Projeto Albatroz
Era o inicio da década de 90.
Até então, pouco se sabia sobre os albatrozes e petréis, quando Rogério Menezes, estudante de Oceanografia da UFRG (Universidade Federal do Rio Grande) chegou a Santos trazendo a novidade.
“Eu já me interessava sobre a questão das aves, trabalhava em locais como a Laje de Santos. O Rogério chegou de um cruzeiro (embarcação de pesca em que realizava pesquisas) e trouxe vários albatrozes e petréis mortos. Ninguém sabia o que era exatamente, eu fui chamada para ajudar e identificar”, lembra Tatiana Neves, coordenadora geral do projeto.
“Foi ali que eu fiquei sabendo que a pescaria de espinhel poderia matar aves de forma acidental e fiquei muito sensibilizada com essa informação”.
Os albatrozes
As aves, para quem não conhece, são tipicamente marinhas oceânicas, com maior diversidade no Hemisfério Sul. Seu voo, exuberante, não é normalmente visto nas nossas praias, mas encanta aos que estão em alto mar.
Diferente de outras espécies, tanto os albatrozes quanto os petréis, costumam formar casais e serem fiéis até o fim de suas vidas, mesmo se encontrando apenas no período de reprodução. Além disso, os pássaros – que costumam chegar a 3,5 metros – só começam a se reproduzir com 10 anos de idade.
O tempo de vida médio da espécie é de 80 anos, quando não são capturados incidentalmente.
Todo o problema da captura incidental acontece por que, ao tentarem comer as iscas, os albatrozes ficam presos no anzol e acabam morrendo afogados. “Não é um problema só ambiental, é econômico também. Para os pescadores, cada ave capturada significa um peixe a menos. Existe uma estimativa que a cada albatroz fisgado efetivamente, 20 iscas foram roubadas com sucesso”.
Os pesquisadores do Projeto Albatroz, junto aos pescadores, procuram soluções que evitem essa interação. “Eles sempre estiveram com a gente”, explica Tatiane, sobre os pescadores.
Entre as medidas estão o toriline, uma espécie de espantalho marinho, a coloração das iscas, medidas que fazem o anzol afundar mais rápido e a largada noturna.
“A gente estima que, se usado em todos os barcos e largadas, o toriline, por exemplo, diminuiu a captura em até 80%. Um dado efetivo que podemos apresentar com orgulho é que a o Albatroz Sobrancelha Negra, um dos mais importantes e mais capturados, saiu da lista de espécies em extinção”.
Envolvimento com a sociedade
Apesar de 100% #013, o Projeto Albatroz não é conhecido por todos os santistas. “É até estranho falar, mas primeiro fomos reconhecidos internacionalmente, depois no Brasil e, por último, aqui na cidade”.
Para entrar na memória dos conterrâneos, o projeto deu início a um trabalho de educação ambiental nas escolas.
“Gosto de dizer que nosso trabalho de educação começou com os pescadores. Ali estava a emergência, precisávamos mostrar o motivo daquilo ser importante. A gente dizia que eram aves em extinção e eles pensavam ‘tem vários atrás do barco’. Depois que conseguimos de mostrar a gravidade e que a solução está com eles, pudemos começar a falar com as crianças, que são o futuro, eles que estarão nas posições de liderança futuramente”, explica.
Desde 2011, o pessoal do grupo vai às escolas da cidade. Além de conversar com os alunos há uma capacitação dos professores. “A gente não fala do albatroz, ele é um personagem, o porta-voz da questão da biodiversidade marinha”, explica. Além de Santos, a albatrupe já visitou municípios vizinhos, como Praia Grande, Bertioga e Mongaguá, conversando com mais de 15 mil crianças e 300 professores.
Centro de Visitação
Um dos sonhos da galera do projeto, que ainda não foi realizado, é a construção de um centro de visitação, similar aos do Projeto Tamar (que inclusive é parceiro deles em algumas ações).
“Nós temos bases em 5 estados, poderíamos fazer em qualquer um deles, mas queremos em Santos. Foi aqui que o projeto nasceu, nada mais justo do que premiarmos a cidade com algo desse tipo”, comenta.
“O SPU (Serviço de Patrimônio da União) nos cedeu uma área na Ponta da Praia, próximo ao Mercado do Peixe. Com isso, nós pedimos recursos para a Petrobras, que é nossa patrocinadora, para fazer o centro. Recebemos o recurso, mas o SPU encontrou algum erro nos arquivos e suspenderam a sessão. Prometeram dar outra área, mas o processo ainda está tramitando, desde 2012”, desabafa.
Voluntariado
Outra forma de conhecer e participar do projeto é pelo voluntariado. Além do coletivo jovem, que foi formado por meio de edital, qualquer simpatizante pode se inscrever no site para ajudar.
“O nosso coletivo jovem tem uma faixa etária um pouco mais velha do que os outros projetos participantes, por conta da nossa logística. A gente não tem como receber os pais, eles teriam que trazer os filhos e depois vir buscar”.
O trabalho do pessoal do coletivo é montar um mapa falado da nossa região, para, através de suas memorias afetivas, apresenta-la a jovens de outros projetos que nunca estiveram por aqui. “Eles contaram com oficinas de fotografia, vídeo e outras. A intenção é mostrar como funciona o nosso trabalho”.
Para conhecer ainda mais, é só acessar o site do Projeto Albatroz.