Os resistentes trólebus de Santos
Ano que vem vai se completar meio século da circulação de trólebus em Santos. Os primeiros, importados da Itália, começaram a operar em 1963. De lá para cá, houve momentos em que os elétricos estiveram mais presentes na paisagem santista. Hoje, se não for aprovado um pedido de tombamento que tramita na burocracia estatal, há sério risco de o sistema ser extinto de vez.
Um grande entusiasta da preservação desse patrimônio – que não é só material, é cultural da cidade – era o historiador Waldir Rueda que, infelizmente, morreu em agosto passado. Foi-se cedo, aos 44 anos de idade. Rueda, ainda criança viu, portanto, o sistema de trólebus nascer em Santos.
Nos anos 80, a frota de trólebus em Santos era, proporciionalmente, uma das maiores do País. Em torno de 40 carros circulavam em seis linhas. No final da década anterior, o governo federal, por meio da então Empresa Brasileira de Transportes Urbanos (EBTU), implantou mecanismos de incentivo aos municípios na implantação de redes de ônibus elétricos. Santos foi contemplada.
Por um certo tempo, a tarifa das linhas de trólebus era até menor que o preço da passagem das linhas servidas por veículos a diesel. A rede aérea foi conservada, modernizada e ampliada. Havia um projeto de extensão do sistema até a Zona Noroeste.
Mas aí chegou a década de 90, quando prevaleceram no País as teorias neoliberais, segundo as quais o Estado deveria se retirar das atividades na sociedade. Naqueles tempos foram extintos o BNH, a Embrafilme, a indústria naval brasileira, políticas públicas nacionais de infraestrutura, inclusive urbana. Ou o “mercado” assumia ou se ficava à deriva.
Sem os programas federais de fomento ao transporte (financiamentos, incentivos fiscais, contrapartidas de recursos), manter os trólebus ficou difícil. Não só em Santos: em algumas mais, em outras menos, mas em todas cidades onde circularam elétricos o sistema foi sucateado e, por vezes, eliminado.
Em Santos uma linha, a 20, e sua meia-dúzia de trólebus Mafersa (montadora de trens e ônibus que também foi extinta no período das práticas neoliberais) resistem. São tão partes da paisagem da Ana Costa como as palmeiras imperiais do canteiro central da avenida. Apesar de fabricados há quase 25 anos, os Mafersa transportam passageiros do Gonzaga à Cidade em silêncio, sem solavancos, sem lançar fumaça no ar.
O tombamento dos trólebus de Santos é imprescindível. Não podemos, porém, deixar essa história a mercê dos interesses do mercado, da concessionária privada, a Viação Piracicabana – que, a coletividade santista bem sabe, tem feito o que quer no transporte da região. (Aliás, quando assumiu os serviços em 1998 o contrato de concessão previa a ampliação do sistema. Foi feito o contrário: toda rede aérea foi retirada, sob o nariz do poder público).
By: Wagner de Alcântara Aragão – @waasantista