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Por que o Emissário Submarino não tem sombra de árvores?

Talvez esse seja um dos pontos mais democráticos da cidade. Em um domingo qualquer, dar um rolê no Quebra-Mar significa se deparar com uma diversidade incrível de pessoas. A galera da bike, pais e filhos no playground e na fonte luminosa, a tribo do skate, o pessoal da yoga e uma infinidade de gente que aproveita o que o parque tem de melhor. O encanto que um parque em cima da praia provoca em turistas e residentes da cidade não é pouco, não. Mas há uma questão que sempre paira na nossa cabeça (e na dos nossos leitores – que já nos enviaram essa pergunta!) sempre que estamos por lá: por que o Emissário Submarino tem tão poucas árvores?

Fomos atrás da resposta.

Primeiramente, vamos começar do começo e explicar o básico.

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O que é um emissário submarino e por que existe um em Santos?

De acordo com informações da Companhia Ambiental do Estado de São Paulo (Cetesb), emissários submarinos são sistemas de tratamento e disposição de esgotos domésticos no meio marinho. Eles são usados para afastar os esgotos da costa e aproveitar a enorme capacidade de depuração do oceano, por conta de seu enorme volume de água.

www.juicysantos.com.br - por que não tem árvore no emissario submarinoFoto: Carlos Nogueira/PMS

Eles precisam ficar sempre em áreas abertas, que favorecem a circulação oceânica. Além disso, devem estar o mais distante possível da costa e o mais profundo possível. Além disso, os emissários devem passar por licenciamento ambiental frequente.

A tubulação transporta o esgoto tratado do município até o mar, a uma profundidade de 12 metros. Difusores lançam os dejetos, fazem um pré-condicionamento e os dispersam pela coluna d’água.

www.juicysantos.com.br - emissario submarino

Apesar de representarem uma solução eficaz para cidades que não possuem infraestrutura para tratar o esgoto de forma convencional, há uma necessidade de regulação e verificação constante dos impactos desses emissários no ambiente marinho, para garantir a sustentabilidade.

Hoje em dia, em SP, existem em funcionamento 8 emissários submarinos de esgotos domésticos, sendo 5 na Baixada Santista:

  • três em Praia Grande
  • um em Santos
  • um no Guarujá.
  • os outros três estão localizados no litoral norte, sendo dois em São Sebastião e um em Ilhabela

O que torna o Emissário Submarino de Santos tão especial é ser o único com uma função além da sua original.

Quando a rede de esgotos – os canais de Santos – já não estava dando conta da coleta, surgiu a necessidade de uma solução para melhorar a eficiência desse processo. Vale lembrar que os canais são um projeto de Saturnino de Brito no século XIX. E que essa obra fantástica da engenharia foi essencial para o desenvolvimento de Santos e do combate à epidemia de febre amarela que assolava nosso território naquela época.

www.juicysantos.com.br - emissario submarino

O equipamento da praia do José Menino foi inaugurado em 1978 com a presença do então presidente, Ernesto Geisel. Custou cerca de US$ 10 milhões. E tinha como objetivo melhorar a qualidade das águas das praias de Santos, que já estavam consideradas impróprias para banho.

No entanto, ele logo se tornou motivo de polêmica. A principal questão era o que fazer com a plataforma de mais de 4 km acima dos protetores das tubulações. Por anos e anos, houve a ideia de se fazer um parque municipal no local. No entanto, persistia a dúvida se a plataforma seria um risco para a segurança e o meio ambiente.

www.juicysantos.com.br - emissario submarino

Para saber a história detalhada ao longo dos anos, recomendamos a leitura desta seção do site Novo Milênio.

Sabesp explica que as redes de esgotos e os canais de Santos nunca fizeram parte de um mesmo sistema. O projeto de saneamento de Saturnino de Brito, desenvolvido de 1905 a 1912, se baseia justamente no princípio de separar a coleta dos esgotos domiciliares, do fluxo das águas das chuvas, rios e córregos.

A partir desta época, as redes de esgoto já foram implantadas separadamente da construção dos canais de Santos, criados utilizando-se do traçado dos rios que cortavam a cidade. Antes disso, não existia infraestrutura alguma de saneamento. Por isso, era um período de muitas mortes por doenças epidêmicas.

Atualmente, a Sabesp mantém equipes especializadas que, ao longo do ano, realizam testes e inspeções para identificar e corrigir infiltrações e irregularidades nas redes e ligações de esgoto, garantindo que o sistema de esgotamento sanitário funcione de forma eficaz separadamente das instalações municipais para a drenagem das águas pluviais, que são de responsabilidade da administração municipal.

Bom, voltemos ao parque…

Em 2004, o então prefeito João Paulo Tavares Papa anunciou que a plataforma poderia ter um projeto de Oscar Niemeyer ainda sem função definida na época. O arquiteto faleceu 8 anos mais tarde.

A Sabesp chegou a anunciar que construiria um museu no local, dedicado à história do saneamento em Santos. Porém, o projeto não foi adiante. Também se falou que o Emissário receberia o Museu Pelé, que hoje fica no Centro Histórico. Até parque temático de Beto Carrero se aventou que existira nesse local…

Em 2006, a Prefeitura de Santos recebeu a autorização para transformar a área em um parque de lazer. Em seguida, iniciaram-se as buscas por verba, licenciamento ambiental e o projeto em si, elaborado pelo arquiteto Ruy Ohtake.

Na época, ele deu uma declaração muito interessante que vislumbrava um futuro solar para o Quebra-Mar:

“Na opinião de Ruy Ohtake, a concepção do parque soluciona o “desperdício urbano” de se deixar sem uso um lugar tão bonito e, socialmente, tão interessante. Uma plataforma que avança para o mar, em meio a um jardim tão extenso, é uma coisa única no mundo” (trecho de matéria do jornal A Tribuna, replicada no site Novo Milênio) 

Batizado de As Ondas – Santos 21, a ideia era integrar lazer, esporte, educação e uma vista linda. A escultura de Tomie Ohtake, inclusive, se tornou um símbolo visual importante da cidade.

A médio prazo, o Emissário (hoje conhecido como Novo Quebra-Mar) contemplou tudo isso, inclusive com ciclovia integrada à da orla, playground e espaço para competições de surfe.

www.juicysantos.com.br - emissario submarinoFoto: Carlos Nogueira/PMS

O inauguração do novo cartão postal da cidade aconteceu em 2009, com o nome de Parque Municipal Roberto Mario Santini, após mais de 30 anos de imbróglio.

Agora, vamos falar sobre as árvores. No projeto inicial de Ohtake, segundo matéria do jornal A Tribuna, cerca de 50% da área seria composta por jardins e árvores.

Mas quem frequenta o Quebra-Mar sabe que, em dias de calor, falta um refresco.

Então, por que o Emissário Submarino não tem sombra de árvores?

Perguntamos para a Secretaria de Meio Ambiente de Santos os motivos para essa ausência.

Segundo o órgão, existem hoje 195 árvores na área do Novo Quebra-Mar (plataforma do emissário submarino) e outras 21 árvores no jardim da orla em frente ao parque, totalizando 216 exemplares de quase 30 espécies. A maior parte delas é de chapéu de sol (56), mas também há coqueiros, palmeiras, ipês-rosa, goiabeiras, pândanos e outras espécies.

E há algumas dificuldades intrínsecas ao plantio e manutenção dessas espécies na paltaforma. Entre elas, estão as condições do terreno, formado principalmente pelo enrocamento de pedras. Acima deste conjunto de blocos, há uma camada fina de areia de praia e, em algumas partes, solo importado para garantir a sobrevivência de vegetação.

Ou seja, um ambiente complicado para plantas e árvores prosperarem.

www.juicysantos.com.br - emissario quebra mar em santos

Pela falta de solo e  por estar acima do mar, não há condições de desenvolvimento de uma arborização consistente na área.

E ainda: a camada de pedras também não permite muito acúmulo de água, como ocorre num solo normal. A drenagem ocorre de forma mais rápida, tornando o local bem árido.

Também influenciam no paisagismo a incidência de ventos fortes e constantes vindos do mar. Isso exige o escoramento inicial da vegetação até o seu desenvolvimento pleno.

Apesar dos desafios, a Prefeitura de Santos explicou que está em curso um projeto de enriquecimento arbóreo da área, que prevê novos plantios junto com a entrega da revitalização total do parque, iniciada em 2020.

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