Texto porVictória Silva
Jornalista, Santos

Empreendedores pretos de Santos – uma galera fod# para prestigiar

Petyta Reis não tem memórias de sua vida que não envolvam a arte.

Inspirada em sua mãe, começou a costurar aos 9 anos e não parou mais. Em 2012, a baiana radicada em Santos, começou a empreender nas horas vagas. A Soul Frida, naquela época, era um complemento ao salário de professora. Atualmente, a loja online de bolsas e acessórios feitos à mão virou seu trabalho em tempo integral e única fonte de rendimentos.

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Ela é uma das 4 entre 10 pessoas negras que empreendem no Brasil.

“É muito difícil viver apenas do trabalho manual, então sempre conciliava a Soul Frida com a educação. Em 2019, pedi demissão da escola onde lecionava, em São Paulo. Pegar estrada e trânsito todos os dias estava acabando comigo… Agora, estou focando apenas na Soul Frida”.

Em sua jornada como empreendedora, Petyta faz de tudo um pouco. É ela quem abraça o design, costura, responde os clientes nas redes sociais e leva os pedidos aos Correios.

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É assim para a maioria dos empreendedores pretos de Santos

De acordo com uma pesquisa realizada pela Pretahub em 2019, 46% dos afro empreendedores foram motivados pelo desemprego ou dificuldade de acesso ao mercado de trabalho. Em outras palavras: começaram sem um aporte financeiro para investir e acabam sobrecarregados com diversas funções.

No negócio da Petyta, por exemplo, ser multitarefa resulta na impossibilidade de administrar um estoque. Todas as peças são feitas sob encomenda. 

Douglas Rocha também faz tudo em seu empreendimento, mas ainda está tentando entender a melhor dinâmica.

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Formado em gastronomia, o santista ficou sem emprego durante a pandemia da COVID-19. As contas pra pagar o fizeram ouvir o conselho que até então ignorava.

Assim nasceu a Arrazo Gastronomia

Inicialmente, pegou apenas encomendas para a Páscoa. Dado o sucesso, Douglas voltou a montar cestas no Dia das Mães e dos Namorados. Gostou da experiência e decidiu aceitar encomendas fora de datas comemorativas.

“A dificuldade me fez perder o medo. Esse início está complicado, porque são muitas pessoas vendendo doces durante a quarentena”, comenta.

Ainda assim, tenho conseguido algumas encomendas”.

Entre os pedidos, estão centos de doces e salgados, além de kits festa para os aniversariantes da quarentena. Tudo feito com o maior carinho e cuidado possível.

Enquanto Douglas alegra os aniversariantes quarenteners, Débora Paixão assumiu outra missão: transformar o veganismo de Santos em algo acessível para além do orçamento de quem vive entre os sete canais da cidade.

Vegetariana desde a adolescência, ela se tornou vegana e encarou a elitização e o racismo do movimento de frente.

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“Quando eu virei vegetariana, comecei a cozinhar muito. Queria descobrir possibilidades e testar todas as receitas”, conta.

Em uma de suas aventuras na cozinha, preparou uma coxinha de jaca e ouviu do padrasto o questionamento: por que você não faz para vender?

O DebVegg surgiu há dois anos e, em resumo, ajuda a financiar os estudos da jovem de 20 anos e também de possibilitar o veganismo.

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Ela vende marmitas congeladas e entrega em quase todas as cidades da Baixada Santista. Além disso, Débora compartilha várias dicas no seu Instagram para quem quer parar de consumir proteína animal e não sabe por onde começar.

Bem-estar e beleza para pessoas pretas

Enquanto Débora trabalha para dar acesso ao veganismo, a dupla de irmãs Diana e Daphne Barbosa tem entre suas missões devolver às cacheadas o amor por seus cabelos.

“Empreender foi algo que aprendemos com nossos pais. Desde cedo, eles nos incentivaram a buscar maneiras para conquistar algo que fosse nosso e que pudéssemos trabalhar por nós mesmas”, explicam.

A jornada de empreendedorismo começou com a irmã mais velha, inicialmente com uma loja de bolsas. O negócio cresceu e na mudança de endereço ganhou um espaço de aluguel de roupas e o salão.

“Durante a faculdade de Engenharia Química, comecei a trabalhar como cabeleireira, o que me auxiliou muito durante meu curso. Acabou que não larguei mais a profissão”.

A demanda das clientes motivou uma nova mudança. Atualmente, o negócio é focado em beleza, estética e no aluguel de trajes de festa.

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Apesar de fazerem parte dos 51% dos que empreendem por vocação e terem o apoio dos pais sempre que precisam, as meninas têm em sua jornada empreendedora episódios de dificuldade. De acordo com elas, conquistar a confiança das clientes foi a primeira barreira. Tanto pelo fato de terem cabelos cacheados quanto pela idade.

“Uma vez, uma cliente de cabelos lisos questionou se ela não sairia do salão com o cabelo duro. Eu achei um absurdo. Naquele momento, decidi migrar mais para área de cachos”.

Uma lista de empreendedores pretos de Santos

Não basta ser antirracista, a gente pode e deve apoiar os empreendedores de Santos consumindo seus produtos e serviços.

Dê preferência a quem já sofre com questões como racismo estrutural e preconceitos no mercado de trabalho. Essa é uma forma de estimular a diversidade no empreendedorismo.

Para isso, o Juicy Santos traz neste conteúdo o Guia de Empreendedores Negros da Baixada Santista. E você pode ajudar a fazer crescer essa lista indicando pequenos negócios gerenciados por pretos da região.

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Acompanhe também a coluna semanal Vozes Pretas, da jornalista Tânia Regina Pinto, que traz debates riquíssimos sobre racismo, negritude e empoderamento.