visão – do sexo masculino. Graças a essa mudança, Gilmar Ribeiro, de 35 anos, pode frequentar a instituição e se sentir acolhido e inserido na sociedade. Hoje professor formado em Educação Física, ele nasceu com catarata congênita nos dois olhos e, por isso, sempre teve baixa visão. Tentou reparar a doença com cirurgia, mas um erro médico fez com que o olho direito regredisse ainda mais. A visão de Gilmar só começou a progredir em 1995, quando ele foi encaminhado por uma psicóloga ao Lar das Moças Cegas. “No LMC fui estimulado e aprendi a enxergar. Me adaptei com o tanto de visão que tenho”, conta ele, que hoje tem 5% de visão. “Eu enxergo com nitidez, só não vejo detalhes como cabelo e rosto. Porém, quanto mais me aproximo, melhor enxergo”.

O encaminhamento veio depois que a psicóloga notou a revolta de Gilmar, na época com 15 anos, e a maneira como ele se sentia. “Eu não me aceitava”, diz. “Achava que todos me olhavam com pena e desprezo”. Mas convivendo com outras pessoas com baixa visão, Gilmar mudou a maneira como encara o mundo e, consequentemente, também mudou a própria vida. Formou-se em Educação Física pela Unimonte e se tornou professor de Orientação e Mobilidade, uma disciplina que auxilia deficientes a utilizarem a bengala-guia em diversos ambientes.

Em 2004, o professor conheceu Milena Ribeiro, de 28 anos, que perdeu a visão por causa da diabetes. Os dois viraram amigos, trocaram telefones, começaram a sair e não demorou muito para a amizade colorida virar namoro. “Namoramos durante um ano e estamos casados há seis. Moramos em um apartamento no sexto andar, sozinhos”, diz. “Com a ajuda do LMC aprendemos a nos locomover dentro de casa sem a necessidade de alguém para nos ajudar. Andamos de ônibus e a pé e pretendemos ter um filho, mas só daqui a uns três anos, quando tivermos uma situação financeira melhor”.

Hoje, a única coisa que Gilmar sente falta é de informações sobre deficiência visual acessíveis a todos. “Deveria haver mais informações nas escolas. A partir do momento que se informa uma criança, ela já cresce entendendo a necessidade de ajudar e respeitar os deficientes. Quando as pessoas nos entendem, começam a agir a favor da acessibilidade”, defende. “A lei já está a nosso favor, mas acessibilidade também é conscientizar as pessoas. Todos precisam saber como agir diante de um de nós”.

O LMC atende atualmente cerca de 200 pessoas de todas as idades e conta com 80 voluntários e 120 colaboradores. Administrada por Carlos Antônio Gomes, a instituição oferece atendimento oftalmológico, psicológico, pedagógico e social, além de acompanhamento educacional e terapêutico, atividades esportivas, cursos de capacitação profissional e intervenção precoce.