Texto porNathalia Ilovatte
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Dica de filme: “A Mentira”

Carnaval é uma época de folia, serpentina, fantasia de pirata roots e de pular de um lado pro outro com os dedinhos pra cima. Mas tem gente que tem aversão a toda essa alegria em senso comum, que não quer pegar chuva e que prefere ficar em casa comendo brigadeiro de panela.

Pra essas pessoas, um filminho vai bem. Então a dica é assistir “A Mentira” (“Easy A”), com Emma Stone como protagonista, Stanley Tucci como pai dela e Malcolm McDowell, o Alex DeLarge de “Laranja Mecânica”, como o diretor rabugento do colégio.

No filme, Emma é Olive Penderghast, uma garota nada popular que narra a história  a partir de uma twitcam (ou algum streaming do tipo) para todo o colégio, a fim de esclarecer as histórias que, do dia para a noite, a transformaram na periguete mais odiada da escola.  Com esse começo, poderia ser só mais um filminho adolescente sobre os dramas do colégio, mas “A Mentira”, ouso dizer, é o “10 coisas que eu odeio em você” da nova geração. Tem referências pop (quem não queria ter a vida dirigida por John Hughes?), música boa (ouça “Change of Seasons”, do Sweet Thing) e o tipo de cena que vira exemplo em conversa de bar, como a que Olive compra para si mesma um cartão romântico com uma música irritante e a canção vai grudando na cabeça dela até a garota chegar ao ponto de berrá-la no chuveiro. Mais ou menos como aconteceu com todos nós e “Umbrella” e aquela outra da Ke$ha que ela diz que acorda de manhã se sentindo o Puff Daddy. Urgh, lembrei.

 

A história nasce a partir das mentiras que contam sobre Olive e que ela confirma e ajuda a espalhar para livrar a cara das pessoas ou ajudá-las com algum problema grave tipo ser um loser na escola. Todo mundo fica sabendo e comentando que ela perdeu a virgindade com um cara da faculdade ou que fez sexo em uma festa com o menino que todo mundo jura que é gay.

No começo tudo bem, as pessoas olham torto para ela, falam uma graça ou outra, e ela acha tudo muito bizarro mas nem se importa. Só que as coisas vão ficando mais exageradas e complicadas, as panelinhas começam a odiá-la, alguns amigos passam a destratá-la e Olive assume o papel de biatch. Inspirada pelo livro “A Letra Escarlate”, assunto da aula de literatura, ela incorpora a personagem, adota uma pose de malvada, encosta as camisetas e jeans no fundo do armário e passa a frequentar a escola com corselets sexies que trazem um “A” bordado, como o que a personagem do livro foi obrigada a usar.

A partir daí, Olive questiona aquela velha mania da humanidade que é aprendida na escola (ou todo mundo nasce sabendo?) de sair condenando as pessoas por um boato, um fato mal interpretado ou um preconceito bobo. É até meio inconsciente, mas a gente vez ou outra escrotiza quem, no fundo, representa o que nós odiamos e reprimimos em nós mesmos ou o que gostaríamos de ser, mas não nos permitimos. E passamos horas cornetando a celebridade que terminou um casamento e já tá de namorado novo (que sem vergonha), a colega que ficou grávida antes de casar (essa parece que não pensa), o cara que é bonito e não sai pegando todo mundo (aí tem), a blogueira que diz em entrevista que é sustentada pelo marido (dondoca retrógrada) e a vizinha de quase 30 anos que resolve tingir o cabelo de verde (deve ter síndrome de peter pan). Mas se tudo isso são problemas, certamente não são de quem comenta.

É claro que, como todo filme hollywoodiano, esse também tem a liçãozinha de moral, o romance com o menino perfeito e o final feliz, então não vá esperando grande densidade, reflexões profundas e escândalo. Não é um filme do Amodóvar. Mas nem por isso “A Mentira” é de se jogar fora. Ele não apela para piadas batidas e truques óbvios, não idiotiza o espectador e garante risadas e até uma pontada de saudade do colégio (seguida daquela consciência de como éramos bobos aos 16 anos). Para quem quer fugir do ziriguidum e aproveitar o feridão pra ficar em casa coçando, “A Mentira” vale duas horas do dia.

O filme é dirigido por Will Gluck e também tem Penn Padgley, de “Gossip Girl”, Aly Michalka, de “Hellcats”, Amanda Bynes e Lisa Kudrow no elenco. Ele não vai ser exibido nos cinemas e o DVD será lançado no dia 6 de abril, então você já sabe o que tem que fazer.