Texto porLudmilla Rossi
Santos

Bruno de La Rosa em entrevista exclusiva para o Juicy Santos

Bruno de La Rosa dispensa apresentações. Uma busquinha básica no YouTube já apresenta o músico. Chamar Bruno de talentoso é redundância. Muito jovem, conhece muito sobre música e cultura brasileira.

Confira abaixo a entrevista exclusiva para o Juicy Santos.

JS – Quando e onde você nasceu? Qual a sua relação com Santos?
Nasci no antigo Cid Perez, atrás do antigo Eldorado, haha. Hoje é Frei Galvão, ali no Boqueirão. Minha relação é a melhor possível. Não só cresci e morei na região até os 19 anos, como pude aprender muita coisa da noite e das relações humanas. Do começo da minha carreira até agora foi uma lenha. Saí do meu quarto – onde mostrava para os meus pais as músicas que aprendia com os Songbooks – direto para o Espelunka Bar (em São Vicente) e de lá foi que a coisa começou.

JS – Você já deve ter ouvido isso inúmeras vezes, mas a sua voz é muito parecida com a do Chico Buarque! Por alguns vídeos disponíveis no YouTube é possível concluir que você também é fã dele. Nos conte a influência do Chico em seu trabalho.
É, isso foi muito comum durante um tempo, digo, esse comentário. Depois que o Francis Hime disse isso, parei e pensei sobre. Até então era uma coisa não digo mal resolvida, mas um sentimento de querer ser você mesmo e, ao fim de uma noite, uma história toda contada no show ser resumida à “voz do Chico Buarque”. Até brincava dizendo “bom, se um dia equipararem a minha música à dele, daí sim podemos conversar.

Claro que é uma bobagem, as influências são muitas e, obviamente, variadas. Inegável na verdade é a influência da obra dele dentro da música e, ingenuidade é alguém não passar por esse filtro antes de pensar em fazer alguma coisa. Quanto à voz, deixei de me preocupar com o aspecto negativo depois de analisar na história da música (e, na verdade, do mundo) de que, como diz meu amigo e grande compositor Waldir da Fonseca, “Nada vem do nada”. A Elizeth Cardoso e Ângela Maria para Elis Regina, o violão de Baden Powell para o Toquinho (como foi Garoto e Meira para Baden), Villa-Lobos para Tom, Chet Baker para Caetano Veloso, Bob Dylan para John Lennon (por favor ouçam You’ve got to hide your love away, do album Help! e me digam) e, por fim, o próprio Chico Buarque dizendo, no começo da carreira, que queria fazer música como Antônio Carlos Jobim e cantar como João Gilberto. Resumindo, pra não inventar a roda o tempo todo achando que está por cima da carne seca, o negócio é tragar do que achar conveniente e ter discernimento pra devolver isso à sua maneira.

JS – Em fevereiro de 2011 você fez um show no Teatro Guarany em conjunto com a cantora inglesa Imi. Você pode nos contar como foi o show?
O show foi o resumo (embora não tenha acontecido no fim de um trabalho) do que estamos fazendo nestas três semanas desde a chegada dela, de Londres. A história disso é que estamos trabalhando nas versões dela para o inglês de músicas já compostas em português, tanto por mim quanto pelo Marcos Alma (pianista e co-produtor do disco). Depois de algumas já prontas, estamos escrevendo músicas diretamente pra ela, sem letra em português, direto com a letra dela, em inglês. Estamos na produção do disco aproveitando a estadia dela aqui, que veio especialmente para as gravações e alguns shows. Conhecemos a Imi em São Paulo, ano passado, quando veio ao Brasil conhecer de perto a produção de música brasileira. Depois de ter ido à Bahia e ao Rio de Janeiro, gostou das nossas músicas aqui e veio agora para a confecção do disco, a ser lançado primeiro na Europa e, depois aqui.

JS – Você também é bastante conhecido fora da região da Baixada Santista. Quais dicas você dá para jovens artistas que querem fugir das limitações regionais?
A história da música brasileira tem elementos suficientes e, não só dá, como berra todas as dicas possíveis para quem está disposto à música. Qualquer coisa que eu disser não é invenção minha, mas a percepção dessa história toda. Acho só que reclamar é um vício, e, como todo vício, transforma o reclamador num prisioneiro. É claro que cada um deve saber exatamente o que quer. Dinheiro resolve a parte física do problema mas não transforma uma pessoa num grande músico. O talento, sozinho, não leva ninguém a lugar nenhum. Saber onde quer chegar é o ponto principal, as decisões é que devem ser moldadas ao foco. Hoje, Vinicius de Moraes é considerado um gênio em vários aspectos. Procure saber o que diziam os jornalistas e parte do público quando ele, tendo feito parte da criação da Bossa Nova, dos Afro-Sambas e considerado um grande poeta, foi morar na Bahia e se jogou nos palcos com um violonista de 24 anos que não fazia parte do circuito carioquês, o Toquinho. Procure saber. E o que fica disso é a história. Os conselhos vêm de todos os lados mas a responsabilidade do fracasso ou do sucesso é só seu. O resto passa.

JS – Quais são os próximos projetos?
Neste mês (fevereiro de 2011) será publicado o Songbook oficial do Toquinho, pelas editoras Lumiar e Irmãos Vitale (São Paulo e Rio). Este livro foi feito por mim, a partir da obra consagrada e dos padrões criados pelo grande e saudoso Almir Chediak, idealizador dos Songbooks (muitos grandes artistas já tem o seu songbook, Tom Jobim, Chico Buarque, Vinicius de Moraes, Cazuza, Rita Lee, Edu Lobo, João Bosco, Caetano Veloso, Gilberto Gil, etc.)

Sigo gravando com a Imi e também o meu primeiro disco. O site www.brunodelarosa.com deve sair logo logo, também.

Bruno de La Rosa em 2 cenas

JS – Sabemos que é uma pergunta difícil, mas você pode citar seus artistas favoritos?
Caetano Veloso com certeza, pela coragem e grande participação. Bob Dylan, também, Victor Jara. Gosto de muita gente. Fundamentais, é claro, são Sidney Miller, o Edu Lobo, Tom Jobim, enfim, quase a mesma resposta que vocês vão ouvir de quem faz ou ouviu música brasileira.

JS – Notamos que você é apaixonado por boa música e por músicas bem antigas, que provavelmente foram compostas antes mesmo do seu nascimento. Como você enxerga uma aproximação natural do público mais jovem com músicas mais palatáveis e menos densas?
Acho que é um processo natural, dada a massificação do consumo e do imediatismo gerado por isso. Mas isso sempre aconteceu, o saudosismo doloroso é inútil e infértil. Vejo muita gente com preguiça dizendo que nasceu na época errada. É fácil dizer isso e sempre foi dito. Você lê Mencken ou Fernando Sabino (lugares-comuns) e vê que isso sempre foi dito. A graça é você entender o seu tempo e fazer a sua parte. Eu não acredito em ninguém que queira trabalhar o presente sem conhecer o passado.

Discordo do termo “boa música”. É um clichê também cômodo. Ouço o que gosto. Você ouve o que gosta. E todo mundo faz isso. Cada um sente o que é melhor pra si e aquela música se torna boa pra ela. Classificar o que é boa música para todos, é tão sábio quanto dizer que cada um está na sua escala evolutiva, no seu degrau. É cômodo e pronto.

JS – Dê uma sugestão musical para os leitores do Juicy Santos.
Vou parafrasear um brasileiro, e que não me interpretem como nacionalista.
“Se você não tiver talento, faça música brasileira. Se tiver algum talento, faça música brasileira e, se for um gênio, faça música brasileira.”
Ouça!


Mais sobre Bruno de La Rosa
Bruno é um premiado músico e compositor santista, inspirado por grandes nomes da história da música brasileira dedica-se hoje a uma carreira em vertiginosa ascensão.

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UPDATE: blog novo do Bruno – http://aconversinhaeessa.wordpress.com/

Fotos deste post por Lailson Santos.