Santos dos anos 60, pelos olhos da Dona Eliza
“É grande o movimento de navios aqui nessa época do ano, né?” comentou a senhora grisalha, parada ao meu lado. As marcas de expressão mostravam que ela tinha muitas histórias para contar e o sorriso, assim como a forma que puxou assunto quando me aproximei, que queria alguém para compartilhá-las.
“Lembro-me disso aqui no inicio dos anos dourados, não era assim. Tínhamos menos árvores, mas o número de carros era bem menor. Imagina que quando chegava navio aqui era um acontecimento, todos vinham ver”, emendou a dona de um perfeito coque, que no meu imaginário iria preparar um bolo delicioso para os netos quando chegasse em casa.
Dona Eliza – que só me disse seu nome depois de muita conversa – relembrou ainda a pavimentação da Av. Bartolomeu de Gusmão e ilustrou aquela região em sua infância. Sem perceber, atiçou a minha curiosidade sobre o assunto e hajam perguntas!
Em suas lembranças estavam à chegada do transatlântico Augustus, ao qual ela diz “queria ter embarcado, mas só pude observa-lo indo, igual estou fazendo agora. Era lindíssimo”.
“Quando mais velha, costumava vir aqui paquerar, hoje em dia vocês só andam com esses celulares, olham as coisas através das lentes, perdem a verdadeira beleza, um desperdício”, puxou minha orelha, ao falar da maior diferença entre as pessoas que estavam ali naquele momento, e as de sua época.
Ela não aceitou tirar uma foto, disse que gosta que lembrem-se dela por suas histórias e criem sua fotografia de forma involuntária e inconsciente, mas deixou que eu escreve-se a seu respeito. Mais que isso, me deu uma aula de história e sabedoria.
Deixo aqui o meu muito obrigada, mesmo que ela provavelmente não o veja.
Foi um prazer conhecer a Santos dos anos 60, pelos olhos da Dona Eliza.
* Fotos tiradas do site Novo Milênio.