Texto porVictória Silva
Jornalista, Santos

Sambatera, a banda de um homem só

A sensualidade dos acordes de Frank Sinatra ecoa no primeiro quarteirão de uma das avenidas santistas mais movimentadas.

Enquanto a gaita proclama: “If I can make it there, I’ll make it anywhere. It’s up to you New York, New York”, um grupo se forma em volta de Alfredo Sambatera. Outros, tímidos, procuram os bancos próximos ao músico ou desaceleram o passo para apreciar o som.

Aos 60 anos de idade, Sambatera seduz os ouvidos de quem passa pela Avenida Ana Costa, no bairro em que nasceu, o Gonzaga.

O instrumento utilizado nas apresentações de rua aos finais de semana esconde o talento que é conhecido ao redor do mundo, mas pouco lembrado em seu berço.

Sambatera

O nome Alfredo Luiz Ayres está no Guiness, o Livro dos Recores. Ele toca o maior número de instrumentos ao mesmo tempo: DEZESSETE. E é considerado um dos maiores percursionistas do mundo.

“Aqui, eu faço música para as pessoas, para tornar o dia delas mais leve. Outro dia, uma menina sentou ali e começou a chorar, fui até ela e perguntei o que a emocionava e ela disse que eu tinha tocado a música que a fazia lembrar de seu pai”.

Em seu repertório, estão clássicos do cinema, jazz, rock, MPB e até sertanejo.

Quando não está nas ruas santistas, o músico – provavelmente – pode ser assistido pela TV. O currículo conta com mais de 200 participações, desde os anos 90. Faustão, Altas Horas, Programa do Jó e Sílvio Santos são apenas os que a memória (e o álbum de fotografias) conseguiram lembrar.

Enquanto muitos (e eu me incluo) não conseguem bater palmas no ritmo da música, o santista reproduz sozinho o som da bateria de uma escola de samba inteira (!).

A habilidade resulta de muita dedicação. Ele estuda música desde os 5 anos.

“Aprendi a tocar piano antes de mesmo de ler ou escrever”, lembra-se.

Hoje, toca o piano com uma mão e, com a outra, dá vida ao som do pandeiro.

São inúmeras técnicas criadas ao decorrer de sua carreira, ou, lembradas entre as longas risadas que dá a cada pequena lembrança de seus feitos.

Entre suas apresentações, ali na calçada, disputando com o barulho do trânsito e as vitrines do shopping, dá pra ouvir comentários do tipo: “essa foi a música do meu casamento” ou “vivi 50 anos com o meu marido e sempre dançávamos essa”.

Sambatera

É nostalgia em forma de arte. Arte que dá vida ao passado. Passado que transforma o movimento da tarde de sexta-feira em névoa. Ele tem apenas seus ouvintes e o som da gaita.

E mesmo com o reconhecimento internacional – que o deixa de boca aberta até hoje – e a vivência em palcos de teatros luxuosos e programas de TV de grande audiência, Sambatera não tem dúvidas: “Vai ser difícil parar de trabalhar na rua, pois o carinho que recebo é incrível”.

Só para ter uma ideia do que ele faz como homem-banda: