Texto porVictória Silva
Jornalista, Santos

Por que o Roberto Carlos não quer passar pela estrada de Santos?

É ritual aqui em casa. Fim de dezembro, normalmente alguns dias antes do natal, a minha mãe assiste ao show do Roberto Carlos. Entre uma música e outra, ela se emociona e, em seguida, surge o diálogo:

Por que o Roberto Carlos não quer passar pela estrada de Santos?

– Não sei, presta atenção no show ou para de falar, por favor.

estrada de santosImagem: Marcel Vincenti/UOL

Foi assim até o especial de 2015, quando eu decidi que iria descobrir qual o problema com as nossas estradas. Joguei no Google e não tinha nada no Yahoo respostas, nenhum fórum de fãs ou entrevista questionando.

Até que achei uma biografia não autorizada do Rei, em PDF (sim, “aquela”).

Passei algumas horas lendo a respeito da Jovem Guarda até que descobri que os caras eram da bagunça e gostavam de curtir aqui na Baixada Santista. E foi daí que surgiu a música.

rcImagem: Antônio Milena

Olha só o trecho retirado do livro (o PDF não tinha numeração de páginas, vou ficar devendo esse detalhe):

“Frequentemente, a turma da Jovem Guarda esticava a noitada com a praia. Saíam da boate às quatro horas da manhã e iam para o Guarujá em cinco, seis carros, todo mundo acompanhado, ficando em algum hotel do litoral paulista. “Costumávamos passar várias vezes pelas curvas da estrada de Santos”, afirma Eramos Carlos. “Eu gostava muito de viajar por aquela estrada, embora ali não desse para correr muito”, diz Roberto Carlos.

Pois a canção As curvas da estrada de Santos nasceu exatamente naquele cenário. Foi numa certa noite, no início de 1969, quando Roberto Carlos mais uma vez descia a serra em direção ao Guarujá, onde iria fazer uma apresentação. De repente, ele começou a imaginar a história de um cara sozinho dentro de um carro naquela estrada procurando desabafar toda  a dor de um amor perdido. “Quando voltei do show não fui dormir antes de terminar a música”, lembra, enfatizando que As curvas da estrada de Santos é uma espécie de grito, mas não apenas dele. Fala de uma fossa muito grande que, às vezes, muita gente sente. Daí, o cara procura a estrada de Santos, que é perigosa, para afirmar seu poder. Aquilo é um desafio a que o cara se lança, correndo perigosamente pela estrada de Santos, usando nas curvas uma velocidade que deveria acontecer nas retas.”

Fiquei feliz de saber que não rolou nenhum trauma e é tudo fruto da imaginação dele. Se fosse verdade, a minha mãe e todas as outras fãs aqui da região iriam ficar ainda mais tristes *risos*

Deu vontade de ouvir a música? Dá play: